Tavares Moreira
1. Contra toda a expectativa (minha, inclusive), a informação hoje
divulgada pelo Banco de Portugal relativa à posição das contas externas no
corrente ano, até ao final de Setembro, revela uma considerável melhoria face
aos valores registados em igual período de 2013.
2. Concretizando, temos os seguintes valores:
- Um saldo positivo da
Balança Corrente de € 895,4 milhões, que compara a € 391,4 milhões no mesmo
período de 2013 (+ 129%);
- Um saldo positivo da
Balança de Bens e Serviços, de € 2.170,8 milhões, que compara a € 3.015,6
milhões em 2013 (- 28%);
- Um saldo negativo na
Balança de Rendimentos (primários), de € 2.194,8 milhões, muito inferior ao de
2013, que foi de € 3.276,2 milhões, ou seja uma melhoria de 33%;
- Um saldo positivo na
Balança de Rendimentos secundários (que inclui as transferências de
Emigrantes), de € 919,4 milhões, superior (em 41%9 ao registado em 2013, que
foi € 652 milhões;
- Um saldo positivo da
balança de capital, de € 1.743,8 milhões, quase inalterado em relação ao de
2013 (€ 1.777,6 milhões);
- Um saldo dos saldos, ou seja
Balança Corrente + Balança de Capital, positivo, de €
2.697,3 milhões, superior em 28,4% ao observado em 2013 (€ 2.101,1 milhões).
3. A partir dos valores atrás indicados, fácil é concluir que
a inesperada melhoria verificada no corrente ano é em boa parte explicada pela
redução do défice na Balança de Rendimentos primários, a qual será certamente
devida à expressiva redução que tem vindo a verificar-se no nível das taxas de
juro que o País paga ao exterior pela enorme dívida que acumulou (para alguma
coisa serviu a "maldita" Austeridade)…
4. Mas, mesmo no plano da Balança Comercial, de Bens+ Serviços, a
diminuição assinalada no saldo positivo, de 28%, pode ser considerada pouco
expressiva se atentarmos na significativa recuperação da procura interna que se
tem vindo a verificar, em especial do consumo privado, que, como se sabe, tem
contribuído para um forte aumento das importações (sobretudo de bens de consumo
duradouro).
5. Não deixa de ser curioso notar que assistimos, na semana
passada, a mais um incompreensível exercício de lamentação colectiva, por parte
da generalidade dos "media" bem como de boa parte dos
"opinion-makers", a propósito do anúncio do agravamento do défice
comercial (de Mercadorias, não considerando os Serviços, que também fazem parte
do saldo comercial) até Setembro…
6. Lamentação incompreensível (para dizer o mínimo), pois
esses mesmos "media" e "opinion-makers" de há muito vêm
acusando o Governo de seguir uma cartilha neo-liberal, minimizando o Estado
Social e não apoiando suficientemente o crescimento (leia-se injectando mais
dinheiro na actividade) – posições críticas que, a serem seguidas, teriam
provocado um défice ainda maior na dita Balança de Mercadorias!
7. Vivemos,
efectivamente, num universo mediático em que a mais rematada incoerência e a
falta de conhecimento dos assuntos tratados dão as mãos para informar o
público da forma mais desastrada e (naturalmente) causadora da maior confusão…
8. Mas uma coisa é certa: assim vamos
continuar, pelos tempos mais próximos, para louvor do Redondismo e do
Esquivacionismo…
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