Quando há prosperidade, uma
parte da força produtiva começa a erguer obras imponentes com utilidade
inquestionavelmente duvidosa. Quando algo começa a falhar, ora pelo isolamento
geográfico, ora porque a intempérie destrói as colheitas do ano, o grupo de anciões
reúne-se e decide o que fazer. “Mais estátuas”, diz um deles, crendo no poder
do multiplicador keynesiano; “não podemos ficar fora da rede de embelezamento
da ilhas”, diz outro, pensando já no futuro como se todas as variáveis se
mantivessem inalteradas e o futuro não fosse diferente do que era ontem mas em
melhor. Quando chegam a uma conclusão, comunicam a toda a ilha: “parar de fazer
estátuas põe em causa o princípio da confiança – decidimos construir estátuas,
as pessoas dedicaram-se a construir estátuas, não podemos simplesmente parar
porque o clima nos está a pressionar: somos civilizados”. As estátuas ainda lá
estão.
Título, Imagem e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 20-12-2013
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