Considerações sobre a obra do economista da escola austríaca e do
Instituto von Mises, Hans-Herman Hoppe “Democracia, a Deusa que Falhou”.
Na análise política e
econômica – e, portanto, social – do comportamento das sociedades modernas, é importantíssimo
que sejam consideradas não apenas a ginástica semântica, mas também a
dialética, que permanecem ocultas por trás dos termos e jargões frequentemente
usados pelas correntes ideológicas existentes.
Assim, a obra de Hans-Hermann
Hoppe, “Democracia: A Deusa que Falhou” – ou “Faliu” – (“Democracy: The God that Failed”) é uma fraude ou não, dependendo da
dialética por trás da palavra “democracia”. Nós, brasileiros um pouco melhor
educados e informados, cada vez mais vemos isso com maior clareza.
Explico. Os países ditos
“socialistas” desenvolvem um pífio capitalismo de estado suficiente para
enriquecer e manter no poder uma reduzida burguesia estatal, mas amplamente
insuficiente para gerar trabalho e riqueza capaz de melhorar de forma
sustentável a qualidade de vida de suas populações, um apanágio que ainda
pertence aos países capitalistas e representativos (vulgarmente chamados de
‘democracias de mercado’).
No entanto, o termo
democracia, na verdade, não é antagônico ao termo monarquia. De há muito, as
monarquias absolutistas deixaram de existir no planeta, mas, no entanto a quase
totalidade dos países socialistas funcionam, na verdade, como monarquias
absolutistas, com sua “realeza e nobreza” reunidas sob uma fachada de
“politiburo” de partido único.
As exceções, hoje, são o
Canadá, a Austrália, e os países escandinavos, cujos estados são
centralizadores, mas apenas no que se refere às suas obrigações lícitas
(previstas em suas Cartas Magnas), ou seja, a de fornecer à cidadania serviços
públicos essenciais de boa qualidade e manter forças armadas profissionais e
bem equipadas o suficiente para ter uma boa capacidade dissuasiva.
No entanto, o nível de
capitalismo de estado – de longe o mais selvagem de todos – e de interferência
estatal na economia e na vida política privada das pessoas é ínfimo. Seus
governos cuidam para que seus estados não se hipertrofiem e para que não se
intrometam na economia além da capacidade que devem ter de lutar e impedir a
proliferação de oligopólios e monopólios (inclusive e principalmente os
estatais).
Por outro lado, os países
ditos socialistas, exibem uma imitação caricata de representatividade
democrática, com ostentação e falsa aparência de representatividade social,
como se pode observar na China, na Coreia do Norte, em Cuba, e em muito poucos
países que ainda insistem nessa decadente forma de “monarquia” disfarçada de
“democracia popular”.
Assim é que, de fato, existem
“democracias e democracias”... Mas, deixemos de lado, as “criptomonarquias”
eufemicamente chamadas de “democracias populares” (um dos pleonasmos mágicos da
dialética marxista) e nos concentremos nas repúblicas e monarquias atuais
consideradas democráticas e constitucionais.
Nesse ponto, podemos
questionar: o que torna os países mais desenvolvidos do planeta as potências
civilizacionais que são? Vejam que não me refiro às potências militares, mas
sim as que estão na vanguarda das ações que melhoram a vida das pessoas no
mundo.
O fator básico de sua
superioridade consiste na qualidade da sua democracia e na economia capitalista
com ênfase na iniciativa privada que exercitam, mesmo em países como o Canadá,
a Austrália e os países escandinavos.
O único caminho seguro e
reconhecível para que uma nação se torne uma grande potência mundial é
justamente a prática correta da economia de mercado, marcadamente privatista,
associada a uma representatividade exercida por uma cidadania de melhor
qualidade, o que, na verdade, é a que privilegia o mérito, a competência ou
idoneidade, e a probidade ou reputação de pessoas de bem.
As democracias atuais, de um
modo geral, ainda impregnadas pelo relativismo dos ideais iluministas de
liberdade, igualdade e fraternidade, tendem a considerar como cidadãos todas as
pessoas, e tal generalização é justamente o que determina a desvantagem das
repúblicas em relação às atuais monarquias constitucionais. Nestas, o poder
moderador da casa real, na maioria dos casos não encontra paralelo nas
repúblicas, paralelo esse que só poderia de fato ser exercido por uma cidadania
qualificada.
Nas repúblicas latino-americanas,
onde essa qualificação da cidadania não só inexiste como a militância
socialista tenta impor o controle dos menos aptos, dos menos idôneos, e dos
mais ímprobos, alegando que a elite de uma sociedade – que é que há de melhor
nela – representa algo deletério para a mesma e, destarte, não deve governar e
deixar que essa função seja desempenhada pela escória, fazendo com que a
capacidade que teriam de se transformar em grandes potências mundiais fique
extremamente remota.
A vantagem das monarquias
constitucionais de hoje, com sua “elite natural” – como se refere o autor à
corte real – restringida a um poder apenas moderador com base num prestígio
verdadeiro e bem compreendido junto à população – é justamente o fato de os
centros de decisão estarem muito mais submetidos à elite social do que à
escória, aos oportunistas políticos, de qualquer ordem, cujo ideal básico é
apena um: o construir uma burguesia restrita, a que chamam de politburo do
partido único, para viverem nababescamente nele, enquanto distribuem uma
pobreza igualitária aos demais, oriundas principalmente dos pífios resultados
da sua contumaz centralização econômica geralmente garantida por uma imposição
regimental com base na privação da liberdade e no cerceamento dos direitos
básicos da pessoa humana.
O autor questiona como as
repúblicas socialistas poderiam sair do que chama “camisa-de-força do estado de
bem-estar” socialista (tradução de wellfare
state), mas não é capaz de citar qualquer estado socialista onde o “bem-estar”
das pessoas seja pelo menos semelhante ao observado nos países não socialistas.
Se, nesses últimos, cerca de 20 por cento da população vive em situação de
pobreza, nos países socialistas, essa pobreza é distribuída deforma igualitária
por 90 por cento da população. Nos países latino-americanos, esses números são
ainda mais radicais, onde não existe qualquer qualificação da cidadania a
refletir uma melhor qualificação de seus regimes de governo.
Título e Texto: Francisco Vianna, 27-7-2013
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