Luciano Henrique
Algumas pessoas defendem a
seguinte tese: “Não é momento de desunião. Todos participantes de manifestações
anti-PT são bem-vindos. O momento é de juntar a todos. Sejam adeptos da via
democrática ou da intervenção militar”. Parece um argumento convincente à
primeira vista, não?
A ideia parece tão simples quanto
funcional: junte todos, elimine critérios para os que podem se juntar ao grupo,
e, então, adquire-se maior força. Essa tese falha ao notarmos que qualquer
participação dos intervencionistas, por menor que seja, só serve para ajudar ao
PT.
Abordarei aqui uma análise
aparentemente contra-intuitiva mas amplamente comprovada pelos fatos: o
diferencial do PT é sua consideração pela democracia, e quem não lutar para
superar essa desigualdade só serve para ajudar o PT em sua solidificação no
poder.
“O quê? Como ousa dizer que o
PT considera a democracia? Este é um partido totalitário! Você perdeu o
juízo!”, pode gritar o mais empolgado.
Não é que o PT seja um partido
democrático. É que até mesmo para exercer sua sanha totalitária ele o faz por
meio da corrupção da democracia. Assim, eles jamais desgrudarão “da
democracia”, mesmo que seja para usá-la de forma corrompida, em um projeto
totalitário, mas ainda assim com verniz democrático.
Você poderia contra-argumentar
dizendo que o PT aparelhou o estado. Sim, mas isso não é antidemocrático. É
imoral. Pode-se dizer que o PT vai nomear 10 juízes no STF. Mas isso também não
é antidemocrático. É perigoso, evidentemente, mas não antidemocrático. E quanto
ao Decreto 8243? É um atentado contra a separação dos poderes, perigosíssimo
para a democracia, mas todo o seu trâmite foi democrático. Até quando ele foi
derrubado pela Câmara. Como vemos, todas as ações do PT podem (e devem)
ser desconstruídas sob diversos filtros, menos um: o da luta dentro dos padrões
da democracia, mesmo que seja para corrompê-la.
Mas por que o PT faz isso?
Será que ele gosta de democracia? De jeito algum. O PT tomou a decisão de lutar
pelo poder totalitário a partir da democracia, pois sabia de uma regra
fundamental: “o poder conseguido pelas vias democráticas é sempre mais legítimo
do que aquele conseguido pelas vias não-democráticas”. Ele leram Gramsci. Só
isso…
Preste atenção e note que
dentre os grandes partidos democráticos o PT é o mais perigoso para a
democracia, mas até para impor esse perigo tudo é feito dentro das regras da
democracia.
Alguns adeptos da intervenção
militar podem dizer que “se é assim, então o PT adquiriu muito poder e isso
valida a proposta por intervenção militar”. Na verdade, é exatamente o
contrário, pois todo o projeto de poder do PT começou a ser construído… na
ditadura militar.
Dito de outra forma, até mesmo
diante de um cenário sem liberdade de imprensa (o período da ditadura militar),
o PT pensou em projetos de poder obtidos pela via democrática. Então o truque
do “beco sem saída” (focado em sair dizendo que “está tudo acabado, então que
venham os militares”) não funciona. E o PT também ajudou a demonstrar isso.
O que estou querendo dizer é
que em pleno 2014, com todo conhecimento adquirido através de vários sistemas
políticos ao redor do mundo, a tomada de poder via intervenção militar ou
revolução armada não serve mais. O PT aprendeu isso, mesmo durante uma
ditadura. Os intervencionistas não estão conseguindo entender sequer essa
concepção básica, mesmo que vivam em um ambiente com muito mais liberdade do
que aquele que os petistas (e os tucanos) tinham nos anos 60 e 70.
O PT entendeu a realidade, viu
as possibilidades e entendeu o tipo de estratégia que melhor funcionaria. Eles
descobriram o óbvio: no Ocidente, discursos de tomada de poder peça força não
colam e, quando ocorrem, não se sustentam. Por isso só falam em “democracia”,
mesmo que queiram corrompê-la o tempo todo.
Falta apenas que os
intervencionistas descubram essa obviedade. Pedir uma intervenção militar é
perder legitimidade automaticamente. É por isso que os tucanos fugiram das
manifestações a partir do momento em que alguns participantes intervencionistas
resolveram aparecer por lá.
A única coisa a fazer agora é
jogar a guerra política, usando insights de gente como David Horowitz e Saul
Alinsky. Mas e se o PT levar tudo? Então só vão restar os métodos de ação
não-violenta, e daí a maior inspiração deve vir de Gene Sharp.
A conformação diante de tais
obviedades não é algo a ser pensado para o futuro, mas para agora!
Os bons guerreiros políticos entendem a noção de que tudo deve ser feito a partir da democracia, pois é assim que se adquire legitimidade. E é claro que devemos saber que os truques de “beco sem saída” sempre serão usados para tentar justificar a alternativa da intervenção militar. Esses últimos sempre ficarão aprisionados em duas alternativas:
(1) honestos em sua proposta,
mas incapazes de perceber que jamais conseguirão resultados desse jeito, e,
pior, ainda servirão como munição para o PT,
(2) petistas infiltrados.
Não existe nenhuma forma pela
qual o discurso intervencionista pode ser útil. Ele só serve para atrapalhar e
criar um tipo de conformismo no qual um amontoado de gente acredita que bons
valores morais estão embasados em ser leviano na guerra política, não fazer
nada e esperar por uma ação externa, violenta e antidemocrática.
O que uma visão republicana
defende deve ser o contrário: assumir total responsabilidade na guerra
política, fazer tudo o que for possível, entender que os resultados surgem a
partir dessas ações, que só podem ser executadas pela via democrática (mesmo em
um sistema totalitário, e aí nesse caso Gene Sharp seria mais útil que Saul
Alinsky, por exemplo) e de forma não-violenta.
Enfim, a luta é por olhar para o mundo como ele é, de acordo com as possibilidades que temos e em busca de resultados possíveis, que, se alcançados, serão legitimados com facilidade.
Sendo assim, basta uma
reflexão para entendermos uma verdade dolorida, mas urgente: o PT faz o que
vocês deviam estar fazendo. E eu já sei que vem a conversa: “Ah, mas
corromperam a democracia”. Sim, eu sei, e já escrevi muito sobre isso. Mas não
muda o fato de que eles fazem o que vocês deviam estar fazendo em
termos de guerra política e pela via democrática.
É quando chegamos, finalmente,
no verdadeiro beco sem saída: ou você está conosco, querendo jogar a guerra
política pela via democrática (pois isso não dará munição ao PT, pode dar
resultados e resulta em legitimidade), ou está contra. Se você não conseguir ainda
compreender qual é o grande segredo do PT (repito: “fazer tudo pela via
democrática, para jamais perder a autoridade moral neste aspecto”) e não tem
nenhuma intenção de lutar para vencê-los neste território, então servirá para
ajudar o adversário.
Isso nos coloca de lados
opostos do front. De um lado, temos os bolivarianos e os intervencionistas
(duas gangues querendo o poder totalitária, mas somente a primeira fazendo a
coisa certa nos quesitos políticos), e de outro temos os republicanos.
Só há uma coisa a fazer. Jogar
a guerra política. Mas para jogar a guerra política é preciso entender a via
pela qual os resultados verdadeiros surgem. Ou seja, entender algo que até um
partido autoritário como o PT entendeu há 40 anos atrás.
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