José Mendonça da Cruz
Por que esta sanha dos instalados do socialismo,
dos fraturantes das margens, do jornalismo de causas contra Orban, Trump,
Salvini, Bolsonaro?
O medo de Bob Woodward
Fear – Trump in the White
House. Foi assim que Bob Woodward titulou o seu livro sobre a presidência
de Donald Trump. Bob Woodward derrubou Richard Nixon, é famoso, é um grande
jornalista, é um «liberal» (no sentido proto-socialista americano), e um
eleitor democrata, seja qual for o candidato democrata ou o opositor
republicano. Consequentemente, Bob Woodward, sendo um grande jornalista, é um
jornalista parcial, autor de intervenções enviesadas, e a sua agenda é a agenda
do Partido Democrata americano. Foi a agenda que ditou a oportunidade do livro:
ele surge agora para apresentar Trump como ignorante, errático e irresponsável,
em vésperas de eleições intercalares nos Estados Unidos.
É justo e obrigatório, porém,
que sobre enviesamento se faça aqui um parêntesis. O enviesamento do jornalismo
de Woodward não tem nada a ver com o enviesamento dos media portugueses. Ao
contrário do «jornalismo» português, Woodward não omite dados, conversas ou
factos que contrariem as suas teses. Ao contrário do «jornalismo» português,
Woodward não é preguiçoso; aliás, este livro tem por detrás, manifestamente,
longos dias e horas de trabalho incansável. E, ao contrário do «jornalismo»
português, Woodward, tendo uma causa, tem a honradez e seriedade bastantes para
escrever um livro que, sendo certamente simpático à causa democrata, corre o
risco de cimentar as crenças dos eleitores do presidente e conquistar até novas
simpatias.
O «jornalismo» português já
decidiu: Trump é estúpido, ignorante, xenófobo e machista (além de capitalista,
evidentemente). Donde resulta necessariamente, segundo o «jornalismo» português»,
que, visto terem-no eleito, os americanos o são igualmente. Woodward, porém,
além de jornalista, é inteligente e mais fino: do que ele acusa Trump é de ser
errático, padecer de défice de atenção, ignorar tudo da economia e das relações
internacionais, e ser perigosamente impulsivo.
O livro de Woodward é, repito,
um livro inteligente, dirigido a pessoas inteligentes, e a sua leitura é
apaixonante, pois coloca-nos como espetadores de cenas, diálogos, decisões
sigilosas da alta política (e faço aqui descaso dos inúmeros desmentidos
entretanto surgidos, e de um ou outro truque menos digno a que a escrita
recorre). Estamos lá. Vemos e ouvimos tudo.
Mas sendo um livro que não
cala, nem omite o que um «jornalista» calaria ou omitiria, Fear fica aberto à leitura
dos adversários da causa do autor (ser-se sério consiste nisso). É, por
exemplo, bastante fácil constatar que o comportamento errático e desatento de
Trump coincide bastante com as ocasiões em que lhe trazem mais uma vez
propostas que já recusou repetidamente; que o caráter impulsivo, além de ser
usado como artifício negocial, parece ter obtido alguns resultados – na Coreia
do Norte e nas tarifas sobre automóveis, por exemplo; e que as acusações de
ignorância sobre economia e relações internacionais convergem sobre as
políticas em que Trump contraria frontalmente a prática do Partido Democrata.
Há, a este propósito, no livro
um episódio luminoso, uma discussão sobre tarifas alfandegárias, que Trump quer
impor, mas que o conselheiro económico Gary Cohn considera um disparate. Cohn
defende que os défices comerciais são uma coisa boa; que os americanos compram
bens mais baratos, e ficam com dinheiro livre para outros gastos e para
poupança. «Sim», opõe Trump, «e as pessoas de vários estados que não têm emprego
nem vão consegui-lo?» E responde Cohn: «Têm que reinventar-se».
Ora, é raro ver tão claramente
exposta a diferença entre um conservador como Trump, que quer tratar do que há,
e um progressista como Cohn, que sonha com o «homem novo» (coisa que tantas
vezes os progressistas impuseram por cima dos cadáveres dos homens que havia).
Em resumo, eis o que conseguiu
a gerência estúpida, ignorante, errática e perigosa de Trump:
· em vez da terceira guerra mundial que os media
portugueses garantiam, Trump sentou a Coreia do Norte à mesa das negociações e
conseguiu um acordo de desarmamento; e não ponho de lado que, depois de
pacificada a península, a Coreia do Sul venha a ter que aceitar um acordo KORUS
menos vantajoso;
· em vez de criar um Estado Islâmico, Trump
contribui para a destruição do Estado Islâmico para cuja existência Obama
contribuíra pela ausência;
· em vez de levar a China ao limiar da guerra,
Trump conseguiu uma condenação internacional por roubo de propriedade
intelectual, e pôs no centro da política externa a consideração da China como
mais perigoso adversário político, económico e militar;
· a reforma fiscal recentemente aprovada libertou
para o orçamento de uma família média com um filho mais de 2000 dólares anuais,
com efeitos no consumo interno; «os ricos» (como diz a esquerda) ficaram com
ainda mais, o que fez disparar o investimento;
· as tarifas alfandegárias – ou a ameaça de
tarifas alfandegárias – suscitou a revisão de acordos comerciais como o NAFTA,
que abriu o mercado canadiano às indústrias americanas de automóveis e
lacticínios;
·
investimento e emprego batem recordes; e a
economia americana cresce acima dos 4%;
· e o argumento da xenofobia é apenas mais uma
patetice atirada por gente irritada. Quem analise o que está a ser debatido
agora nos EUA (a migração em cadeia, por exemplo) verificará que o debate
decorre em termos bem razoáveis, e nem sequer mais restritivos do que no tempo
de Obama.
E então?
Então, Fear. Medo… Woodward
faz muito bem em tê-lo e em confessá-lo. Porque as políticas de Trump – opostas
às dos democratas e por eles consideradas estúpidas ou impossíveis – afinal
produzem resultados e afinal eram possíveis. E há ainda uma pérola, ou uma
cereja em cima do bolo, como quiserem, que a mim pelo menos parece deliciosa: o
facto de o rico, capitalista Trump, o Trump do golfe e da vida faustosa, ser
hoje nos EUA a voz da classe operária.
Medo para Woodward, de facto.
O ódio dos democratas
As gentes do Partido Democrata
americano não são como Woodward, que apenas teme. As gentes do Partido
Democrata americano são como os «jornalistas» portugueses: têm ódio e raiva.
Têm ódio e raiva a quem lhes leva a agenda à falência.
Os acontecimentos relativos ao
juiz Kavanaugh nomeado (vitaliciamente) para o Supremo Tribunal de Justiça dos
EUA são um emblema desse ressentimento assassino.
Recapitulemos: uma senhora
chamada Ford diz que foi molestada por Kavanaugh há mais de 30 anos, tinha ela
15 anos e ele 17. A senhora lembra-se disso e de que bebeu uma cerveja. Não se
lembra onde foi, quem lá estava, como para lá foi ou como foi de lá para casa.
Um homem que namorou com ela durante seis anos diz que ela nunca lhe contou
nada, mas que contou sim, que lhe explicara como se engana um polígrafo. O
relato do alegado episódio chegou às mãos de Dianne Feinstein, a senadora
democrata que preside à Comissão Senatorial que avalia Kavanaugh. Feinstein
calou-se, até que suscitou o tema no último dia da audição. E quando Kavanaugh
se indigna perante acusações descabeladas, os democratas acusam-no de não ter a
serenidade de um juíz do Supremo, como se um juiz deva ficar imperturbável
perante aleivosias.
Será Kavanaugh um devasso?
Mais que provavelmente não.
Será Kavanaugh um problema
para o credo dos democratas? Mais que provavelmente sim. É branco, é cristão, é
pró-vida e foi nomeado por Trump.
E há Trump. Trump eleito
quando se supunha que só os «deploráveis» o suportariam. Trump a enunciar
programas que afinal uma maioria subscreveu. Trump, sobretudo, a denunciar a
apropriação de cultura e costumes pelos sobreviventes do marxismo. Trump a
denunciar, portanto, o enviesamento dos media. E Trump errático e ignorante a
conseguir aprovação e resultados, nacional e internacionalmente.
Foi demais. Foi excessivo. Foi
o alimento do ódio dos democratas, da sua furiosa caça às bruxas. Começou com o
«conluio russo» (Mueller já não sabe que lhe faça), passa por ataques à família
e ao penteado, está agora, pela interposta pessoa de Kavanaugh, com a senhora
Ford, a última e mais confrangedora de uma série de excitações que causariam
inveja aos piores episódios do McCarthismo. Com uma pequena desvantagem: na sua
sanha perseguidora, o McCarthismo desmascarou, ao menos e de facto, alguns
agentes de Estaline dentro da administração americana.
A fúria cega dos instalados
Vá, digamos que Viktor Orban,
com a sua mania da herança cristã da Europa, com a sua inclinação para uma
Hungria dos húngaros e de quem respeite a sua cultura, era uma maçada.
Vá, digamos que Salvini,
embora folclórico, é um incómodo com a sua insistência em recambiar para outros
países os navios negreiros que lhe demandam a costa, depois de andarem de um
lado para outro do Mediterrâneo a recolher e despejar emigrantes, sob a
bandeira do Panamá e das boas vontades crédulas.
Vá, digamos até que Trump já
tem mais de um ano, se tornou um ódio de estimação, é um pouco da casa, um
entretenimento.
Mas o Brasil, também??!! O
Brasil do salvador Lula e de Maria Madalena Rousseff? Um Bolsonaro no Brasil,
agora??!!
O Brasil, também. O Brasil de
Lula, e Roussef, e do sucedâneo Pêtista. Um Bolsonaro no Brasil, agora:
cristão, pró-vida, conservador, inimigo jurado do politicamente correto e da
sua tirania, farto da cobardia e descaso que fazem das cidades brasileiras
reinos do homicídio e da bandidagem.
Um homem que não tem pejo em
denunciar o Movimento dos Sem Terra como um antro de malfeitores armados,
inimigos da propriedade privada (dos outros), uma remanescência indigna num
país civilizado.
Um Bolsonaro fluente,
repentista, articulado, e com mestria das intervenções televisivas – e o
episódio em que envergonhou a Globo com um comunicado por ela emitido no
dealbar da ditadura fica como momento ímpar. Por fim, e pior ainda, um
Bolsonaro acolitado por um ministro da economia oriundo da mais pura escola de
Chicago, Paulo Guedes, um liberal, um adepto da iniciativa privada e da
liberdade económica, que considera que o Brasil não tem uma economia, tem, sim,
«socialistas com cartão de crédito».
A esquerda e os «jornalistas»
portugueses precipitaram-se para a caixinha dos rótulos. Bolsonaro?
Temos aqui: fascista, machista, xenófobo, racista, homófobo, ditador. O candidato já se ocupou de cada um desses epítetos, e convido quem se dê ao trabalho de ir ver na Net se foi ou não convincente. A esquerda e os «jornalistas» mais fingidos contêm-se e chamam-lhe apenas «o candidato da extrema direita». A classificação não resistiria a uma simples pergunta: de extrema-direita porquê? Justifique a sua resposta.
Temos aqui: fascista, machista, xenófobo, racista, homófobo, ditador. O candidato já se ocupou de cada um desses epítetos, e convido quem se dê ao trabalho de ir ver na Net se foi ou não convincente. A esquerda e os «jornalistas» mais fingidos contêm-se e chamam-lhe apenas «o candidato da extrema direita». A classificação não resistiria a uma simples pergunta: de extrema-direita porquê? Justifique a sua resposta.
Em suma, porquê, afinal, esta
sanha dos instalados do socialismo, dos fraturantes das margens, do jornalismo
de causas, porquê este espumar de raiva, estas notícias supérfluas e tontas,
mas diárias, esta desinformação entre ridícula e estúpida – e sempre vã – sobre
Orban, Trump, Salvini, Bolsonaro (e ainda não descobriram o novo presidente da
Colômbia)? Porque anunciam o fim do seu mundo asfixiante e totalitário. Porque
despertaram muita abstenção, muito voto não representado. Porque são ameaças
graves, claras e presentes.
Título e Texto: José Mendonça da Cruz, Observador,
17-10-2018
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