Rui Rocha
Não, senhor. Não mesmo. Por
muito que nos queiram fazer acreditar, o maior escândalo jornalístico associado
à tragédia de Pedrógão Grande não é um artigo
publicado no El Mundo sob pseudónimo, nem a reportagem da Judite, nem a
impreparação dos jornalistas, nem a repetição das frases feitas, nem a
exploração abusiva dos sentimentos e das emoções. Tudo isso levanta
naturalmente interrogações deontológicas e é susceptível de crítica cerrada.
Mas há pior.
Vejamos os factos. Temos,
desde logo, sessenta e quatro vítimas mortais, ao que parece doze desaparecidos
e centenas de feridos. É uma das maiores tragédias humanas à escala planetária
provocada por um incêndio florestal.
Temos depois a política da
floresta e de prevenção e combate a incêndios mais do que questionável ao longo
de décadas.
Temos os Kamov que não voam e
não servem para combater fogos.
Temos o SIRESP cuja aquisição
está envolta em suspeitas sérias e que não funcionou em várias situações de
emergência já conhecidas em 2016.
Temos uma estrada que não foi
fechada e onde morreram mais de quatro dezenas de pessoas.
Temos o camião de frio da Proteção
Civil que não funciona.
Temos a origem do incêndio que
é preciso apurar para lá das versões pré-estabelecidas. Tudo isto são factos
que um jornalista experiente deveria querer conhecer e aprofundar.
Como compreender então que,
entre outros, Paulo Baldaia e Fernanda Câncio se tenham apressado, no DN e com
os cadáveres ainda quentes, a decretar a inevitabilidade do sucedido?
Como é possível que tenham
prescindido imediatamente, perante tudo isto, da função essencial de jornalista
que é fazer perguntas? Este sim é o elefante no meio da sala do jornalismo
português, o escândalo que é preciso investigar. Com que propósito, em nome de
que interesses, a mando de quem abdicaram das perguntas para abundar nas
respostas?
Texto: Rui Rocha, Facebook,
25-6-2017
Título: JP
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