sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Contas Externas em Setembro: uma (boa) SURPRESA...

Tavares Moreira

1. Contra toda a expectativa (minha, inclusive), a informação hoje divulgada pelo Banco de Portugal relativa à posição das contas externas no corrente ano, até ao final de Setembro, revela uma considerável melhoria face aos valores registados em igual período de 2013.

2. Concretizando, temos os seguintes valores:

- Um saldo positivo da Balança Corrente de € 895,4 milhões, que compara a € 391,4 milhões no mesmo período de 2013 (+ 129%);
- Um saldo positivo da Balança de Bens e Serviços, de € 2.170,8 milhões, que compara a € 3.015,6 milhões em 2013 (- 28%);

- Um saldo negativo na Balança de Rendimentos (primários), de € 2.194,8 milhões, muito inferior ao de 2013, que foi de € 3.276,2 milhões, ou seja uma melhoria de 33%;
- Um saldo positivo na Balança de Rendimentos secundários (que inclui as transferências de Emigrantes), de € 919,4 milhões, superior (em 41%9 ao registado em 2013, que foi € 652 milhões;

- Um saldo positivo da balança de capital, de € 1.743,8 milhões, quase inalterado em relação ao de 2013 (€ 1.777,6 milhões);
- Um saldo dos saldos, ou seja Balança Corrente + Balança de Capital, positivo, de € 2.697,3 milhões, superior em 28,4% ao observado em 2013 (€ 2.101,1 milhões).

3. A partir dos valores atrás indicados, fácil é concluir que a inesperada melhoria verificada no corrente ano é em boa parte explicada pela redução do défice na Balança de Rendimentos primários, a qual será certamente devida à expressiva redução que tem vindo a verificar-se no nível das taxas de juro que o País paga ao exterior pela enorme dívida que acumulou (para alguma coisa serviu a "maldita" Austeridade)…

4. Mas, mesmo no plano da Balança Comercial, de Bens+ Serviços, a diminuição assinalada no saldo positivo, de 28%, pode ser considerada pouco expressiva se atentarmos na significativa recuperação da procura interna que se tem vindo a verificar, em especial do consumo privado, que, como se sabe, tem contribuído para um forte aumento das importações (sobretudo de bens de consumo duradouro).

5. Não deixa de ser curioso notar que assistimos, na semana passada, a mais um incompreensível exercício de lamentação colectiva, por parte da generalidade dos "media" bem como de boa parte dos "opinion-makers", a propósito do anúncio do agravamento do défice comercial (de Mercadorias, não considerando os Serviços, que também fazem parte do saldo comercial) até Setembro…     

6. Lamentação incompreensível (para dizer o mínimo), pois esses mesmos "media" e "opinion-makers" de há muito vêm acusando o Governo de seguir uma cartilha neo-liberal, minimizando o Estado Social e não apoiando suficientemente o crescimento (leia-se injectando mais dinheiro na actividade) – posições críticas que, a serem seguidas, teriam provocado um défice ainda maior na dita Balança de Mercadorias!

7. Vivemos, efectivamente, num universo mediático em que a mais rematada incoerência e a falta de conhecimento dos assuntos tratados dão as mãos para informar o público da forma mais desastrada e (naturalmente) causadora da maior confusão…

8. Mas uma coisa é certa: assim vamos continuar, pelos tempos mais próximos, para louvor do Redondismo e do Esquivacionismo… 
Título e Texto: Tavares Moreira, “4R – Quarta República”, 21-11-2014

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