Leo Daniele
Com os olhos postos no
presente drama da Ucrânia, vale a pena perguntar qual foi o resultado de quase
um século de massificação operada pelo chamado “socialismo real” na Rússia post
revolução bolchevista de 1917.
Disse François Furet: “O
comunismo destruiu o tecido social dos países do Leste. Não há mais sociedade,
não há mais regime político e as populações foram privadas de seu passado”.(1)
Essa destruição do sentido
social foi assim descrita por Saulo Ramos, ex-ministro da Justiça do Brasil:
“É preciso ir e ver.
Meninos, eu fui e vi. A Rússia não existe mais, isto é, existe, mas não há
possibilidade de se definir o que está existindo naquele doloroso vazio de
vontades e destinos.”
Após registrar os inúmeros
fatos que ilustram seu artigo, ele prossegue:
“O Estado soviético
deixou um povo sem nada na alma, nos desejos, nas ambições, na luta pelo próprio
destino. Segundo os fiéis intérpretes com quem conversei, o assassinato mais
grave deu-se, nos 80 anos de comunismo, na mentalidade e sentimento dos russos.
“O que antes de 1917 era
poesia, música, ballet, vontade e alegria de viver, mesmo diante das atrocidades
do regime czarista, hoje ainda é medo da polícia, desinteresse pelas coisas da
vida, um vago esforço limitado à comida de cada dia ou à extravagância de um
refrigerante estrangeiro. O resto é afogar-se em vodca, povo e chefões”.
E conclui, melancolicamente:
“Nero, Átila, Hitler
assassinaram pessoas, roubaram a vida de milhões de seres humanos, mas os
sobreviventes reconstruíram os bens e as terras devastadas. O comunismo, por
ter durado muito tempo, além dessas mesmas e macabras proezas, assassinou a
alma dos que sobreviveram, roubando-lhes, depois de várias gerações, a vontade
de reconstruir o que não conheceram”.
O título do artigo é
expressivo: “Assassinato da alma russa”.(2)
Não presenciamos algo
semelhante em torno de nós, ou seja, o assassinato em curso da alma brasileira?
Não estamos sendo moídos pelos escândalos sucessivos da classe política —
Mensalão, Petrobrás, o cadáver ainda insepulto de Celso Daniel e o também
insepulto escândalo de Pasadena, e assim por diante? E a CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), para a qual a salvação eterna das almas parece
preocupar menos do que uma reforma política que traz em seu bojo a sovietização
do Brasil prevista no decreto 3.243?
Presenciamos o assassinato da
alma brasileira do mesmo modo como os russos assistiram e assistem ao
assassinato da alma russa?
São perguntas oportunas que no
caos no qual nos encontramos não podem deixar de preocupar quem ama com amor
sério este nosso querido Brasil.
Dizia Plinio Corrêa de
Oliveira: “Não gostamos do ‘não’, não gostamos da dúvida, não
gostamos da incoerência, também nos sentimos mal dentro da confusão e somos
adversários dela. Não gostamos da confusão e, por causa disso, ela nos causa
perplexidade, nos atormenta, nos causa angústia, porque queremos uma certeza,
queremos um rumo, queremos um desfecho. E a confusão cria condições onde
certezas, rumo e desfecho não aparecem”.(3) — Até quando?
_________________
1. Revista Catolicismo,
505, janeiro/1992
2. “Folha de S. Paulo,
7-8-1995
3. Conferência para sócios e
cooperadores da TFP, em 13-9-1974.
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