sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Um projeto é para levar até ao fim

Vitor Cunha

Quando há prosperidade, uma parte da força produtiva começa a erguer obras imponentes com utilidade inquestionavelmente duvidosa. Quando algo começa a falhar, ora pelo isolamento geográfico, ora porque a intempérie destrói as colheitas do ano, o grupo de anciões reúne-se e decide o que fazer. “Mais estátuas”, diz um deles, crendo no poder do multiplicador keynesiano; “não podemos ficar fora da rede de embelezamento da ilhas”, diz outro, pensando já no futuro como se todas as variáveis se mantivessem inalteradas e o futuro não fosse diferente do que era ontem mas em melhor. Quando chegam a uma conclusão, comunicam a toda a ilha: “parar de fazer estátuas põe em causa o princípio da confiança – decidimos construir estátuas, as pessoas dedicaram-se a construir estátuas, não podemos simplesmente parar porque o clima nos está a pressionar: somos civilizados”. As estátuas ainda lá estão.
Título, Imagem e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 20-12-2013

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