Mais que companheiros, os animais de estimação se tornam membros da família
Cristina Cruz
Perder um animal de estimação
é uma experiência dolorosa, mas muitas vezes subestimada. Para quem tem cães,
gatos ou outros pets, eles são companheiros que oferecem conforto e
compartilham momentos únicos de alegria.
Apesar disso, o luto por
animais costuma ser invisibilizado pela sociedade. Comentários como “era só um
cachorro” ignoram a intensidade dessa dor. De acordo com especialistas, o
impacto emocional da perda pode ser tão grande quanto o luto por um ente
querido, reforçando a importância de acolher quem passa por essa experiência.
Amizade especial que marcou
uma década
Quando seu filho completou 10 anos, a enfermeira Anne da Rocha Lopes decidiu presenteá-lo com um cachorro: Kit Nelson [foto], um cão adotado, que logo se tornou o centro da rotina familiar. “Eu sabia que eles seriam melhores amigos e estariam juntos em todos os momentos que nos fosse permitido”, relembra Anne.
Kit acompanhava o irmão humano em todas as atividades: praia, parques, videogames e até mesmo na escola, onde o levava e buscava ao lado da mãe. “Ele adorava passear de carro, era companheiro em tudo”, conta.
Após 10 anos de amor e convivência, Kit Nelson teve um último dia especial, acompanhando o “irmão”, agora crescio, até a faculdade. Mas, naquela mesma noite, o cão passou mal no colo do irmão e desmaiou.
“Conseguimos reanimá-lo e levá-lo à clínica veterinária, mas, na madrugada, ele partiu. Disseram que ele poderia estar com o coração grande, mas não houve tempo para os exames”, lembra Anne, emocionada.
A perda deixou um vazio enorme
na família. “Foi como perder um pedaço de mim. Não conseguia aceitar, era cedo
demais. Todos nós ficamos profundamente abalados.”
A luta contra a depressão
A morte de Kit Nelson trouxe consequências emocionais profundas, especialmente
para a mãe, que desenvolveu um quadro profundo de depressão. “Eu não conseguia
falar dele, não queria olhar para as pessoas, não conseguia levar minha vida.
Chorava durante meus plantões e sentia uma mistura de raiva, negação e
revolta.”
Foi então que Anne decidiu adotar dois cães em uma ONG: Jully, de 7 anos, e
Teddy, de 5 anos [foto], uma adoção era conjunta, e a família não hesitou em acolher
os dois cães.
Jully e Teddy agora fazem
parte da vida da família, dormem ao lado da mãe e trazem alegria ao dia a dia.
Para ela, adotar foi mais do que acolher novos pets: foi uma forma de honrar a
memória de Kit Nelson e de transformar sua dor em amor renovado.
Eutanásia: um ato de
compaixão e alívio para animais em sofrimento
Segundo especialistas, a eutanásia é um procedimento veterinário que visa
proporcionar uma morte sem dor e sofrimento a animais em condições
irreversíveis. Embora seja uma decisão difícil e muitas vezes tabu, ela é
considerada por veterinários como uma opção respeitosa e humanitária para
animais que enfrentam doenças terminais ou dores intensas.
"Como médica veterinária
acredito que a falta de conscientização e pautas sobre este assunto gera um
desconforto toda vez que falamos em consultório, a eutanásia é da forma
explícita de se dizer, o ato clínico “terminal”, após o sofrimento se tornar
maior e irreversível do que a cura", relata a veterinária Sheila Péres.
Além de veterinária, Sheila é mãe de pet e voluntária em duas ONGS de animais no Rio de Janeiro. 'perda, mesmo que rotineira, sempre será dolorosa, mas cabe a nós transformá-la em aprendizado e em meu caso como veterinária, sempre estudar novas formas de reversão para que não tenhamos que optar por uma decisão tão difícil.
A dor silenciosa dos
protetores de animais
“Ser presidente da ONG Ação Animal significa vivenciar muitas dores, mas nenhuma é tão profunda quanto a de dizer adeus a um dos nossos”, desabafa Aline Natal, presidente da ONG Ação Animal. Ela se emociona ao relembrar a história de Golda, uma cadela que transformou a vida de todos à sua volta [foto].
Entenda a dor e a superação
do luto
A perda de um animal de estimação é uma experiência dolorosa, mas, para a
psicanalista Luzia Barbosa Nunes, o luto por um animal é semelhante ao de
outras perdas significativas, como a de um ente querido ou de um emprego. “O
luto acontece quando algo se rompe na vida da pessoa, gerando dor e
sofrimento”, explica Luzia.
Ela destaca que o processo de luto inclui fases de tristeza, raiva e, por fim,
o entendimento de que o animal teve um papel importante na vida do dono. “O
grande significado do animal está no amor e carinho compartilhados”, afirma.
Luzia também ressalta que cada animal tem seu próprio tempo de vida, que é
distinto do humano. A superação do luto pode levar até dois anos, mas após esse
período, a pessoa pode encontrar novos significados e seguir em frente, seja
com outro animal ou em outras vivências.
“É importante entender que o animal cumpriu seu papel e deixou um legado de
amor”, conclui a psicanalista.
Título, Fotos e Texto: Cristina
Cruz, O
Dia, 1-12-2024, 6h
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