sábado, 14 de novembro de 2015

Terror em Paris – O Estado Islâmico chegou ao Ocidente. Ponto!

Reinaldo Azevedo

Teóricos de um choque de civilizações entre os muçulmanos e o Ocidente certamente começarão a ser revisitados

Foi um ataque horripilantemente espetacular, a evidenciar que o mal já está na França — ou, se quiserem, está entre nós. Não é preciso ter muita imaginação para saber a origem: é claro que estamos falando do Estado Islâmico. Ainda que não se constatasse um liame formal com aqueles delinquentes, há um vínculo que é dado, vamos dizer, pelo espírito do tempo. Os franceses participam dos ataques aéreos às bases terroristas na Síria. O primeiro foi desferido no dia 30 de setembro.

Pois é… Depois de um ataque dessa dimensão, a França tem uma dupla preocupação. Com uma enorme população de origem árabe, o terrorismo encontra facilidades extras para se esconder entre pessoas decentes — sempre lembrando que o Estado Islâmico tem conseguido também, o que é espantoso, seduzir jovens ocidentais sem qualquer vínculo anterior com o islamismo.

E dessa realidade factual decorre um problema muito fácil de explicar e muito difícil de resolver. É claro que vão crescer o preconceito e a hostilidade às comunidades islâmicas de maneira geral — e árabes em particular. Por mais que se façam apelos à razão e que se demonstre que a maioria dos imigrantes e descendentes são pacíficos, é muito mais difícil combater o medo do que a efetiva ameaça.

Teóricos de um choque de civilizações entre os muçulmanos e o Ocidente certamente começarão a ser revisitados. Se tais teorias andaram, por um tempo, em baixa, o Estado Islâmico tem se encarregado de renová-las, uma vez que se mostrou capaz não de infiltrar terroristas em países ocidentais, como fazia a Al Qaeda, mas de mobilizar braços que já estão presentes nesses países.

Mais: a Europa vive uma espécie de transe com a chegada em massa de imigrantes muçulmanos, vindo das áreas da guerra, o que tem gerado a reação muitas vezes violenta de grupos xenófobos. É evidente que uma ocorrência como essa tende a acirrar ainda mais os ânimos.

E o pior de tudo é que resta um recado: esse terrorismo que consegue se esconder no seio da própria sociedade é muito difícil de combater. Infelizmente, não se faz isso sem um estreitamento das liberdades individuais e sem que cresça enormemente a vigilância do Estado sobre os indivíduos.
O terror não mata só pessoas. Mata também as liberdades individuais.

Os pelo menos 140 mortos provam que é preciso tratar Estado Islâmico de outro modo
Potências ocidentais têm de conversar com Vladimir Putin e lançar ataque terrestre fulminante, com ocupação de território

O novo e espetacular atentado terrorista em solo francês demonstra que o Estado Islâmico, que nasceu debaixo do nariz das potências ocidentais, é muito mais perigoso do que se imaginava. Parece-me que é chegada a hora de as tais potências se perguntarem se bastam ataques aéreos para contornar o mal.

Sim, eu sei o que estou perguntando, aparentemente em contradição com os fatos. Afinal de contas, o atentado foi praticado em solo francês. Quando se conhecer a identidade dos terroristas, é possível que haja franceses entre eles — se não forem todos nascidos na própria França.

Ocorre que esses “emissários” ou “representantes” atuam hoje em nome do que está pretendendo se estabelecer como uma pátria. Parece claro a esta altura que simples ataques aéreos são insuficientes para vencer os delinquentes.

Ainda que o terrorismo em rede prescinda de um território específico — os desta sexta, reitero, muito provavelmente são nativos da França —, o fato é que as amplas áreas ocupadas pelo Estado Islâmico dão a impressão de que existe também uma “pátria” pela qual lutar.

Por improvável e até, vá lá, exótico que pareça, chegou a hora de as potências ocidentais se sentarem à mesma mesa de Vladimir Putin e planejar uma ação terrestre e fulminante, com ocupação do território, nas áreas dominadas pelo Estado Islâmico.

Talvez, por um tempo, as ações terroristas no Ocidente até se intensifiquem. Mas chegou a hora de constatar o óbvio: o que se passa por lá e os braços que essa gente mobiliza no mundo agridem a noção mais comezinha de humanidade. 
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA, 13-11-2015

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