domingo, 16 de novembro de 2014

Condicionamento inquisitorial

Pinho Cardão

Apesar de considerar "não ter qualquer responsabilidade" no caso dos vistos "gold", Miguel Macedo demitiu-se de Ministro da Administração Interna, por entender que deixava de ter condições pessoais e políticas para continuar no cargo.

De facto, a partir do momento em que foram apontados os nomes envolvidos na emissão de vistos gold, logo partidos políticos e comunicação social cercaram Miguel Macedo, pela proximidade que tinha em relação a alguns dos principais envolvidos. E, se era próximo, logo também presumível suspeito. Tal como nos tempos da Inquisição, se alguém se cruzava com judeu era judeu, fogueira com ele.

Já ouvi dizer que a demissão do Ministro foi um acto de coragem. Não penso assim. Se se considera inocente, a “fuga” foi, antes, não lhe chamo um acto de cobardia, mas pelo menos um acto de capitulação perante o politicamente correcto e de cedência completa ao condicionamento inquisitorial que, passo a passo, vai tomando conta dos partidos políticos, dos media e da sociedade.

Se os envolvidos são mesmo culpados, ainda recebem o prémio de arrastarem o Ministro na queda; se forem declarados inocentes, é um Ministro que cai de forma absolutamente gratuita e sem sentido.
O grave é que, à medida que se vão assumindo culpas colectivas, ficam atenuadas culpas individuais. E se todos se consideram, de uma maneira ou outra,  responsáveis, ninguém acaba por ser verdadeiramente culpado.
No fim, muita gente se fica a rir. Como, antes, muitos dos inquisidores. 
Título e Texto: Pinho Cardão, ”4R – Quarta República”, 16-11-2014

Comentário:
JM Ferreira de Almeida disse...

Como o compreendo, meu caro Pinho Cardão...

No entanto penso que a atitude de Miguel Macedo deve ser louvada. Não por ter sido um ato de coragem, mas por ser um ato responsável. Ele pôs o dedo na ferida: um MAI não pode ver a sua autoridade diminuida. Nenhum ministro, mas especialmente os que exercem funções mais perto do que é o núcleo da soberania, pode exercer funções debaixo de uma suspeita, ainda que absurda. E Miguel Macedo sabe bem que os tempos que aí viriam seriam tempos de veladas suspeitas, alimentadas todos os dias nos media.

Claro que se sacrificou um bom ministro. Mas de um modo ínvio cortou-se as asas a muito abutre que já salivava, e, o que é mais importante, salvaguardou-se o que no Estado tem de ser salvaguardado.

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Um comentário:

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