Os analistas econômicos que se
debruçam sobre a situação atual da Venezuela, dizem que os investimentos
externos no país, especialmente os chineses, caíram de forma impressionante e
estão por um fio de serem completamente interrompidos, em função da crise
asfixiante de liquidez que o país sul-americano atravessa.
O governo de Nicolás Maduro,
cuja autenticidade ainda é motivo de discussões internas e externas no Tribunal
Internacional de Justiça da ONU, em Genebra, tenta desesperadamente convencer
Pequim a manter abertas as linhas de crédito e investimento do país asiático na
Venezuela.
Por sua vez, a China tem dado
sinais de que está difícil fazer isso, em função do fato de que Caracas não vem
honrando os compromissos assumidos bilateralmente e a percepção de um risco
maior e crescente de se investir no país sulamericano, risco esse que já vinha
aumentando antes da morte de Hugo Chávez e que só tem se agravado atualmente.
“A verdade é que os chineses
se desencantaram com a corrupção rampante do governo venezuelano, que enriquece
os membros do “politiburo comunista de Caracas” enquanto empobrece de maneira
acentuada a população do país, cujo PIB está em queda livre, com a fuga da mão
de obra especializada e dos capitais privados da Venezuela”, disse Antonio De
La Cruz, diretor executivo da empresa de assessoria “Inter American Trends”.
“A decepção chinesa com o
regime ‘bolivariano’ reside no fato de os fundos que ingressam na conta do
BANDES (o BNDES venezuelano) quase sempre nunca chegam a ser aplicados nos seus
respectivos projetos e o mesmo ocorre com investimentos brasileiros – a maioria
com dinheiro público governamental de Dilma Roussef – sendo desviados para contas
particulares de membros da cúpula ‘bolivariana’”, conforme explicou Evan Ellis,
professor de Estudos de Segurança Nacional da Universidade Estatal de Defesa
Nacional. “Os chineses reclamam que a Venezuela se tornou um ‘poço sem fundo’
para o dinheiro lá investido e que as recomendações de Pequim estão sendo
solenemente ignoradas por Caracas”, acrescentou Ellis.
Apesar de o Brasil também ter
diminuído os empréstimos a Caracas e suspendido alguns projetos bilaterais,
como uma refinaria de petróleo em Pernambuco, tudo isso, por motivos
ideológicos, vem sendo feito em silêncio corroborado pela mídia brasileira
subserviente ao governo de Brasília.
Tais frustrações e
preocupações quanto a estabilidade do regime após a morte de Chávez têm sido os
principais obstáculos aos esforços de Caracas de continuar a drenar recursos
chineses para o país, recursos esses que já ultrapassam os 4 bilhões de dólares
em empréstimos ‘renováveis’ que Venezuela se propõe pagar com envios de
petróleo para a China e Brasil.
Ninguém, do governo de Maduro,
se dispõe a falar sobre o assunto para a mídia internacional e, muito menos,
para a local. Tais problemas ficaram mais evidentes com a visita do chanceler
Elías Jaua a Pequim, em fevereiro último, pouco antes de o regime anunciar o
falecimento de Hugo Chávez. Jaua fora a Pequim numa tentativa de destravar o
fluxo de dinheiro chinês, mas, “na ocasião os chineses simplesmente lhe
disseram um redondo ‘não’ e de uma forma inusitadamente pública lhe expressaram
sua frustração pela maneira como Caracas dispõe dos referidos recursos”,
acrescentou ainda Ellis.
Ao que parece, os chineses foram com muita sede ao pote na Venezuela e, quando agora percebem o tamanho do calote que surge no horizonte, passam a reconsiderar o tema a pisar fortemente no freio. Todo esse imbroglio ganhou importância e evidência durante os meses de agitação social que se seguiram à morte do caudilho Hugo Chávez.
Qualquer um, que examine a
situação da Venezuela hoje, tem a impressão de que o país já representa um
risco demasiado alto para qualquer investimento externo, tanto público como,
principalmente, privado.
O Banco de Desenvolvimento da
China foi claro e enfático ao declarar que o dinheiro enviado por Pequim e
outros países, como o Brasil, não está sendo usado corretamente nos projetos a
que, teoricamente, se destinam e que, ao invés disso, “acaba indo para o bolso
de certas pessoas” do politiburo bolivariano.
Como a PDVSA, a Petrobrás
deles lá na Venezuela, vem diminuindo rapidamente a sua produção de petróleo –
seja por dificuldades de mão de obra de manutenção de suas instalações que se
encontram em adiantado estado de deterioração, seja por incúria e incompetência
de seus governantes – o fato é que os chineses começam a ter a certeza sinistra
de que a Venezuela não tem uma produção de petróleo suficiente para garantir os
compromissos internacionais assumidos com a China, a Rússia (armamentos) e o
Irã. Tal certeza se consolida também pelo fato de que a estatal petroleira da
Venezuela vem, desde 2011, alterando os termos do acordo firmado com a estatal
chinesa e, com a desculpa do preço mais alto do petróleo, enviar cada vez menos
volumes para Pequim, ignorando, assim os termos do acordo de que todo o
excedente ocasionado pela variação de preços da mercadoria teria que ser
depositado, por um ou pelo outro, num fundo especial chinês criado para usá-lo
em futuros empréstimos a Caracas.
Até que houve, como no Brasil,
uma “reação do governo” local empreendida pelo presidente da Assembleia
Nacional, Diosdado Cabello, contra a corrupção, mas que, também como no Brasil,
levou apenas à prisão de “peixes miúdos”, com os principais tubarões ainda
incólumes e a desfrutar o grosso do dinheiro desviado. Essa, aliás, é uma praga
comum na política e na economia sulamericana e, quanto mais o país é
estatizado, com mais intensidade ela incide. No caso da Venezuela, os “bois de
piranha” presos foram responsabilizados pelo desfalque de apenas 84 milhões de
dólares – menos de um quinto do total – do fundo Chinês-Venezuelano e do
BANDES.
A busca pelo dinheiro chinês
acontece numa hora em que a Venezuela atravessa uma dentre as priores faltas de
moeda e de liquidez de sua história, a ponto de se sentir o país ameaçado de
ter sua economia totalmente paralisada pela hiperinflação que bate às portas de
Caracas e que cresce a taxas às mais altas do planeta.
A impressão que se tem é a de
que a Venezuela só não entrou ainda em colapso total graças a esse reduzido
fluxo externo de divisas estatais provenientes, principalmente, de China e
Brasil, sem os quais a vaca venezuelana, que já foi para o brejo, já teria
atolado totalmente.
A história recente da
Venezuela conta com ricos detalhes como o socialismo não passa de um mero golpe
conduzido por um grupo de pessoas dentro do país, não habituadas ao trabalho
duro, honesto, e constante que, uma vez reunidas e organizadas, após tomarem o
poder, agem apenas na gerência de negócios espúrios para enriquecimento próprio
de sua reduzidíssima burguesia governamental. Nada, na Venezuela, parece se
encaminhar de modo diferente do que ocorre com os poucos países que ainda
insistem no socialismo. Com a exceção, talvez, da própria China que desenvolve
uma forma extremamente imperialista de capitalismo: o capitalismo de estado,
sem concorrência interna e agindo de forma insidiosa no exterior.
Título e Texto: Francisco Vianna, 22-7-2013
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