E a “solução” saiu da caneta de Lula
Reinaldo Azevedo
É, meus caros… As coisas podem
se complicar bastante. Reportagem de capa da VEJA, que começa a chegar às
bancas, traz um fato intrigante, com potencial de uma bomba. Para chegar
ao centro da questão, é preciso proceder a alguma memória.
As circunstâncias
Paulo Roberto Costa, como ele
mesmo deixa claro em seus depoimentos, foi posto na direção de Abastecimento da
Petrobras em 2003 para delinquir — ainda que lhe sobrasse um tempinho ou outro
para funções regulares. Sua tarefa era mexer os pauzinhos para garantir
sobrepreço em contratos, que depois seria convertido pelas empreiteiras em
dinheiro e distribuído a uma quadrilha.
Costa, como também confessou,
era o homem do PP no esquema — embora a maior parte da propina que passava por
sua diretoria, assegurou, fosse mesmo enviada ao PT. Notem: ele nunca disse de
si mesmo que era um só um sujeito honesto que foi corrompido pelo sistema. Ele
confessou que tinha uma tarefa. Segundo seu depoimento e o do doleiro Alberto
Youssef, o petista Renato Duque cumpria a mesma função na Diretoria de
Serviços, operando para o PT, e Nestor Cerveró seria o homem do PMDB na
diretoria da área Internacional.
O e-mail
Note-se: Costa começou a
operar na Petrobras em 2003. E eis que chegamos, então, ao Ano da Graça de
2009. Não é que o diretor de Abastecimento da Petrobras resolve cometer uma
ousadia? Atropelando a hierarquia da empresa, decidiu mandar um e-mail à então
ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também presidente do Conselho da
Petrobras. Transcrevo trecho de reportagem da VEJA. Prestem atenção!
“Paulo Roberto Costa tomou
a liberdade de passar por cima de toda a hierarquia da Petrobras para alertar o
Palácio do Planalto que, por ter encontrado irregularidades pelo terceiro ano
consecutivo, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia recomendado ao Congresso
a imediata paralisação de três grandes obras da estatal — a construção das
refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas, no Paraná, e do
terminal do porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo. Assim como quem não
quer nada, mas querendo, Paulo Roberto Costa, na mensagem à senhora ministra
Dilma Vana Rousseff, lembra que nos anos de 2008 e 2007 houve ‘solução
política’ para contornar as decisões do TCU e da Comissão Mista de Orçamento do
Congresso Nacional.”
Por que diabos o diretor de
Abastecimento da estatal enviaria uma mensagem à ministra sugerindo formas de
ignorar as irregularidades nas obras apontadas pelo TCU? E, como fica claro, o
tribunal já havia identificado problemas em 2007 e em 2008.
A síntese
Então façamos uma síntese deste notável momento em quatro passos, como está na
reportagem:
1 - Um corrupto foi colocado na Petrobras para montar esquema de desvio de dinheiro para partidos aliados do governo Lula.
1 - Um corrupto foi colocado na Petrobras para montar esquema de desvio de dinheiro para partidos aliados do governo Lula.
2 - Corrupto se
mostra muito empenhado em seu ofício, o que lhe permite conseguir propinas para
os políticos e, ao mesmo tempo, enriquecer.
3 - Corrupto se
preocupa com a decisão do TCU e do Congresso de mandarem cortar os repasses de
recursos para as obras das quais ele, o corrupto, tirava o dinheiro para manter
de pé o esquema.
4 - Corrupto acha
melhor alertar as altas autoridades do Palácio do Planalto sobre a iminência da
interrupção do dinheiro público que alimentava o propinoduto sob sua
responsabilidade direta na Petrobras.
VEJA encaminhou a questão ao
Palácio do Planalto e, como resposta, recebeu a informação de que a Casa Civil,
de que Dilma era titular, enviou à Corregedoria Geral da União todas as
suspeitas de irregularidades. Certo! O Palácio, no entanto, preferiu não se
manifestar sobre o e-mail enviado pelo agora delator premiado à então ministra.
Essa mensagem foi apreendida
pela Polícia Federal nos computadores do Palácio do Planalto em operação de
busca e apreensão relacionada à investigação sobre Erenice Guerra. Dilma não
pode se calar sobre a mensagem em que um dos operadores do maior esquema de
corrupção jamais descoberto no país sugere ao governo uma “solução política”
que garantisse o funcionamento do propinoduto.
E o que aconteceu?
Eis o busílis. O então presidente Lula usou o seu poder de veto, passou por
cima do TCU e do Congresso e mandou que o fluxo de dinheiro para as obras
suspeitas fosse mantido. Era, como evidencia o e-mail de Paulo Roberto a Dilma,
tudo o que queria o corrupto.
Leiam mais um parágrafo da
reportagem:
“Durante oito meses, a equipe do ministro Aroldo Cedraz, que assume a presidência da corte [TCU] em dezembro, se debruçou sobre os custos de Abreu e Lima. A construção da refinaria estava ainda na fase de terraplenagem, mas os indícios de superfaturamento já ultrapassavam os 100 milhões de reais. A Petrobras, porém, se recusava a esclarecer as dúvidas. O ministro chegou a convocar o então presidente da companhia, Sérgio Gabrielli, para explicar o motivo do boicote. Depois de lembrado que poderia sofrer sanções se continuasse a se recusar a prestar esclarecimentos, Gabrielli entregou 10.000 folhas de planilhas ao tribunal. Para a surpresa dos técnicos, as informações não passavam de dados sem qualquer relevância.”
Se Dilma e Lula não sabiam,
como dizem, da quadrilha que operava na Petrobras, quem, então, sabia? Como é
que um diretor de Obras de uma estatal ousa sugerir saídas “políticas” a uma
ministra para tornar sem efeito as apurações de um órgão de Estado?
A mensagem de Paulo Roberto a
Dilma deixa claro, quando menos, que ela e Lula ignoraram os sinais de que uma
máquina corrupta operava na maior empresa do país — uma estatal. Máquina
corrupta que servia a três partidos da base: PT, PMDB e PP.
Yousseff disse em seu
depoimento que Lula e Dilma sabiam de tudo. Isso, claro!, requer provas. Se
provado, a presidente cairá. O e-mail de Paulo Roberto demonstra que, quando
menos, a então ministra foi enganada. Mas enganada por quem? Então um
diretorzinho da Petrobras propõe que o governo adote uma “solução política”
para tornar sem efeito uma decisão do TCU e do Congresso, e a ministra achou
isso tudo normal?
Pior: a “solução política” foi
adotada, e Lula vetou a suspensão de repasse às obras com evidências de
corrupção — o que está agora comprovado. Era o que Paulo Roberto queria: o
fluxo normal de dinheiro para o propinoduto. Afinal, ele foi feito diretor em 2003
para isso.
Aguarda-se que Dilma diga o
que fez com o e-mail que lhe foi enviado pelo agora corrupto confesso. VEJA já
está nas bancas de São Paulo e, em breve, nas de todo o Brasil. Leiam a
reportagem completa.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 22-11-2014
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