Alguns testemunhos são
taxativos: embora se tenha relacionado com mulheres, o rei que transferiu a
corte para o Brasil para escapar ao longo braço de Napoleão teve sobretudo
paixões masculinas.
Luís Almeida Martins
Imagine um homem gordo de grande queixada e beiço descaído ao lado de uma mulher de olhos esbugalhados, nariz grande, lábios finos e queixo de rabeca. Já imaginou? Então está a “ver” D. João VI e D. Carlota Joaquina. Este régio par da viragem do século XVIII para o século XIX formava um casal fisicamente estranho, disso não restam dúvidas. Mas como quem vê caras não vê corações, isso poderia não querer dizer nada, e normalmente não quer. Não é o caso. Lendários nas suas fraquezas e misérias, os dois ficaram na História de Portugal e do Brasil como os patriarcas desavindos de uma “família Adams” de rebentos podres que deu no entanto alguns frutos sãos – como o liberal D. Pedro IV e a instituição política da identidade brasileira.
Mas o que nos interessa agora é D. João VI. Fugida
das Invasões Francesas, a Corte portuguesa transferiu-se para o Brasil em
1807-1808. As proverbiais desavenças do rei e da rainha atravessaram o
Atlântico juntamente com a comitiva e instalaram-se na terra brasileira, onde o
casal continuou a levar a mesma vida de sempre: em palácios separados. Enquanto
a Corte esteve em Salvador, D. João e a mãe, D. Maria I (desde há muito atacada
de demência), ficaram instalados no palácio do governador, enquanto Carlota
Joaquina se aboletava no Palácio da Justiça. Chegados ao Rio de Janeiro, meta
da viagem, D. João escolheu para morar o Palácio de São Cristóvão, enquanto
Carlota mandava colocar os tarecos num casarão da praia de Botafogo.

Lobato já em Lisboa era íntimo do príncipe, que em cartas trocadas se lhe dirigia como “Meu Francisco” e até como “Meu amor”. Carlota Joaquina odiava o tal Lobato, cuja existência bastante contribuiu para o velho atrito entre marido e mulher.
Mas não foi esta, ao que parece, a única atração
masculina de D. João VI. Conta-se que, no Rio de Janeiro, um tal Matias
António, barão de Magé, dormia num quarto contíguo ao do rei e costumava reconforta-lo
nas frequentes noites de trovoada tropical. D. João tinha muito medo dos
trovões. Carlota Joaquina por sinal, também tinha, e cada um lá ia encontrando
a melhor forma de vencer esse pavor.
Construído em 1803 pelo rico comerciante português Elias Lopes, o Palácio de São Cristóvão seria mais tarde a residência dos dois imperadores do Brasil independente, Pedro I e Pedro II, filho e neto de D. João VI e de Carlota Joaquina. Hoje alberga o Museu Nacional do Brasil, fundado pelo próprio D. João VI noutro local.
Título e Texto: Luís Almeida Martins, in “365 DIAS com histórias da HISTÓRIA de
PORTUGAL”, páginas 373/374.
Digitação: JP
Digitação: JP
Olá Jim,
ResponderExcluirAcho que estás confiando no historiador errado. Sempre soube e isso foi mais uma vez confirmado no livro do Laurentino Gomes, 1808, que D.João VI esteve só em Salvador quando de sua vinda ao Brasil. Carlota Joaquina e sua sogra assim como o príncipe herdeiro D. Pedro vieram em naves separadas, portanto, nem a Princesa Regente nem sua sogra louca estiveram em salvador, seus navios continuaram direto para o Rio e por isso lá chegando antes de D. João VI.
Outra afirmação errada desse historiador é dizer que D. João VI escolheu o Paço de São Cristóvão enquanto a horrorosa escolhia as bandas de Botafogo para viver, é que, D.João viveu mesmo em casas improvisadas, tomadas de seus donos à força e às pressas, enquanto o Paço da Cidade era construído a toque de caixas e a Quinta da Boa Vista abrigava apenas um arremedo de um casarão. A Quinta da Boa Vista foi comprada por D.João VI para o casamento de D. Pedro com D. Leopoldina e esses viveram lá apenas em um pequeno pedaço do Paço, o resto todo ainda estava para construir e foi em meio a essa obra que D. Leopoldina viveu, teve 7 filhos e morreu. Abraço, PFdeM
Caro Paulo,
ResponderExcluirNão sei quais as fontes de Luís Almeida Martins, já devolvi o livro.
Publiquei porque achei interessante.
Julgo temerário afirmar que um historiador está certo, o outro errado.
Abraços./-
O Matias António, Barão e Visconde de Magé, que refere, era o irmão mais velho de Francisco Lobato, Barão e Visconde de Vila Nova da Rainha.
ResponderExcluirwww.reifazdeconta.com
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