segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A crise cria novos partidos na Europa. Avança a antipolítica. A “Internacional anarquista”!

Cesar Maia           
1. Os políticos sêniores europeus e os politólogos esbravejam contra a onda de populismo na Europa, a mais tradicional referência da democracia ocidental no pós-guerra. Acusam líderes populistas de ganhar prestígio com propostas demagógicas em função da crise. Mostram preocupação com o recrudescimento do nacionalismo radical, de triste memória na Europa dos anos 30.
           
2. Em vez de atacar os efeitos, deveriam se perguntar sobre as causas. Afinal, a crise desde 2008 não é produto do populismo ou da demagogia. E os remédios aplicados algumas vezes têm reconstruído o quadro social do século XIX. As soluções pela esquerda afundaram a socialdemocracia europeia, a ponto da expressão – socialista – produzir desgaste em vários casos. A Internacional Socialista quer mudar de nome. Está desagregada. A bancada socialista (socialdemocrata) no parlamento europeu nunca esteve tão descoordenada.
           
3. Os partidos cristão-democratas, liberais e conservadores – integrados no PPE - partido popular europeu – venceram agora a quarta eleição seguida e ocupam todos os cargos relevantes da União Europeia. As receitas que propõem são muitas vezes amargas e, ao aprofundar em alguns países a crise, abrem espaço ao populismo. A corrupção política dá o tempero e é a ordem do dia na Espanha, por exemplo.
           
4. O caso mais grave é o da Grécia. O Syriza – coalizão de esquerda radical – lidera as pesquisas para as eleições gerais de fevereiro de 2015 e se coloca como o próximo governo. Os partidos tradicionais – Nova Democracia e Pasok – colapsaram. Em 2012, o Syriza já havia alcançado 26% dos votos. As pesquisas dão ao Syriza mais de 10 pontos de frente neste momento. A dívida externa da Grécia cresceu, nestes 4 anos, de 124% do PIB para 175%. O desemprego permanece em 27% e entre os jovens mais de 50%.

5. Na Espanha, o “Podemos” lidera as pesquisas. Tem um ano de vida e se justifica tendo como origem os “indignados” e as redes sociais. Na Itália o MV5 (Movimento 5 Estrelas), de um comediante de TV e também impulsionado pelas redes sociais, venceu a última eleição parlamentar com 25% dos votos e continua crescendo. O presidente Giorgio Napolitano (90 anos) avisa que vai renunciar, antecipando o calendário eleitoral.
           
6. Na França, o debacle do presidente Hollande do Partido Socialista abriu caminho para Frente Nacional de Marine Le Pen, que passou a liderar as pesquisas, acentuando seu discurso nacionalista. No Reino Unido, o nacionalista UKIP deixou para trás os liberais-democratas e hoje ocupa a terceira posição em intenção de voto com 14%.
           
7. O separatismo – derrotado por pouco em plebiscito na Escócia –, aquecido por um plebiscito não autorizado na Catalunha, vai estimulando novos casos – como Veneza que quer voltar a status de antes da Unificação Italiana no século 19. E legitima casos graves – também de base nacionalista – como o separatismo na Ucrânia.
           
8. No conjunto, constroem um quadro inimaginável na Europa fundadora, desde o século 19, da política orgânica, programática e ideológica. Neste momento, o alvo são os partidos e os políticos: é uma forte onda de ANTIPOLÍTICA. De certa maneira é uma refundação do anarquismo (Bakunin...) do século XIX, nas condições do século XXI. Na última reunião da IDC – Internacional Democrata de Centro – em Cabo Verde, quando se discutia a situação das Internacionais político-partidárias, um deputado espanhol ironizou, dizendo que a Internacional que mais cresce hoje é a Internacional Anarquista, contra os partidos e os governos.
           
9. Aliás, populismo e antipolítica já têm forte expressão na América Latina, impulsionados pela crise do final dos anos 90 e lastreados, depois, pela corrupção. Os políticos e analistas brasileiros que fiquem atentos. 
Título e Texto: Cesar Maia, 17-11-2014

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