O Ministro das Relações
Exteriores chinês, Wang Yi, chegou a Israel ontem, terça-feira à noite, para
uma visita de alto perfil, o que é esperado, pela primeira vez, para se
concentrar em questões políticas, como o Irã e o processo de paz na região,
além de esforços para promover a cooperação econômica.
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O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi,
discursou na ONU em setembro. Foto: ONU/Paulo Filgueiras
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Na quarta-feira de manhã, Wang
vai primeiro viajar para Belém e Ramallah, onde deve se reunir com o presidente
da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e outros altos funcionários palestinos.
Por volta das 16:00, Wang vai chegar a Jerusalém para conversações com o
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Wang marcou se encontrar com o
ex-presidente Shimon Peres, em sua residência, na quinta-feira de manhã antes
de ir para o museu do Holocausto Yad Vashem, onde ele vai colocar uma coroa de
flores no Saguão da Lembrança. O Ministro das Relações Exteriores israelense,
Avigdor Liberman, então, vai hospedá-lo para o almoço, após o que o visitante
vai participar de um seminário sobre o processo de paz com os acadêmicos
israelenses e palestinos. Na sexta-feira, Wang planeja visitar a Cidade Velha
de Jerusalém e visitar o Muro das Lamentações antes de sair de Israel para a
Argélia.
"O Primeiro-Ministro
israelense declarou que a modernização dos laços com a China tornou-se uma
prioridade nacional", segundo um alto funcionário de Tel Aviv. “Caso a
economia de Israel continue a crescer como ocorre no momento, temos que
expandir a nossa cooperação com a Ásia Oriental e, especificamente, com a China
o mais rápido e adequadamente possível".
A ameaça nuclear iraniana e o
esforço atual para acabar com o conflito palestino-israelense, também serão
discutidos, acrescentou o funcionário, mas o foco principal de Netanyahu será
mesmo o de alargar a cooperação bilateral, principalmente na área de comércio e
da alta tecnologia.
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O ex-ministro das Relações Exteriores da China, Yang
Jiechi, com o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, em 2009, foto:
Moshe Milner/GPO/Glash90
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Esta primeira visita à região
"tem como objetivo por em prática a proposta de quatro pontos (chinesa) do
presidente Xi Jinping para a solução do problema da Palestina, criada em maio
deste ano, para promover a paz e as negociações entre Palestina e Israel",
disse Wang, no domingo. O Plano de paz de Xi é baseado na criação de um Estado
Palestino com base nas fronteiras pré-existentes em 1967 e com Jerusalém
Oriental sendo a sua capital, desde que respeite "o direito de Israel de
existir e as suas legítimas preocupações de segurança". Só não disse como
os palestinos vão conseguir manter um estado soberano sem produzir um PIB pelo
menos suficiente para tal... E não dependa do envio de recursos da ONU, dos EUA
e de outros países, como ocorre atualmente para a manutenção da ANP, um
arremedo de estado palestino mantido pelo dinheiro dos outros.
Wang fez tais comentários
depois de uma conversa com o secretário de Estado dos EUA John Kerry, durante a
qual os dois discutiram principalmente o Oriente Médio. "A China acredita
que na situação atual, tanto a Palestina como Israel deveriam aproveitar a
oportunidade, aderir ao caminho das negociações de paz, tomar medidas mais
práticas, construir e acumular confiança mútua, e se esforçarem para fazer
progressos substanciais nas negociações de paz, logo possível", disse
Wang, evitando tocar no ponto nevrálgico econômico citado acima.
Além de reuniões com líderes
políticos israelenses, um evento chave na agenda de Wang, esta semana, é o
seminário acadêmico de quinta feira próxima sobre o processo de paz. Vinte
acadêmicos israelenses e palestinos foram convidados a participar, três dos
quais se dirigirão ao ministro das Relações Exteriores da China e sua comitiva
a fazer recomendações sobre como Pequim deve se envolver na tentativa de acabar
com o conflito.
"O impulso principal da
visita é político, com o foco no Irã, e no processo de paz com os
palestinos", confirmou uma fonte familiarizada com as relações
sino-israelense, acrescentando que a liderança chinesa está interessada em
ganhar mais noção sobre as questões mais sensíveis do Oriente Médio. Pequim
começou a se interessar em desempenhar um papel mais marcante na região há
vários anos. Há cerca de três meses, a elite política do politiburo comunista
de Pequim publicou uma diretiva para as instituições de ensino, pedindo a elas
que fornecessem formadores de opinião política para uma compreensão mais
profunda da região, disse a fonte.
Sendo membro permanente do
Conselho de Segurança das Nações Unidas, a China sente que Washington está cada
vez mais atenta e presente na Ásia e, aos poucos, abandonando o Oriente Médio à
sua própria sorte, e Pequim sente, assim, a necessidade de preencher o vazio de
poder que vem se formando na área, segundo analistas. Além disso, a China está
interessada na região porque precisa de petróleo com mais urgência do que a
Rússia ou os EUA.
A China se dá conta de que
Israel é um país de ação global e, assim, busca fortalecer o seu engajamento
com Israel – disse a fonte – acrescentando que dentro de 10 a 12 meses Beijing
pode apresentar uma política mais clara para o Oriente Médio. Que caminho essa
nova política vai seguir é ainda incerto, disse a fonte, mas se espera que, no
entanto, não seja demasiado ‘mão pesada’ para ambos os lados.
Netanyahu, que visitou a China
em maio e se reuniu com o Primeiro-Ministro Li Keqiang, certamente está
tentando ver, no gigante asiático, o lado bom das coisas. Além de receber,
agora, as autoridades chinesas com manifesta simpatia e a declarar seus laços
bilaterais como sendo uma prioridade nacional israelense, o chefe de estado
israelense parece estar também cedendo um pouco à pressão chinesa, mesmo à
custa de sua posição e prestígio domésticos numa questão que ele geralmente é
um campeão: lutar contra o terrorismo. No chamado caso do Banco da China, ele
tinha que escolher entre o apoio às vítimas do terrorismo palestino ou
prejudicar os laços com Pequim.
No mês passado, mudou-se para
Jerusalém e anulou uma intimação emitida a um ex-oficial de segurança
israelense para depor como testemunha num processo judicial interposto por
famílias narcotraficantes das vítimas de atentados suicidas que acusam o Banco da
China de facilitar o financiamento do terrorismo através de contas nos EUA.
Os críticos dizem que, depois
de inicialmente ter encorajado as reivindicações contra o banco, Israel
mostrou-se duvidoso quanto a sua atitude, temendo que isso poderia prejudicar
os valiosos laços comerciais com a China, se permitisse que o ex-funcionário,
que jurou segredo, fosse intimado a depor.
Em 8 de novembro último,
Netanyahu se reuniu com o membro do Comitê Central do Politiburo do Partido
Comunista da China, Meng Jianzhu. Netanyahu disse que a visita de hoje "é
um sinal da melhora rápida das relações entre Israel e China", disse
elemento de seu escritório.
Mais tarde, naquele mês de
novembro, a delegação do Partido Comunista da província de Hebei fez uma
"visita de boa vontade" a Israel, durante a qual se reuniu com algumas empresas de alta
tecnologia e com o Conselho Econômico Nacional no Gabinete do Primeiro-Ministro
Netanyahu. O embaixador da China em Tel Aviv, Gao Yanping, também falou à
delegação, dizendo que "a cooperação pragmática entre China e Israel vai chegar a um novo patamar".
Numa época em que Rússia e Irã
disputam por trás das cortinas uma maior influência no Oriente Médio,
aproveitando o desinteresse aparente dos EUA, a jogada de Benjamin Netanyahu de
trazer a China para o meio do teatro de operações do embate geopolítico do
Oriente Médio é vista por muitos analistas como uma medida de alto valor
estratégico para Israel.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 18-12-2013
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