Reinaldo Azevedo
Teóricos de um choque de civilizações
entre os muçulmanos e o Ocidente certamente começarão a ser revisitados
Foi um ataque
horripilantemente espetacular, a evidenciar que o mal já está na França — ou,
se quiserem, está entre nós. Não é preciso ter muita imaginação para saber a
origem: é claro que estamos falando do Estado Islâmico. Ainda que não se
constatasse um liame formal com aqueles delinquentes, há um vínculo que é dado,
vamos dizer, pelo espírito do tempo. Os franceses participam dos ataques aéreos
às bases terroristas na Síria. O primeiro foi desferido no dia 30 de setembro.
Pois é… Depois de um ataque
dessa dimensão, a França tem uma dupla preocupação. Com uma enorme população de
origem árabe, o terrorismo encontra facilidades extras para se esconder entre
pessoas decentes — sempre lembrando que o Estado Islâmico tem conseguido
também, o que é espantoso, seduzir jovens ocidentais sem qualquer vínculo
anterior com o islamismo.
E dessa realidade factual
decorre um problema muito fácil de explicar e muito difícil de resolver. É
claro que vão crescer o preconceito e a hostilidade às comunidades islâmicas de
maneira geral — e árabes em particular. Por mais que se façam apelos à razão e
que se demonstre que a maioria dos imigrantes e descendentes são pacíficos, é
muito mais difícil combater o medo do que a efetiva ameaça.
Teóricos de um choque de
civilizações entre os muçulmanos e o Ocidente certamente começarão a ser
revisitados. Se tais teorias andaram, por um tempo, em baixa, o Estado Islâmico
tem se encarregado de renová-las, uma vez que se mostrou capaz não de infiltrar
terroristas em países ocidentais, como fazia a Al Qaeda, mas de mobilizar
braços que já estão presentes nesses países.
Mais: a Europa vive uma
espécie de transe com a chegada em massa de imigrantes muçulmanos, vindo das
áreas da guerra, o que tem gerado a reação muitas vezes violenta de grupos
xenófobos. É evidente que uma ocorrência como essa tende a acirrar ainda mais
os ânimos.
E o pior de tudo é que resta
um recado: esse terrorismo que consegue se esconder no seio da própria sociedade
é muito difícil de combater. Infelizmente, não se faz isso sem um estreitamento
das liberdades individuais e sem que cresça enormemente a vigilância do Estado
sobre os indivíduos.
O terror não mata só pessoas.
Mata também as liberdades individuais.
Os pelo menos 140 mortos provam que é preciso tratar Estado Islâmico de
outro modo
Potências ocidentais têm de conversar
com Vladimir Putin e lançar ataque terrestre fulminante, com ocupação de
território
O novo e espetacular atentado
terrorista em solo francês demonstra que o Estado Islâmico, que nasceu debaixo
do nariz das potências ocidentais, é muito mais perigoso do que se imaginava.
Parece-me que é chegada a hora de as tais potências se perguntarem se bastam
ataques aéreos para contornar o mal.
Sim, eu sei o que estou
perguntando, aparentemente em contradição com os fatos. Afinal de contas, o
atentado foi praticado em solo francês. Quando se conhecer a identidade dos
terroristas, é possível que haja franceses entre eles — se não forem todos
nascidos na própria França.
Ocorre que esses “emissários”
ou “representantes” atuam hoje em nome do que está pretendendo se estabelecer
como uma pátria. Parece claro a esta altura que simples ataques aéreos são
insuficientes para vencer os delinquentes.
Ainda que o terrorismo em rede
prescinda de um território específico — os desta sexta, reitero, muito
provavelmente são nativos da França —, o fato é que as amplas áreas ocupadas
pelo Estado Islâmico dão a impressão de que existe também uma “pátria” pela
qual lutar.
Por improvável e até, vá lá,
exótico que pareça, chegou a hora de as potências ocidentais se sentarem à
mesma mesa de Vladimir Putin e planejar uma ação terrestre e fulminante, com
ocupação do território, nas áreas dominadas pelo Estado Islâmico.
Talvez, por um tempo, as ações
terroristas no Ocidente até se intensifiquem. Mas chegou a hora de constatar o
óbvio: o que se passa por lá e os braços que essa gente mobiliza no mundo
agridem a noção mais comezinha de humanidade.
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