Regime bolivariano chavezista
de Maduro talvez tenha que distribuir petróleo para o povo da Venezuela comer.
Francisco Vianna
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Fila à espera de poder comprar fraldas descartáveis e papel higiênico numa farmácia de Caracas em fins de outubro último. Tais artigos, e muitos outros, ainda não chegaram às prateleiras. |
O aumento dos preços dos
derivados do petróleo na Venezuela (pela retirada dos subsídios estatais)
somado à queda intensa do valor da ‘commodity’ no mercado internacional – em
parte devido aos enormes estoques nos EUA e Europa e em parte devido à entrada
no mercado do gás de xisto betuminoso americano – está levando o regime
ditatorial socialista de Nicolás Maduro a tomar duras decisões que incluem,
justamente, a retirada do referido subsídio à gasolina. Na verdade, há uma
conjunção de fatores que estão a fazer com que o Palácio Miraflores fique sem
dinheiro para importar uma série de itens que o país não produz e isso coloca o
governo contra o paredão de ter que escolher quem poderá ter o “privilégio” de
“continuar recebendo as migalhas de um pão que a cada dia se torna menor”, como
estão a dizer alguns especialistas.
Na base do problema está a
capacidade de extração da PDVSA, a Petrobrás deles lá, que está em queda livre
com seu parque industrial cada vez mais sucateado e comprometido pela falta de
investimento em manutenção e pela fuga de mão de obra capacitada do país (como
sói ocorrer com os regimes socialistas).
Com isso, o “socialismo
bolivariano do século XXI” tem cada vez menos o que repartir e distribuir pelo seu
povo, o que o obriga a tomar medidas que podem se tornar muito impopulares.
Além do aumento da gasolina,
que poderá começar a vigorar a partir de dezembro próximo – segundo os
especialistas desse mercado – Maduro terá que usar boa parte do dinheiro que
puder conseguir com os novos preços dos combustíveis para tentar contratar os
serviços de empresas estrangeiras para tentar soerguer a capacidade instalada
da PDVSA com a finalidade de aumentar a extração de petróleo e até construir
pelo menos mais duas refinarias.
Os especialistas no setor
dizem que “o aumento de preço dos combustíveis é um fato já consumado, e que
provavelmente ocorrerá após a reunião da OPEP em Viena, prevista para o dia 27
deste mês de novembro”.
Maduro, que governa com uma
estrutura de estado ditatorial mediante “poderes especiais” a ele outorgados
pelo Congresso, já amarga uma popularidade que não chega a 30 por cento, mesmo
tendo prometido ao venezuelano que não elevaria os preços dos derivados do
petróleo, apesar da insistência do pragmatismo chavezista de que o subsídio
estatal à mercadoria, com um custo anual de $12 bilhões de dólares – que o regime
definitivamente não tem capacidade de arcar – é insustentável.
No entanto, Maduro, durante o
“Primeiro Congresso da Classe Trabalhadora”, cujos participantes foram apenas
os membros da reduzida burguesia do politburo do partido governante, acabou
concordando ao anunciar na última segunda-feira ter aceitado uma proposta feita
neste “congresso” para ajustar os preços dos combustíveis “e usar a renda deles
provenientes para projetos sociais”, algo que pouca gente realmente ainda
acredita na Venezuela.
A renda proveniente do
petróleo – praticamente a única produzida significativamente no país – já caiu
mais de trinta por cento, apenas no mês passado.
Além do mais, discute-se no
país que além da alta de preços dos derivados de petróleo, poderá se somar uma
elevação geral dos impostos, que se levado adiante pelo regime de Maduro poderá
agravar ainda mais os protestos de rua e a insatisfação social com o regime.
Assim, o regime, responsável
pela fuga de capitais privados venezuelanos e de mão de obra qualificada,
acabou ficando sem dinheiro, sem tecnologia e sem condições de sequer fazer a
manutenção de sua “galinha dos ovos de ouro” – a PDVSA – que agora está entre a
cruz e a caldeirinha.
Maduro chegou ao poder,
segundo muitos venezuelanos, através de uma formidável fraude eleitoral,
possibilitada em parte pelas famigeradas urnas eletrônicas fabricadas pela
DIEBOLD e comercializadas pela SMARTMATIC, as mesmas utilizadas no Brasil e
países do Foro de São Paulo, e em outra parte pela coação de boca de urna, levada
a efeito por verdadeiro exército de agentes cubanos – incluindo os “médicos”
castristas –, mas que, ao que parece, só sairá do poder depois de muito sangue,
suor e lágrimas derramadas para substituir o atual regime.
Em todo caso, no regime de
escassez socialista, onde o governo não pode mais contar com o dinheiro de um
povo altamente empobrecido e onde os donos do dinheiro já tiraram seus times de
campo (e também seu dinheiro), Maduro terá que escolher muito bem a quem
privilegiará com os parcos recursos que ainda dispõe para que possa se manter
no poder.
Essa foi a razão pela qual
Maduro há pouco decidiu aumentar os salários dos militares em quarenta e cinco por
cento para tentar compensar o efeito da taxa de inflação que poderá ultrapassar
os setenta e cinco por cento este ano, enquanto que o salário mínimo só foi
corrigido em quinze por cento.
Também pode ser esse o
raciocínio que venha a motivar Maduro em eliminar o subsídio à gasolina e aos
derivados de petróleo, que deverá atingir em cheio os bolsos da classe média,
os últimos trinta e cinco por cento da população que, a despeito de tudo, ainda
trabalha e produz para sustentar os demais sessenta e cinco por cento. No
entanto, o subsídio aos derivados de petróleo que são enviados mensalmente a
Cuba não serão eliminados, haja vista que Maduro necessita basicamente do
aparato cubano de inteligência militar para se manter a qualquer custo no
poder.
Mas, a situação do regime
“bolivariano” poderá se complicar muito mais ainda caso os preços do petróleo
continuarem a cair ou apenas se mantiverem abaixo dos atuais 60 dólares o
barril ao longo de 2015, como muitos especialistas dizem que irá ocorrer, principalmente
com o aumento da produção de gás de xisto nos EUA, principal comprador de
petróleo da Venezuela.
As encomendas americanas vêm
despencando de forma sensível e esses mesmos analistas especializados em
comércio internacional de petróleo dizem também que “se a redução da renda
venezuelana com petróleo continuar baixa ou diminuir mais ainda, o Palácio
Miraflores terá que escolher entre quais os setores do chavezismo irá
privilegiar ainda mais – uma vez que seus próceres estão acumulando enormes
fortunas no exterior pelo mecanismo distorcido criado pelo sistema de controle
cambial que funciona em prejuízo da população”.
Maduro espera que a OPEP
reduza a extração de petróleo para diminuir a oferta e fazer subir os preços da
mercadoria nos mercados internacionais. Mas os americanos também esperam por
tal iniciativa por parte do cartel internacional do petróleo, quando poderão
suprir fornecedores mundiais com sua acrescente produção de gás de xisto
betuminoso, que atualmente ainda está em torno de quinze por cento da capacidade
esperada pelo mercado, apesar de já ser responsável por sessenta e cinco da
produção total de gás natural dos EUA.
Por isso, muitos especialistas
dizem que é pouco provável que a OPEP venha de qualquer modo a restringir a
oferta. “Dentre os países-membros do cartel, somente a Arábia Saudita está em
condições de cortar a produção”, em função dos problemas orçamentários que
enfrentam e, mesmo a Arábia Saudita tem dado a entender que lhe interessa
manter os preços baixos porque sabe que essa é a única maneira de desestimular
a produção de petróleo de jazidas ‘não convencionais’ – como, por exemplo, o do
pré-sal brasileiro – que, em tese, representa uma ameaça à hegemonia saudita no
mercado mundial.
Os analistas preveem que um
preço do petróleo abaixo de 80 dólares o barril, mantido por algum tempo,
poderá gerar problemas que levem à desestabilização do regime de Maduro. E este
preço já está há algum tempo em 70,83 dólares o barril e tendendo a diminuir.
Há quem ache, com alguma
razão, que em breve Maduro só disporá de petróleo para alimentar o seu povo...
Só não se sabe com que tipo de culinária poderá conseguir isso!
Título, Imagem e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 20-11-2014
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Prezado senhor Vianna, boa tarde!
ResponderExcluirComo está o senhor?
Muito agradeço sua inteligente mensagem.
Informação nunca está demais.
Terminei de ler a última revista "Veja" e comparo o preço do petróleo que eles davam como correto (74 dólares o barril de 159 litros), com os 70,83 que o senhor menciona.
Estou mais que preocupado pela parte que nos toca =
Dizem que o custo de nosso petroleo do "Pre sal" está por volta dos 70 dólares.
Pode ser que dentro desse valor estão incluidos os "lucros extraordinarios" de nossos esforçados empreiteiros.
Tambem fiquei sabendo que as ações de Petrobras que se cotizam na bolsa de New York, onde tinham atingido 77 dólares, passaram para menos de 10 ?
Deve ser o efeito das estripolias de Eike Batista, somadas ao que está acontecendo agora. Parece que não podem apresentar o balance anual.
Antes de continuar falando de Venezuela, gostaria de saber quantos miseraveis tem por lá e comparar com os nossos. Porque aqui, até o governo teve que reconhecer o enorme aumento deles no último ano.
Por sinal ... faz tempo que o senhor não passa pelo centro de São Paulo ?
Se o senhor conheceu a cidade há mais de 50 anos (como eu) e gostava, não lhe aconselho porque ficará muito amargurado.
Gostaria de saber que fez o senhor Henrique Meirelles, presidente da entidade "Viva o Centro", nos últimos tempos.
Muito grato por sua atenção.
Abraços de Oscar Armando Baldoni
P.S. = Os miseraveis venezuelanos que aparecem na foto ... me parecem todos bem nutridos, limpos e ben vestidos, não acha ?
Prezado Senhor Oscar Baldoni.
ResponderExcluirA foto do artigo mostra apenas a empobrecida classe média venezuelana. Miserável não compra fralda descartável nem papel higiênico tampouco. Também não lê jornal, apenas limpa-se com ele após defecar. Miseráveis só saem em fotos de intelectuais de esquerda, socialistas e congêneres que gostam de mostrar a pobreza extrema para insinuarem que ela é o fruto do capitalismo que gera riqueza e trabalho.
De fato, o barril de petróleo tem variado entre 70 e 75 dólares o barril, o que fiz foi tomar o preço mínimo dessa variação enquanto o senhor tomou um preço perto do máximo dela.
De todas as loucuras cometidas pelo PT e "base alugada", a única em que ainda, repito, "ainda" por sorte não cometeram foi a de afrontarem o mercado por medidas estatizantes como as tomadas na Argentina, Venezuela e outras republiquetas do Foro de São Paulo. São ''sucialistas'' (socialistas de sucia, de quadrilha), mas não são estúpidos...
Desde 2003 a Petrobras tem se tornado a cornucópia do PT e associados e não existe empresa alguma no mundo que resista ao assalto sistemático a que vem sendo submetida a estatal petroleira tupiniquim. Só vejo uma saída para essa empresa, a mesma que foi aplicada à CSN, à Vale do Rio Doce, a Embraer, e outras: a PRIVATIZAÇÃO. Mesmo porque a empresa estatal e o capitalismo de estado são as maiores aberrações econômicas criadas ao longo so século XX e os países que já se livraram delas só fazem crescer; até a China, que é politicamente uma ditadura comunista, hoje privilegia o desenvolvimento da economia de mercado francamente privatista e até estrangeira. Por isso a China cresce tanto.
Finalmente, quanto a São Paulo, a maior megalópole da América do Sul, sofre o mal de toda megalópole. Cresceu demais, desordenadamente, e seus administradores, como de uma maneira geral no Brasil inteiro, não estão nem próximos da altura que o tamanho dos problemas lá existentes exigem para que sejam resolvidos.
Dificilmente vou a Sâo Paulo. Apenas em último caso, já tendo perdido inúmeros cursos e conferências vencido pela má vontade de me submeter ao risco, ao desconforto, e ao vexame de ir até lá. Mas sei exatamente a que o senhor se refere. Em contraste podemos ver o Templo de Davi (ou Salomão, sei lá!) um prédio megalomaniaco de milhões de dólares gastos para satisfazer o ego do Bispo Edir Macedo da IURD, enquanto do outro lado da rua funciona a Cracolândia...
Moro em Jacareí, no Vale do Paraíba, uma região de primeiro mundo que tem uma qualidade de vida muito superior à da Grande São Paulo. Não é fácil para mim sair daqui e ir para São Paulo, por qualquer motivo.
De qualquer forma agradeço o seu tempo em responder ao meu artigo o que apreciei sobremaneira e espero, que possamos trocar mais opiniões no futuro.
Saudações,