quarta-feira, 17 de julho de 2013

Café da manhã potencialmente indigesto

Francisco Vianna
Assisti hoje cedo, durante meu desjejum, pela CNN, uma reportagem que mostrou que um navio norte-coreano, que havia partido de Cuba, foi interceptado por militares panamenhos a serviço da aduana do Panamá dentro do qual, sob um carregamento de sacas de açúcar cubano, havia dois containers com armas e mísseis balísticos, descobertos pelo sistema automático de localização de conteúdo do Canal do Panamá, usado para coibir o tráfico internacional de armas.


Este míssil foi achado por agentes militares aduaneiros panamenhos no interior de um container escondido no compartimento de carga do navio norte-coreano. Foto: AFP/Getty Images
Depois, fiquei sabendo pela mídia internacional que o navio da marinha mercante do país comunista asiático esteve ancorado no porto de Havana durante os dias em que o chefe do estado-maior das forças armadas da Coeria do Norte se encontrava na ilha-cárcere dos Castros em reunião com Raúl Castro, para “tratarem sabe-se lá do quê”.

Numa época em que se fala tanto de espionagem internacional, na onda do traidor americano Snowden, chega-se a conclusão que praticamente nada permanece escondido por muito tempo dos olhos e ouvidos dos povos que são realmente bem informados no mundo. 

O especialista Hugh Griffiths, do Instituto de Investigações sobre a Paz Internacional (IIPI), uma ONG sueca, nos diz ainda que a descoberta das armas cubanas escondidas pelos militares do Panamá poderá arrefecer os esforços da Casa Branca para melhorar as relações com Havana, após meio século de hostilidade ao regime comunista da ilha. Washington tem encontro marcado para a próxima quarta-feira para dar continuidade a possíveis – embora improváveis - entendimentos, suspensos há mais de dois anos.


Foto do cargueiro da Coreia do Norte “Chong Chon Gang” ontem, terça-feira, 16 de julho de 2013, atracado no cais de Manzanillo da cidade panamenha de Colón (EFE)
A ONU mantém uma proibição total de qualquer tráfico de armas do Ocidente com a Coreia do Norte, como parte das sanções impostas a esse país pelo Conselho de Segurança em função de Pyongyang ter se negado a submeter seu programa nuclear à supervisão incondicional as AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), tal como ocorre com o Irã. Em vista do ocorrido, alguns analistas pressupõem que Havana possa ser objeto de mais sanções, haja vista o fato da ilha caribenha ser a fonte de envio dos armamentos que seguiam rumo a Pyongyang.

O navio foi detido e ocupado pelos militares no início da manhã de hoje e, uma vez aberto o container, viram que o conteúdo não era de armas convencionais, e que havia sinais detectados de certo nível de radiação. As fotografias panamenhas foram submetidas à análise de uma empresa de consultoria de defesa, a IHS Jane, que identificou um equipamento de radar de controle de fogo RSN-75 “Fan Song” para mísseis antiaéreos SA-2, desenvolvidos na década de 1950 e que sofrem frequentes “upgrades” desde então.


Policiais panamenhos custodiam o navio norte-coreano Chong Chong Gang no porto de Manzanillo em Colón, depois que a carga militar escondida em seus porões foi descoberta procedente de Cuba. (AFP/Getty Images)
A descoberta se deu em função de uma denúncia feita à inteligência panamenha de que o navio transportava drogas ilegais quando se preparava para cruzar o Canal de Panamá em direção ao Pacífico. Como os trinta e cinco membros da tripulação coreana se negaram em cooperar na vistoria, as autoridades do Panamá levantaram sua âncora e rebocaram o navio até o porto de Manzanillo. O presidente panamenho Ricardo Martinelli disse que o capitão do navio teve um ataque cardíaco após uma tentativa de suicídio quando a busca começou. A tripulação foi presa em Fort Sherman, uma antiga base militar estadunidense.

Os estivadores do porto descarregaram as 220 mil sacas de 100 libras de açúcar mascavo que estavam a bordo do navio Chong Chon Gang, registrado na Coreia do Norte, sob as quais encontraram dois containers escondidos com longos e pesados tubos semelhantes a mísseis e o que parece ser uma unidade de controle por radar, mas ainda não terminou o inventário da carga militar oculta nos porões do cargueiro norte-coreano.

O Sistema de Identificação Automática (AIS) do navio, que relata continuamente a localização por GPS da embarcação, tinha sido desligado e seus registros apagados ou quebrou depois que zarpou do porto de Vostochny no extremo oriental da Rússia em 12 de abril último, de modo que seu périplo mais recente não pode ser rastreado, segundo informou o Ministro da Defesa panamenho, uma situação altamente questionável e suspeita.


Um dos dois containers escondido por baixo de uma carga de açúcar de Cuba. (AP)
O detalhe importante por trás de todo esse ‘imbroglio’ é o fato de o Chefe do Estado Maior do ‘Exército Popular Norte-Coreano’, Kim Kyok Sik, ter saído de Pyongyang em 26 de junho para se encontrar em 1º de julho com Raúl Castro em Havana para “trocar opiniões sobre como ‘melhorar’ as relaciones amistosas entre ambos os exércitos e ambos os povos”, conforme a agência de notícias estatal de norte-coreana. Só mesmo dois dos últimos países ainda governados por partidos comunistas poderiam protagonizar um encontro desses, numa época em que muitos poucos aceitariam a visita de um sujeito como esse. O que é mais suspeito é que ele veio à Havana um pouco antes do navio de sua marinha de cabotagem atracar na ilha.

Estima-se que Cuba tenha umas 25 baterias antiaéreas SA-2, desmontadas de suas embalagens nos últimos anos e instaladas em velhos tanques soviéticos T-55 para torná-las más fáceis de mobilizar e menos suscetíveis de serem localizadas e destruídas. Também a Coreia do Norte conta com numerosas baterias antiaéreas SA-2.

O jornal londrino The Telegraph citou recentemente declarações de analistas não identificados que dizem que Cuba pode ter entregado alguns de seus velhos radares SA-2 à Coreia do Norte, ou tê-los enviado a Pyongyang para renová-los. Além disso, Cuba tem entre 330 e 550 mísseis balísticos do tipo Hwansong 5 e 6, feitos na Coreia do Norte e com alcances de 200 e 430 milhas, respectivamente, bem como 65 mísseis 9K52 Luna-M de fabricação soviética com um alcance de menos de 150 milhas. Ambos os sistemas de mísseis são obsoletos, mas podem ainda transportar ogivas químicas e nucleares.

Enquanto degustava meu café da manhã, ouvindo todo esse noticiário, para depois colher na Internet as informações adicionais que constam deste breve artigo, fiquei pensando, entre enojado e indignado, como é possível que Brasília tenha a coragem de enviar o suado dinheiro dos impostos pagos pelos trabalhadores e empresas brasileiras para Cuba construir o Porto de Mariel, quando se sabe perfeitamente que tanto a ditadura cubana quanto a norte-coreana faz com que seus povos passem fome e não consigam suprir suas necessidades básicas, mas conseguem dinheiro, por vias tortas, para armamentos desse porte, enquanto as nossas próprias forças armadas permanecem sucateadas e incapazes de oferecer resistência à maioria dos seus vizinhos, alguns deles potencialmente bem hostis, como a Venezuela.

Até encerrar esse texto, não vi na “grande mídia tupiniquim” qualquer menção a esses fatos, o que é uma vergonha completa para o jornalismo brasileiro.
Foi quando resolvi tomar um remédio para evitar uma possível indigestão.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia internacional), 17-7-2013

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