Pinho Cardão
Apesar de considerar "não
ter qualquer responsabilidade" no caso dos vistos "gold", Miguel Macedo demitiu-se
de Ministro da Administração Interna, por entender que deixava de ter
condições pessoais e políticas para continuar no cargo.
De facto, a partir do momento
em que foram apontados os nomes envolvidos na emissão de vistos gold,
logo partidos políticos e comunicação social cercaram Miguel Macedo,
pela proximidade que tinha em relação a alguns dos principais
envolvidos. E, se era próximo, logo também presumível suspeito. Tal
como nos tempos da Inquisição, se alguém se cruzava com judeu era judeu,
fogueira com ele.
Já ouvi dizer que a demissão
do Ministro foi um acto de coragem. Não penso assim. Se se considera inocente,
a “fuga” foi, antes, não lhe chamo um acto de cobardia, mas pelo menos um acto
de capitulação perante o politicamente correcto e de cedência completa ao
condicionamento inquisitorial que, passo a passo, vai tomando conta dos
partidos políticos, dos media e da sociedade.
Se os envolvidos são mesmo
culpados, ainda recebem o prémio de arrastarem o Ministro na queda; se forem
declarados inocentes, é um Ministro que cai de forma absolutamente gratuita e
sem sentido.
O grave é que, à medida que se
vão assumindo culpas colectivas, ficam atenuadas culpas individuais. E se todos
se consideram, de uma maneira ou outra, responsáveis, ninguém acaba por
ser verdadeiramente culpado.
No fim, muita gente se fica a
rir. Como, antes, muitos dos inquisidores.
Comentário:
JM Ferreira de Almeida disse...
Como o compreendo, meu caro
Pinho Cardão...
No entanto penso que a atitude
de Miguel Macedo deve ser louvada. Não por ter sido um ato de coragem, mas por
ser um ato responsável. Ele pôs o dedo na ferida: um MAI não pode ver a sua
autoridade diminuida. Nenhum ministro, mas especialmente os que exercem funções
mais perto do que é o núcleo da soberania, pode exercer funções debaixo de uma
suspeita, ainda que absurda. E Miguel Macedo sabe bem que os tempos que aí
viriam seriam tempos de veladas suspeitas, alimentadas todos os dias nos media.
Claro que se sacrificou um bom ministro. Mas de um modo ínvio cortou-se as asas
a muito abutre que já salivava, e, o que é mais importante, salvaguardou-se o
que no Estado tem de ser salvaguardado.
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Agradecido pela citação. Obrigado.
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