Cristina Miranda
Começo por dizer a este
propósito que abomino todo o tipo de reality shows seja com crianças,
com jovens ou adultos. Jamais me inscreveria num nem deixaria filhos
meus menores, fazê-lo. Fique claro. Porém, a existirem é inevitável espreitar
para poder de forma bem ponderada emitir uma opinião fora da caixa sem seguir
as massas. E foi precisamente o que fiz assim que soube do tão polémico
SuperNanny.
Sejamos honestos: só existe
inscrições para este programa porque mais uma vez o Estado falha quando lhe
pedimos ajuda. Temos imensos organismos cheios de gente credenciada a
receber salários para apoiar as famílias e crianças, mas na verdade não servem
na hora da aflição. Quase todos já experimentamos esta realidade
portuguesa seja em que área for. Com muita sorte vamos para uma lista
de espera onde se desespera de tanto esperar. As mães que chegam a
estes programas são pessoas desesperadas, exaustas, desgastadas, já
completamente desequilibradas, e que tentaram ajuda. É o desespero que as move.
Se assim não fosse, o programa nem sequer arrancava. E só esta realidade já
deveria envergonhar o Estado social.
E não. Não é ficção como
alguns sem ver o programa afirmam. Antes fosse. Estas famílias vivem
mesmo um drama tremendo que lhes provoca mal-estar familiar e tristeza
profunda. As mães colapsam mesmo com as birras inaceitáveis e
violentas dos filhos sem saberem como agir. É a desorientação total. E
o que choca as pessoas é mais o facto de saberem que esta realidade existe
mesmo, do que a própria exposição em si. Senão como explicam o Instagram, o
Facebook, a publicidade, a moda, as novelas, os concursos na TV onde as
crianças se expõem ou são expostas pelos próprios pais com tenra idade, sem
oposição da CPCJ? No fundo o programa veio pôr a descoberto uma
realidade atroz desta sociedade moderna em que vivemos e sobre a qual ninguém
quer falar: a tirania dos nossos filhos. Porque falar sobre isto
obrigaria a refletir sobre as modernices educativas que ao invés de educar,
transforma os jovens em pequenos ditadores.
O programa veio ainda
revelar que os pais de hoje não sabem ser pais. E este fracasso reflete-se
depois na educação. Porque lhes foi dito que uma palmada na fralda era
violência, que um bom pai tem de ser sempre o melhor amigo, que a criança tem
de crescer feliz e logo não a podemos frustrar. Há anos que repito que
estas dicas patetas seriam a receita perfeita para o caos familiar. E
acertei em cheio. Criança, ainda no berço precisa de amor firme. Amor doseado
com regras, com limites, com obrigações, com metas, com tarefas, partilha e
responsabilidade regado com muito diálogo, sim, mas acompanhado dumas
consequências (castigos de amor) certeiras sempre que se esquecem dos seus
deveres. Frustrar a criança é obrigatório para o seu bom desenvolvimento.
Porque tal como tudo na vida, sem uma boa liderança, a anarquia instala-se. Seguindo-se
o caos.
Independentemente da exposição
das crianças (que agora o tribunal obriga a corrigir e bem) há um facto
inegável que salta a quem vê o programa: com umas simples técnicas pedagógicas
de uma psicóloga credenciada, ao fim de alguns dias, aqueles seres indomáveis
quase selvagens, tornam-se crianças educadas. Milagre? Não. Apenas foi
corrigido um défice no entendimento entre pais e filhos, porque ao ensinar os
pais a agir, estes tornam-me menos estressados e a criança interioriza melhor o
que lhe é exigido sem despertar raiva. Os pais, ao agir de forma mais segura
com liderança firme e assertiva, transmitem mais afeto, mais segurança, ao
mesmo tempo que os ensinam. Tão simples quanto isto. Foi extraordinário ver
ainda a reaproximação entre mãe e filha adolescente orientadas pela psicóloga,
de forma tão simples e bonita, que no caos era completamente impossível de
resolver.
A verdade é que os pais não
sabem educar porque lhes ensinam coisas erradas sobre a parentalidade. E os
mesmos profissionais que hoje se insurgem contra estes programas são aqueles
que de forma indireta contribuíram para esta desordem social com suas
psicologias modernas.
O programa depois de corrigido
o formato (ocultando identidade das famílias) deveria continuar pois é didático
para os pais e promove o bem-estar familiar que se reflete inevitavelmente no
resto da sociedade. Porque com melhores pais, teremos melhores filhos que serão
melhores alunos e em adultos, melhores cidadãos… e pais. Permite ainda a
reflexão sobre este flagelo social que todos preferem negar em vez de resolver,
numa sociedade em que permitem um filho bater num pai, e o contrário é crime
público.
Querem acabar com programas
deste tipo? Acabem com as sinalizações quase perpétuas de famílias
necessitadas, nas CPCJ, eternamente em banho-maria e criem equipas de
intervenção rápida ao apoio efetivo e CONTINUADO, dentro dos mesmos moldes do
programa, feito de forma individual e verão as inscrições desaparecer
completamente.
Até lá deixemo-nos de
hipocrisias.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
30-1-2018
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