José Manuel
Quanto vale um dólar hoje e
quanto valia há sessenta e sete anos? A resposta é: a mesma coisa, pois a
referência unitária é e sempre será a mesma.
UM (1).
O que irá variar é o poder de
compra que essa unidade tem ou tinha, dependendo de, por exemplo, flutuação
cambial, inflação, valorização da moeda e outros aspectos econômicos inerentes
à moeda e à economia do país dessa moeda.
Principalmente, de como se faz
uso desses valores, podendo agregar riqueza a muitos ou gerando desperdício,
prejuízo sem volta, a todos.
Pode ocorrer, por exemplo, que
essa unidade tenha tido mais valor agregado naquela época do que hoje em dia. É
perfeitamente possível. É a economia.
Em 1947, portanto, há sesssenta
e sete anos, a Europa estava arrasada por uma guerra contínua de seis anos, que
ceifou milhares de vidas com incontáveis prejuízos e a economia, não só dos
países envolvidos mas também as dos periféricos à luta armada, encontrava-se
totalmente estagnada, pois apenas se produzia o rescaldo do espólio da guerra,
com a contabilidade dos prejuízos.
Nessa época, os Estados Unidos
estavam em pleno desenvolvimento de sua riqueza interna, pois através da Lei de empréstimo e arrendamento
estimularam o investimento de capital e a capacidade industrial do país. No
final da segunda guerra a maior parte dos países europeus estava em saldo
negativo com os Estados Unidos, ou seja, juros sobre juros, gerando dessa forma
uma conta tão alta que contribuiu para o crescimento financeiro dos EUA.
Eles estavam errados? Não,
apenas não começaram uma guerra.
Simples assim, ou seja, entre
os combatentes, os Estados Unidos foram o único país a se tornar muito mais
rico, ao contrário dos restantes aliados, que empobreceram por causa da guerra.
Filosofias ou teorias à parte
sobre como esses recursos foram amealhados, o que importou, mesmo com qualquer
hipótese de lucro ou não, foi a ajuda humanitária e tecnológica em recursos protagonizada por
esse país aos países economicamente destroçados da Europa.
O célebre plano Marshall de recuperação
econômica da Europa aportou à região afetada ao longo de quatro anos a quantia
de treze bilhões de dólares em
assistência técnica e econômica.
Esses recursos foram
distribuídos de acordo com as necessidades mais prementes dos envolvidos e, de
uma forma geral, utilizados na compra de combustíveis, máquinas, veículos,
matérias-primas, alimentos, rações e fertilizantes.
Sem essa ajuda, que poderia não ter ocorrido, a
Europa ainda estaria hoje se ressentindo dos horrores da guerra.
Entre os maiores credores
dessa ação estavam a Inglaterra (3,2 bilhões), França (2,7 bilhões), Itália
(1,5 bilhão) e Alemanha (1,4 bilhão). O total do empréstimo, na época: treze bilhões de dólares.
Graças a esse esforço e,
inegavelmente humanitário também, quatro anos após a Europa já apresentava um
quadro em desenvolvimento, em especial o país que tinha sido o precursor do
conflito armado.
Mas, isso é apenas passado, e
já se encontra nos anais da história, servindo apenas
para exemplificar como se pode ou não gerenciar quantias imensas como
a citada.
Em um pulo de teclado,
chegamos ao presente, mais precisamente ao Brasil, país riquíssimo em recursos
naturais, mas, ao que tudo indica, perdido completamente no emaranhado dessa
mesma história, sem saber se fica, vai para a frente ou retrocede no tempo.
Enquanto o plano Marshall, aportou treze bilhões de dólares, para
reerguer a economia de um continente e em quatro anos, aqui no Brasil e apenas
no ano de 2014, segundo o Banco Central, os brasileiros gastarão no
exterior em compras supérfluas, hospedagem, alimentação, passeios, aluguel de
carros e outros mimos, uma quantia que irá superar o plano Marshall, em quase
seis bilhões de dólares.
Dezoito bilhões e quinhentos milhões de dólares vão ser
deixados de graça pelos nossos turistas, diferentemente
do plano de ajuda, sem que isso reverta um centavo sequer à economia do
nosso país.
Ou seja, para ser mais claro,
estamos trabalhando para deixar mais ricos vários países, enquanto o nosso cada
vez mais se afunda. Completamente ao contrário do que ocorreu com os EUA.
É por isso que somos pobres,
em sendo ricos, e apenas para constar, em 2012 foram vinte e dois bilhões;
em 2013, vinte e cinco bilhões, e para 2014 estima-se, após a alta do dólar, um
gasto de dezoito bilhões e quinhentos milhões. Tudo em dólares, é claro.
Total em três anos: quase SETENTA
bilhões de dólares saíram para sempre do nosso país.
Não está aqui
sendo contabilizado o que foi remetido para o exterior em paraísos
fiscais pela corrupção, cujos valores estarão com certeza muito acima dos cem
bilhões de dólares.
Ora, os valores aportados à
Europa há sessenta e sete anos e corrigidos pela inflação chegam a cento e
trinta e cinco bilhões de dólares, o que ainda assim está muito abaixo do total
sangrado ao Brasil nos últimos três anos.
Essas lições de passado e
presente, nos mostram o porquê por exemplo de estarmos fechando o ano de 2014
com uma perda de trinta mil postos de trabalho.
Nos mostram o porquê de não
conseguirmos fechar as contas do ano de 2014, ferindo inclusive a lei de
responsabilidade fiscal.
Nos mostram a inadimplência
cada vez maior das médias e pequenas empresas, que não têm como fazer frente
à concorrência desleal dos importados e contrabandeados.
Nos mostram o porquê
do pibinho brasileiro estar fechando o ano de 2014 em 0,9%.
E também nos mostram a
completa incompetência intelectual e política para gerenciar um país
rico, multirracial, multirreligioso e continental como o Brasil.
Será que vamos ter que chegar
ao ponto de implorar em orações ao espírito do secretário americano e nobel da
paz, George Catlett Marshall, Jr., que
venha com urgência nos socorrer de uma irremediável catástrofe, já de
há tempos anunciada?
Título e Texto: José Manuel, 19-11-2014
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