quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

China e Israel esquecem seus problemas diplomáticos e tentam uma reaproximação

Francisco Vianna

O Ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, chegou a Israel ontem, terça-feira à noite, para uma visita de alto perfil, o que é esperado, pela primeira vez, para se concentrar em questões políticas, como o Irã e o processo de paz na região, além de esforços para promover a cooperação econômica.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, discursou na ONU em setembro. Foto: ONU/Paulo Filgueiras
Wang, que se tornou o principal diplomata de Pequim, em março, também está agendado visitar os territórios palestinos, a Argélia, o Marrocos e a Arábia Saudita. Esta é a primeira viagem a Israel de um ministro das Relações Exteriores chinês, desde que Yang Jiechi visitou o país judeu em 2009.

Na quarta-feira de manhã, Wang vai primeiro viajar para Belém e Ramallah, onde deve se reunir com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e outros altos funcionários palestinos. Por volta das 16:00, Wang vai chegar a Jerusalém para conversações com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Wang marcou se encontrar com o ex-presidente Shimon Peres, em sua residência, na quinta-feira de manhã antes de ir para o museu do Holocausto Yad Vashem, onde ele vai colocar uma coroa de flores no Saguão da Lembrança. O Ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Liberman, então, vai hospedá-lo para o almoço, após o que o visitante vai participar de um seminário sobre o processo de paz com os acadêmicos israelenses e palestinos. Na sexta-feira, Wang planeja visitar a Cidade Velha de Jerusalém e visitar o Muro das Lamentações antes de sair de Israel para a Argélia.

"O Primeiro-Ministro israelense declarou que a modernização dos laços com a China tornou-se uma prioridade nacional", segundo um alto funcionário de Tel Aviv. “Caso a economia de Israel continue a crescer como ocorre no momento, temos que expandir a nossa cooperação com a Ásia Oriental e, especificamente, com a China o mais rápido e adequadamente possível".

A ameaça nuclear iraniana e o esforço atual para acabar com o conflito palestino-israelense, também serão discutidos, acrescentou o funcionário, mas o foco principal de Netanyahu será mesmo o de alargar a cooperação bilateral, principalmente na área de comércio e da alta tecnologia.

O ex-ministro das Relações Exteriores da China, Yang Jiechi, com o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, em 2009, foto: Moshe Milner/GPO/Glash90
Mas, de acordo com fontes familiarizadas com o planejamento da visita de Pequim, Wang e sua comitiva estão voando para aqui principalmente para aprender mais sobre o Oriente Médio, em antecipação a um maior envolvimento da China nos assuntos regionais.

Esta primeira visita à região "tem como objetivo por em prática a proposta de quatro pontos (chinesa) do presidente Xi Jinping para a solução do problema da Palestina, criada em maio deste ano, para promover a paz e as negociações entre Palestina e Israel", disse Wang, no domingo. O Plano de paz de Xi é baseado na criação de um Estado Palestino com base nas fronteiras pré-existentes em 1967 e com Jerusalém Oriental sendo a sua capital, desde que respeite "o direito de Israel de existir e as suas legítimas preocupações de segurança". Só não disse como os palestinos vão conseguir manter um estado soberano sem produzir um PIB pelo menos suficiente para tal... E não dependa do envio de recursos da ONU, dos EUA e de outros países, como ocorre atualmente para a manutenção da ANP, um arremedo de estado palestino mantido pelo dinheiro dos outros. 

Wang fez tais comentários depois de uma conversa com o secretário de Estado dos EUA John Kerry, durante a qual os dois discutiram principalmente o Oriente Médio. "A China acredita que na situação atual, tanto a Palestina como Israel deveriam aproveitar a oportunidade, aderir ao caminho das negociações de paz, tomar medidas mais práticas, construir e acumular confiança mútua, e se esforçarem para fazer progressos substanciais nas negociações de paz, logo possível", disse Wang, evitando tocar no ponto nevrálgico econômico citado acima.

Além de reuniões com líderes políticos israelenses, um evento chave na agenda de Wang, esta semana, é o seminário acadêmico de quinta feira próxima sobre o processo de paz. Vinte acadêmicos israelenses e palestinos foram convidados a participar, três dos quais se dirigirão ao ministro das Relações Exteriores da China e sua comitiva a fazer recomendações sobre como Pequim deve se envolver na tentativa de acabar com o conflito.

"O impulso principal da visita é político, com o foco no Irã, e no processo de paz com os palestinos", confirmou uma fonte familiarizada com as relações sino-israelense, acrescentando que a liderança chinesa está interessada em ganhar mais noção sobre as questões mais sensíveis do Oriente Médio. Pequim começou a se interessar em desempenhar um papel mais marcante na região há vários anos. Há cerca de três meses, a elite política do politiburo comunista de Pequim publicou uma diretiva para as instituições de ensino, pedindo a elas que fornecessem formadores de opinião política para uma compreensão mais profunda da região, disse a fonte.

Sendo membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a China sente que Washington está cada vez mais atenta e presente na Ásia e, aos poucos, abandonando o Oriente Médio à sua própria sorte, e Pequim sente, assim, a necessidade de preencher o vazio de poder que vem se formando na área, segundo analistas. Além disso, a China está interessada na região porque precisa de petróleo com mais urgência do que a Rússia ou os EUA.

A China se dá conta de que Israel é um país de ação global e, assim, busca fortalecer o seu engajamento com Israel – disse a fonte – acrescentando que dentro de 10 a 12 meses Beijing pode apresentar uma política mais clara para o Oriente Médio. Que caminho essa nova política vai seguir é ainda incerto, disse a fonte, mas se espera que, no entanto, não seja demasiado ‘mão pesada’ para ambos os lados.
O Primeiro-Ministro da China, Li Keqiang, e o seu par israelense, Benjamin Netanyahu, passam em revista uma guarda de honra no Grande Salão do Povo, em Pequim, em 8 de maio de 2013. Foto: Avi Ohayon/GPO/FLASH90
Netanyahu, que visitou a China em maio e se reuniu com o Primeiro-Ministro Li Keqiang, certamente está tentando ver, no gigante asiático, o lado bom das coisas. Além de receber, agora, as autoridades chinesas com manifesta simpatia e a declarar seus laços bilaterais como sendo uma prioridade nacional israelense, o chefe de estado israelense parece estar também cedendo um pouco à pressão chinesa, mesmo à custa de sua posição e prestígio domésticos numa questão que ele geralmente é um campeão: lutar contra o terrorismo. No chamado caso do Banco da China, ele tinha que escolher entre o apoio às vítimas do terrorismo palestino ou prejudicar os laços com Pequim.

No mês passado, mudou-se para Jerusalém e anulou uma intimação emitida a um ex-oficial de segurança israelense para depor como testemunha num processo judicial interposto por famílias narcotraficantes das vítimas de atentados suicidas que acusam o Banco da China de facilitar o financiamento do terrorismo através de contas nos EUA.

Os críticos dizem que, depois de inicialmente ter encorajado as reivindicações contra o banco, Israel mostrou-se duvidoso quanto a sua atitude, temendo que isso poderia prejudicar os valiosos laços comerciais com a China, se permitisse que o ex-funcionário, que jurou segredo, fosse intimado a depor.

Em 8 de novembro último, Netanyahu se reuniu com o membro do Comitê Central do Politiburo do Partido Comunista da China, Meng Jianzhu. Netanyahu disse que a visita de hoje "é um sinal da melhora rápida das relações entre Israel e China", disse elemento de seu escritório.

Mais tarde, naquele mês de novembro, a delegação do Partido Comunista da província de Hebei fez uma "visita de boa vontade" a Israel, durante  a qual se reuniu com algumas empresas de alta tecnologia e com o Conselho Econômico Nacional no Gabinete do Primeiro-Ministro Netanyahu. O embaixador da China em Tel Aviv, Gao Yanping, também falou à delegação, dizendo que "a cooperação pragmática entre China e  Israel vai chegar a um novo patamar".

Numa época em que Rússia e Irã disputam por trás das cortinas uma maior influência no Oriente Médio, aproveitando o desinteresse aparente dos EUA, a jogada de Benjamin Netanyahu de trazer a China para o meio do teatro de operações do embate geopolítico do Oriente Médio é vista por muitos analistas como uma medida de alto valor estratégico para Israel.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 18-12-2013

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