Tavares Moreira
1. Ontem e hoje é notícia (quase ignorada) o facto
de as taxas de juro da dívida pública portuguesa terem atingido níveis muito
baixos: concretamente, no caso da dívida a 10 anos, a taxa de juro implícita na
respectiva cotação (yield) situa-se hoje em 2,906%, o mais baixo de sempre.
2. Numa altura em que a atenção da vida política
nacional se encontra voltada para e dominada por factos extremamente negativos,
que denunciam a enorme vulnerabilidade do processo de selecção de elites
políticas e administrativas, é consolador receber notícias como esta, mostrando
que nem tudo vai mal neste confuso País…
3. É certo que por detrás desta evolução muito
favorável das taxas de juro da dívida se encontram factores não nacionais – a
expectativa de uma mais pesada intervenção do BCE nos mercados, nomeadamente de
dívida pública, à imagem do que tem acontecido com outros bancos centrais (FED
e Banco do Japão, por exemplo); a “furiosa” procura por activos que
proporcionem um rendimento mais elevado, por parte de grandes investidores
internacionais…
4. … mas isso não deverá constituir
motivo de desvalorização desta boa notícia que, como já aqui referi, está
contribuindo para um desempenho das contas externas melhor do que o previsto,
através de uma significativa redução do défice dos rendimentos…
5. Basta notar que, sendo certo que tanto as
dívidas da Irlanda, em 1º lugar (yield equivalente já abaixo de 1,5%) como
também da Espanha (yield em 1,9%) e da Itália (yield em 2,2%) vêm beneficiando
igualmente desta tendência, já a yield da dívida da Grécia permanece em
patamares muito elevados (acima de 8%), claramente em resultado de factores
nacionais que impedem que esse País beneficie desta mesma tendência de descida
dos juros.
6. O que significa, pois, no nosso
caso, que factores nacionais também pesam nesta evolução, designadamente o
esforço que, contra ventos e marés, foi feito no sentido de dar cumprimento aos
objectivos consignados no Programa de Ajustamento Económico e Financeiro…
7. Há só um dado menos positivo nesta evolução, que
consiste no apagamento das teses reestruturacionistas… todavia, os
distintos autores dessas teses já terão perdido a esperança a partir do momento
em que as altas chefias do (ex?) Crescimentismo ordenaram, “sine die”, a sua
recolha ao congelador…
Título e Texto: Tavares Moreira, “4R – Quarta República”, 26-11-2014
Tipo de notícia que a imprensa portuguesa ignora solenemente...
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