segunda-feira, 30 de março de 2015

Crônica de Shangri-La: CADEIA

José Manuel

Cadeia, xilindró, prisão, cana, presídio, dá tudo na mesma, pois oficiais ou genéricos estes nomes se traduzem aqui no Brasil por cubículos sépticos, péssima alimentação, água fria, condições mínimas de higiene e, normalmente, divididos por dois ou mais pilantras que roubaram o seu, o nosso dinheiro, de uma forma ou de outra.
Este tipo acima descrito, é o luxo dos luxos, pois o sistema prisional comum, que é o lixo dos lixos, não faz parte do nosso assunto.
O que aqui nos interessa é como agora, durante os esclarecimentos dos escândalos vigentes, e a futuro porque serão muitos, a cadeia é e será sempre, um santo remédio.

Ela, a cadeia, evita o Alzheimer, pois faz as cabeças trabalharem a todo o vapor, intermitentemente e não existe a menor possibilidade de problemas de fala, pois uma vez lá, as agora e sempre temidas línguas, começam a trabalhar intensamente, descrevendo fatos que até Deus duvida que tenham acontecido. É a síndrome do metro quadrado.

Quanto à obesidade, por exemplo, é o melhor dos melhores Spas, pois é o tratamento mais rápido e eficiente já conhecido.

Corruptos e corruptores chegam à prisão, obesos, pela farra dos bons restaurantes, dos whiskies, vodkas, queijos, tudo importado à farta, ventres proeminentes, e logo dois meses depois estão em plena forma com a perda de dez, quinze quilos, se não mais.

O vestuário passa a ser um item do qual eles não têm mais de que se preocupar, pois as roupas de marca adquiridas em Paris ou Nova Iorque, com o nosso dinheiro, virarão objetos de desejo esquecido. Também, uma vez lá na cadeia, um jeans, uma sandália e uma camiseta regata são mais do que necessários, porque, afinal, a Polícia Federal pensa em tudo, para deixá-los confortavelmente acomodados.

Aquelas intermináveis dores nas costas, por exemplo, causadas pela obesidade mórbida, pelos sonos em hotéis de luxo com os colchões macios, a postura inadequada típica de conversas ao pé do ouvido, deixam de existir pois os colchões oferecidos e o chão duro são um excelente lenitivo para esse tipo de inconveniente.

A alimentação é mais do que um item importantíssimo pois passou a ser restrita ao cardápio prisional, mas com a grande vantagem de manter a forma dos agora conhecidos e ilustres hóspedes criminais.

A socialização foi outro item previsto pela PF, pois os banhos coletivos não só lhes provam que todos os homens nus são iguais perante Deus, como ao fazê-los, o inter-relacionamento visual lhes dá a oportunidade de perceber o quão ridículos são, ao perderem a roupagem falsa de altos executivos, a empáfia dos falso-ricos, a pretensa inviolabilidade de políticos medíocres.

Como toda a nudez, as mentes doentias têm mais uma firula com o quê se preocupar, e a simples queda de um sabonete ao chão, é o caos pessoal dos coleguinhas de cela.


E o que dizer da água fria? Como tratamento é o melhor que lhes poderia ter acontecido, pois está provado que banhos frios são sinônimo de saúde para as artérias e musculatura. Perfeito!

A única coisa ruim da acomodação coletiva, mais uma vez patrocinada por nós, é claro, e como sempre, é a perda ou o desgastante embranquecimento dos cabelos, mas nada que uma boa tintura ou uma peruquinha não possa resolver.

Outra coisa excelente é o silêncio monástico a que estão submetidos, porque  não há televisão ou outros artefatos como computadores pessoais, periódicos de notícias, que desviem a sua atenção, e os seus manuscritos serão a futuro verdadeiras obras-primas de arte da literatura.

E é exatamente neste momento, que começam a surgir os grandes escritores, pois o silêncio, a reclusão, as orações, a pouca comida, a falta de sono, o arrependimento, a saudade da vida orgástica que levavam, as lembranças das contas no exterior, as viagens em jatos executivos, as amantes eventuais, as comprinhas no exterior, os champagnes, vinhos, caviar e outras dádivas só acessíveis com muita grana, desenvolvem com rapidez fantástica a capacidade intelectual, normalmente desaguando em grandes obras  do  tipo, por  exemplo,  "Do céu ao Inferno",  ou melhor então "Como falar com Deus",   ou ainda futuros clássicos como os famosos "Não sei, Nada fiz, sou Inocente",  e grandes best-sellers altamente procurados nas livrarias, do tipo auto-ajuda sempre bem-vindos àqueles que gostam, "Dinheiro e Abismo".

No mais, se resolverem falar tudo o que sabem têm a pena drasticamente diminuída, podendo até voltar para casa com uma tornozeleira que, como peso adicional, lhes fortificará o músculo da perna, ou ainda, a encenação de um pico de pressão, uma isquemia ou um AVC, que os levarão a um hospital, como o sucedido recentemente a um dos mentores intelectuais desta fraude gigantesca, mas como sempre terão as visitas carinhosas dos amigos de gangue, pois quadrilhas que se prezam são aquilo que chamam de famiglias, altamente solidárias a seus Cappi, afinal, sabe-se lá qual a vantagem que se pode tirar disto, no futuro, é claro.
Título e Texto: José Manuel, 30-3-2015
Nota: a descritiva nas crônicas por mim publicadas é o resultado de pesquisa em notícias veiculadas em mídia nacional idônea, apenas compondo um pensamento lastreado em liberdade de expressão e ancorado no Artigo 5 inciso IX, da constituição Federal de 1988.

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