terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Questão de probidade intelectual

Plinio Corrêa de Oliveira

Conta-se que um célebre professor de escultura ateniense deu certa vez a seus alunos, para concurso, a tarefa de esculpirem uma mulher que fosse um modelo consumado de beleza física.
Apresentados os trabalhos, dois se salientaram dos demais pela habilidade de sua composição.

Um era de autoria de um persa que concretizara no mármore o ideal de beleza de seus conterrâneos: uma formosa e riquíssima mulher, adornada com fazendas maravilhosamente ricas, estofos preciosos e joias sedutoras.

O grego apresentou uma obra simples: dotada da serenidade clássica de seus traços helênicos, uma ateniense majestosa no porte, altiva no olhar, formosa em todos os detalhes de sua beleza impecável. Era seu traje apenas uma simples túnica que a cobria até os pés.

Majestosa no porte, altiva no olhar, formosa em todos os detalhes de sua beleza impecável. Era seu traje apenas uma simples túnica que a cobria até os pés.
Depois de muito pensar, o professor concedeu ao grego o prêmio da vitória. E ao persa, que lhe perguntara indignado qual a causa da preferência, respondeu apontando-lhe sua obra: “Se a esculpiste rica, é porque não a soubeste fazer bela”.

Em matéria de questões doutrinárias, sigo integralmente o modo de ver do professor ateniense. Quando procuramos envolver nossos argumentos na roupagem suntuosa de eloquentes imagens, ou nos fazemos compreender mal ou alongamos sem necessidade um trabalho que em menos tempo se leva com igual proveito.

É certo que há pessoas que só leem artigos devidamente açucarados por meia dúzia de floreios de imaginação. Não podem suportar a aridez de certas questões.

Estas pessoas lembram certos meninos preguiçosos que, sem se darem ao trabalho de estudar, se julgam com direito a todos os prêmios. Quem não tem a força de vontade de ler um artigo árido sobre uma questão também árida, e recorre infalivelmente aos trabalhinhos adocicados em que o sentimentalismo mutila os raciocínios, e a brevidade e superficialidade da argumentação deformam as ideias, NÃO TEM O DIREITO DE FORMAR OPINIÃO SOBRE ASSUNTOS COMPLEXOS. É quase uma questão de probidade intelectual.
Trecho do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira em “O Legionário”, 8-3-1931, ABIM, 16-1-2018

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