Portugal tem fama de ser um
País de brandos costumes, mas é de oito ou oitenta. Há um caso mal esclarecido,
em investigação, que pode ou não envolver praxes, mas logo se formam dois
grupos irreconciliáveis: o primeiro quer proibir, o segundo vê experiências místico-religiosas
nas brincadeiras estudantis. Sempre achei a praxe uma coisa de parvos, mas
defendo a liberdade de fazer parvoíces (desde que sejam voluntárias) e acho
natural que muitos estudantes se revoltem contra a limitação da sua liberdade
de se comportarem como completos idiotas.
Em Portugal, existe um curioso
gosto de discutir o que não se conhece: os Mirós que ninguém parece ter visto
(não haverá alguns menos bons do que outros?); ou o programa cautelar que
ninguém sabe o que será. Li um comentador que defendia em texto ligeiro “a
saída suja” do programa de ajustamento, ou seja, ele queria evitar a saída à
irlandesa. Para este autor, Portugal tinha de aceitar um programa cautelar
sobre o qual nada se sabe. Quais são as exigências políticas dos credores? E se
eles exigem mais cortes de despesa, por exemplo 3 mil milhões de euros, não em
três anos, mas em um? Que dirá este perito? Os mesmos comentadores que
estiveram sempre a dizer que o ajustamento ia falhar explicam agora, do alto da
sua ignorância em finanças, que uma saída sem cautelar é eleitoralismo puro e
que a solução desconhecida será a mais vantajosa. Que pressa lhes deu?
E há outras pessoas que quando
ouvem a palavra cultura sacam logo da pistola. Os nossos liberais de pacotilha
querem proibir as praxes e os Mirós, alguns deles são também pela proibição da
adopção por homossexuais (um dos problemas mais prementes da Nação). Há também
viajantes de Marte que acreditam na necessidade de fazermos austeridade durante
mais dez anos. Entretanto, os socialistas deliram e preferem aumentar impostos
a cortar na despesa pública. As pessoas que se acham cultas querem ficar com
Mirós que não viram e, se bem compreendi as notícias, cada quadro em causa tem
um valor estimado a rondar apenas 400 mil euros. Será um património assim tão
fundamental? Não dará para vender alguns? E não dará para ficarmos pelo menos
com alguns deles? Já agora os melhores.
Vivemos neste tipo de histórias e nunca se discute o essencial. Há quem goste de proibir e quem queira um Estado nulo. O Tratado Orçamental, bem entendido, não é para cumprir. Quando se fala genericamente, todos são reformistas, mas quando aparece uma reforma em concreto, toda a gente se revela contra. Ser contra implica indignação abundante e adjectivos aos brados. Lemos a comunicação social e vemos a pobreza franciscana: as catástrofes mil vezes anunciadas afinal não se concretizam e o País lá vai ignorando a sua paupérrima elite, talvez com um encolher de ombros e com os ouvidos a doer, de tanta retórica inútil.
Vivemos neste tipo de histórias e nunca se discute o essencial. Há quem goste de proibir e quem queira um Estado nulo. O Tratado Orçamental, bem entendido, não é para cumprir. Quando se fala genericamente, todos são reformistas, mas quando aparece uma reforma em concreto, toda a gente se revela contra. Ser contra implica indignação abundante e adjectivos aos brados. Lemos a comunicação social e vemos a pobreza franciscana: as catástrofes mil vezes anunciadas afinal não se concretizam e o País lá vai ignorando a sua paupérrima elite, talvez com um encolher de ombros e com os ouvidos a doer, de tanta retórica inútil.
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