segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A socialista Michelle Bachelet vence e convence no Chile

Francisco Vianna
Com promessas de acelerar reformas políticas e sociais, aumentar os impostos para encurtar a desigualdade entre pobres e ricos no Chile, a socialista Michelle Bachelet obteve um triunfo indiscutível e extraordinário nas eleições presidenciais levadas a cabo na semana passada no Chile. Seu mandato se estenderá de março de 2014 a março de 2018.

A Dra. Michelle Bachelet, com sua nova coalizão, venceu e convenceu nos dois turnos para se reeleger Presidente
Bachelet é médica pediatra, divorciada, mãe de três filhos, e que diz ser agnóstica, venceu sua opositora, a conservadora Evelyn Matthei, com uma enorme diferença de 62,15% contra 37,84% dos votos válidos, quando já foram apuradas 99,85% das urnas no país andino. É a maior diferença de votos obtida desde a eleição de Eduardo Frei Montalva, com 56% dos votos, em 1964.

O discurso de mudança da candidata socialista surtiu efeito, em grande parte pelo seu bom governo anterior – entre 2006 e 2010, usando um pacto político abrangente chamado “concertación” (acerto). Bachelet conseguiu como presidente do Chile implantar o programa da ONU para a mulher, o que lhe angariou um reconhecimento internacional que poucos chefes de estado latino-americanos alcançaram. O Chile, hoje é o país que tem melhor escolaridade e tem a melhor qualidade de vida da América Latina, em grande parte graças à ditadura do falecido Augusto Pinochet e em parte ao bom governo da Dra. Michelle que, mesmo sendo socialista, reforçou a democracia pós Pinochet no país.

Isso permitiu que ela dissesse ao longo de sua demorada campanha: “O Chile está em boas condições econômicas e políticas – e, pois, sociais – e, afinal, está na hora de se fazer as mudanças necessárias para que se cotinue a reduzir a distância entre os mais ricos e os mais pobres de forma que haja ganhos tanto para o capital quanto para os trabalhadores e, portanto, com aumento da geração de riqueza”.
                              
Sem, no entanto, entrar em detalhes como ela pretende conseguir cumprir suas promessas eleitorais, no seu primeiro discurso, com a rouquidão das comemorações, da sacada de um hotel no centro de Santiago, ela disse a uma multidão de cerca de dez mil pessoas que se acotovelavam para vê-la e ouvi-la: “Se eu estou aqui é porque cremos que o “Chile de Todos” precisa surgir. Não será fácil, mas, desde quando é fácil mudar um país”?        

O presidente de ‘centro-direita’ (seja lá o que isso signifique), Sebastián Piñera, cumprimentou rapidamente a candidata eleita, com a qual se reúne hoje, segunda-feira, para conversar sobre a transmissão do poder e traçar detalhes da posse que ocorrerá em 11 de março de 2014.

Os anseios de mudança da maioria da sociedade chilena foram plasmados por protestos de multidões de estudantes que eclodiram em 2011, para exigir uma educação gratuita e de qualidade, que acabou por despertar em milhões de pessoas a consciência de que muitos tinham se endividado demais junto aos bancos em função dos chamados “empréstimos estudantis”. Desde então, o descontentamento se estendeu a outros âmbitos, bem como os abusos das grandes lojas de departamentos e do sistema privado de aposentadorias, entre outros motivos.

Bachelet confirmou de forma indiscutível, no segundo turno, a sua vitória sobre Matthei, no primeiro turno, quando obteve 46,67% contra 25,01% dos votos válidos. Matthei fez seu discurso e, entre lágrimas, disse: “Claro que felicito a Dra. Michelle. Desejo a ela pleno êxito em seu governo, e meu desejo mais profundo e honesto é que o faça bem feito, como quando governou antes. Ninguém que ame o Chile pode desejar o contrário”.

A candidata do governo, Evelyn Matthei, desejou um bom governo a Bechelet e disse que vai torcer por ela
A presidente eleita compõe uma nova coalizão de centro-esquerda da qual faz parte o Partido Comunista, que prometeu tornar a educação e o ensino gratuitos e ao mesmo tempo de boa qualidade – algo que definitivamente os governos socialistas não conseguem fazer na América latina – e fazer uma reforma tributária que aumente a arrecadação de impostos das empresas (coisa que também costuma matar “a galinha dos ovos de ouro” nos sistemas socialistas). Da mesma forma, a coalizão de Michelle promete proteger o ambiente e reformar a constituição do país, que foi legada pelo Gal. Augusto Pinochet em seu governo ditatorial (1973-1990) e que impede a participação de partidos nanicos. A ditadura de Pinochet, implantada por um golpe militar que provocou, em última instância, o suicídio do socialista Salvador Allende, interrompeu algumas políticas deste mandatário, como a reforma agrária e a educação pública no país.

Michelle Bachelet, de 62 anos, terá uma ampla maioria no Congresso, mas, a julgar pelo que fez à frente da “concertación”, deverá acercar-se de uma equipe mais baseada na competência e na probidade do que em compromissos ideológicos. Mesmo sendo socialista, parece pouco provável que ela se imiscua com a atual esquerda sul-americana que tanto mal tem feito à Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador, Brasil e outras.

O tamanho da economia chilena é pequeno, mas a distância entre os mais pobres e os mais ricos no país vêm diminuindo, sem prejuízo destes e com ganhos daqueles, coisa que a Doutora Bachelet não há de querer alterar, senão melhorar.
O aumento da carga tributária que ela quer é da ordem de 8,2 bilhões de dólares, e os ajustes institucionais não preocupam nem empresários, nem trabalhadores.

Os chilenos, por diversas vezes, já deixaram claro que não querem seguir um camino muito diferente do que seguem atualmente e esperam que a nova mandatária mantenha a sua seriedade habitual no trato da coisa pública – da qual jamais se beneficiou pessoalmente – e tenha o bom senso de não imitar a maioria dos presidentes “sucialistas” latino-americanos, que estão multimilionários e a maioria nunca fez qualquer distinção entre a propriedade pública e a privada.

Muita gente, no Chile, votou em Michelle Bachelet pela sua reconhecida seriedade e probidade e por suas propostas claras de beneficiar de alguma forma a camada mais pobre da população. Bachelet propôs suas reformas frente a um virtual imobilismo de Matthei, que queria continuar as políticas de Piñera.

A reforma da Carta Magna também busca acabar com o monopólio da água – algo muito sério num país de poucos aquíferos –, o fim de um sistema que proporciona enormes lucros aos grandes empresários sem um pagamento de impostos proporcional, além de um sistema previdenciário privatizado que muitos consideram injusto e um sistema eleitoral que marginaliza as minorias políticas.

A oposição à Bachelet culpa a atual desaceleração econômica no Chile aos anúncios de reformas de Bachelet e diz não entender por que ela quer desmontar tudo o que foi feito no governo de Piñera. Também criticam a sua intenção de descriminalizar o aborto em certos casos e de promover uma discussão sobre o casamento. 

Essa foi a primeira eleição geral depois de se aumentou o colégio eleitoral no Chile, de 8 para 13,5 milhões de eleitores, numa população de 17 milhões de almas, mas que se aboliu a obrigação de votar. Isso fez com que apenas 50 por cento dos eleitores comparecessem às urnas no primeiro turno. No segundo turno o comparecimento foi de 52%, para definir também a primeira eleição chilena em que os candidatos eram duas mulheres, politicamente experientes e capazes.

Meu desejo é que Michelle Bachelet não deixe de ser uma socialista para se tornar uma "sucialista" e se deixe corromper pela sua má vizinhança...
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 16-12-2013
Grifos: JP

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