segunda-feira, 5 de março de 2018

Quinze meses da prefeitura do Rio. "Quosque tandem abutere, catilina, patientia nostra?"

Cesar Maia

1. Se excluirmos os últimos seis meses dos governos que já fazem parte da campanha eleitoral, o mandato do prefeito Marcelo Crivella [foto], do Rio de Janeiro, já ultrapassou 35% de seu tempo, ou quinze meses.


2. Há uma máxima atribuída a Maquiavel que afirma que maldade se faz de uma vez e bondade aos pouquinhos. Se vale esta máxima, a marca da gestão de Crivella tem sido do anti-maquiavelismo. Se supõe que os governos eleitos definiram suas prioridades na campanha e detalharam após a vitória eleitoral.

3. E que nas primeiras semanas de governo aplicam essas medidas prioritárias. E especialmente aquelas que podem produzir desgaste de opinião pública. Superada essa fase inicial, inicia-se –de fato – o governo. Mas o que tem ocorrido na prefeitura do Rio é o contrário disso.
           
4. Os discursos criticando a "herança recebida", naturais no início de qualquer governo, se estendem. Foram anunciadas "maldades" justificadas – pelo prefeito – pela penúria das contas da prefeitura que teria recebido. Desde janeiro, todo dia se anuncia alguma "maldade". Mas, para valer – no início – apenas uma anunciada foi aplicada: o aumento do IPTU, assim mesmo mitigada por emendas de vereadores pelo parcelamento em duas vezes. E o resultado do pagamento antecipado mostrou um crescimento de apenas uns 4% por conta do aumento do IPTU.

5. Os cortes permanentes de despesas que deveriam estar concentrados nas primeiras semanas continuam quinze meses depois. E o desgaste por eles é enorme. Agora, recentemente, baixou decreto terminando o abono permanência quando o servidor opta por continuar trabalhando. Quem aconselhou essa medida certamente foi um péssimo aluno de matemática desde o ensino fundamental.

6. Simultaneamente – lembro, quinze meses após a posse – é encaminhado à Câmara Municipal, projeto de lei taxando os aposentados e pensionistas em 11%, nas faixas acima da isenção do imposto de renda. A tramitação desse projeto de lei, independente da votação final, agravará o desgaste de opinião pública do prefeito.

7. Os problemas de conservação dos bueiros que têm agravado as enchentes que se repetem, em vez de reativarem os programas anteriormente existentes, a proposta do prefeito é colocar sinais eletrônicos nos bueiros para acusar entupimento. Os servidores da prefeitura da área de conservação tomaram como piada.

8. Nos últimos dias, um programa criado há uns vinte anos – Ônibus da Liberdade – em que crianças da rede escolar que moram na periferia da periferia e têm que caminhar com as mães quase uns dois quilômetros para chegar à via principal onde passam os ônibus que têm gratuidade, está sendo fortemente reduzido. As crianças eram entregues pelas mães às assistentes sociais nos micro-ônibus, na porta de suas casas e chegavam com segurança a suas escolas, o que reduzia as faltas e aumentava a produtividade escolar. E facilitava o emprego das mães.

9. Bem, fiquemos por aqui, pois é um rosário – dia a dia – de maldades. Todas elas têm a mesma desculpa: os problemas financeiros da prefeitura. Outro dia, uma professora municipal falava bem alto na porta da escola, parafraseando Cicero (filósofo romano, 63 a.C.): Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?).
Título e Texto: Cesar Maia, 5-3-2018

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