quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Mataram a Varig: fez-se o caos aéreo

Isis Müller, Diário de Teresópolis,19-08-2010
Acho facílimo voltarmos no tempo para felizes recordações. Na ‘era’ da VARIG nunca vimos a balbúrdia que hoje se distribui por todos os grandes aeroportos do país. Lembro-me que junto à VARIG trabalhavam a Cruzeiro (que saudades), a VASP e a Transbrasil. Chegávamos no embarque, tranquilamente, aproveitando os momentos de expectativa para deliciosos dias de férias. É verdade: essas começavam até mesmo antes de entrarmos no avião. A voz doce que falava ao microfone, anunciando a partida dos vôos, preparava os espíritos para as aventuras programadas nos campos ou nas praias, no Brasil ou no exterior. Era muito bom! Havia uma calma surpreendente, que abrange todas as organizações que cumprem seus deveres, e essa suavidade passava de semblante a semblante de passageiros e tripulantes confiantes e fiéis. Era bonito de se ver as aeronaves da VARIG, Transbrasil, Cruzeiro estacionadas nos pátios, embarcando ou desembarcando turistas, senhores e senhoras a trabalho, crianças carregando ursinhos à mão... (Não esqueçamos a Panair do Brasil!)
A viagem aérea ainda continha aquele místico aspecto dos anos cinquenta, quando as mulheres colocavam o melhor vestido, óculos com cristais nas hastes, um lenço charmoso, para a época, nos cabelos, os saltos muito altos, a maquiagem impecável, uma frasqueira discreta e belíssima e para finalizar, duas gotas de ‘Chanel’ nos cantos do rosto. Os cavalheiros eram distintos, quase sempre em seus ternos impecáveis, e viviam nas viagens, também, momentos de descontração e prazer . Invariavelmente a tripulação era simpática; trabalhava cumprindo normas de segurança responsável. Acidentes com aeronaves houve em todas as épocas e nós nos lembramos deles como fatalidades recobertas de luto.
Forçaram a saída da VARIG do mercado; a companhia aérea havia comprado a Cruzeiro, a princípio, e depois de variações na administração, continuou a VARIG sendo a ‘Bandeira do Brasil’, nos aeroportos de todo o mundo. A Transbrasil e a VASP garantiam a circulação e a harmonia na aviação civil brasileira. Mas, implodiram a VARIG em nome da ganância de grupos não comprometidos com a eficiência, segurança, humanidade e tradição.
À época muitos funcionários que, de repente, se viram desempregados de uma atividade absolutamente específica, entraram em desespero; tinham família para sustentar. O que fazer? Um grupo deles, uniformizados, foi a Brasília e ao encontrar a Ministra Chefe do Gabinete Civil, Dilma Roussef, suplicaram os tripulantes àquela senhora, primeira pessoa de decisões no governo Lula, que interviesse no desastroso desmoronamento, pois a situação era urgente, angustiante e agressões pela falta de opção já se verificavam em vários estados do Brasil. Nunca nos esqueceremos da forma como andava Dilma Roussef à frente daqueles trabalhadores, com a cabeça erguida e repleta de soberba ( soberba daqueles que tem tudo e não dão nada a ninguém). Nela não se via um olhar de piedade e dizendo que a VARIG era ‘devedora’ não faria absolutamente coisa alguma, para tentar contornar a situação dos novos desempregados brasileiros. (Vide as gravações televisivas dos jornais da época). Os funcionários além de ‘no olho da rua’, assistiram sua previdência ser confiscada. A ‘Aerus’, que recebeu durante tantos anos suas contribuições mensais, não lhes daria mais nenhum centavo. Como esses profissionais continuariam a viver? Alguns se suicidaram! Alguém, um dia, vai pagar por isso! Outros vivem na mais absoluta pobreza! Pouquíssimos conseguiram emprego em outras companhias de aviação! Muitos não puderam fazer mais nada, pois pilotar aviões é uma atividade que nos currículos enviados a empresas de outro gênero, não se enquadra em nenhum setor. Hoje, encontramos com facilidade pilotos e comandantes, repletos de experiência, abandonados por aí.
E diante desse enorme absurdo brasileiro vimos a entrada nesse mercado, das novas companhias, a TAM e a GOL. Aí, então, instalou-se o caos. Nunca mais os aeroportos voltaram a ser como antes. Os vôos jamais têm horários confiáveis. As filas são imensas para o chek-in e o desconforto leva os passageiros ao desespero. Dorme-se pelo chão, ninguém sabe informar coisa alguma, inventam-se mil desculpas idiotas para a justificativa dos atrasos. Isso não tem fim, nem nunca terá! Acabou-se a era dos sonhos e do romantismo das asas de um avião. Empresas aéreas brasileiras, no terceiro milênio, são traduzidas pelo sentimento de horror! Pesadelo! Muito, muito medo! Há poucos dias vimos reportagens nas TVs, de que as tripulações não são respeitadas quanto às indispensáveis observações de horas de vôo, ou seja, os aeronautas quase vivem nos aparelhos, voando muito mais do que deveriam. Do cansaço para tragédias é questão de minutos, ou, talvez, segundos. Entrevistados disseram que faltam pilotos e comandantes. Tanto o governo, quanto os proprietários das empresas aéreas não se importam com os perigos iminentes que envolvem seres humanos em desastres aéreos; o dinheiro e o lucro são os únicos resultados que para eles fazem a diferença. Mesmo que seja utópica a minha sugestão, por que não recriar a VARIG, colocando-a a todo vapor no mercado? Afinal de contas, bem ou mal ela ainda existe; como um nada, mas ainda existe. Insisto: por que não investem no retorno da segunda bandeira do Brasil, que é a VARIG? Está claro que precisamos de aviões e de tripulação treinada, de veteranos que possam ensinar os mais modernos. A quem interessou ou interessa o completo enterro da VARIG? Sem a intenção de inventar um milagre, asseguro que essa seria a solução para o caos que se instalou nos transportes aéreos brasileiros; o mundo inteiro já conhece essa nossa situação.
Boeing 707-400; © Helio Bastos Salmon

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