Péricles Capanema
Na esteira de ataques terroristas muçulmanos anteriores (2015 e 2016), atentados com traços parecidos traumatizaram em 2017 a França, a Inglaterra e a Alemanha, além de outras nações da Europa, indicando provavelmente um padrão que tenderá a se repetir. É o futuro do Velho Continente que está em jogo.
Lembro alguns desses
atentados. Em janeiro de 2015, uma série de cinco ataques na região de Paris
deixou 17 mortos e 22 feridos. Em novembro do mesmo ano, a casa de shows
Bataclan e vários outros locais sofreram atentados de radicais muçulmanos, com
137 mortos e 368 feridos.
Em 14 de julho de 2016, festa
nacional francesa, um extremista muçulmano jogou caminhão contra multidão que
passeava distendida em Nice: 87 mortos e 434 feridos. Na Inglaterra, em março
de 2017, na Westminster Bridge, um terrorista atropelou pedestres e esfaqueou
policiais, deixando cinco mortos e cerca de 50 feridos. Em maio, atentado
suicida em show da cantora Ariana Grande deixou 22 mortos e 129 feridos em
Manchester [foto abaixo, local no momento da explosão]. Logo depois, em
junho, terroristas muçulmanos jogaram uma van contra transeuntes na London
Bridge e esfaquearam pessoas nas imediações: 7 mortos e 44 feridos. Na
Alemanha, em dezembro de 2016, em mercado de Natal em Berlim, um terrorista
dirigindo um caminhão matou 12 pessoas e feriu 56. Na Suécia, em abril de 2017,
um caminhão utilizado como arma matou 5 pessoas e feriu 15. Evoco ao final o
padre Jacques Hamel, degolado por militantes do Estado Islâmico numa pequena
cidade francesa em julho de 2016.
São apenas exemplos das
agressões terroristas por toda a Europa. Seus mentores esperam acarneirar a
população; de outro modo, torná-la mais flexível a soluções favorecedoras dos
objetivos islamitas. E os atentados fazem parte de realidade maior,
destruidora, se a ela a Europa não resistir vitoriosamente.
Vamos a alguns dados
fundamentais. É de 1,6 a taxa de natalidade das mulheres alemãs, abaixo da
porcentagem de simples reposição, 2,1. Ou seja, cai continuamente a população,
hoje por volta de 82 milhões. O país necessita de 300 mil imigrantes anuais nos
próximos 40 anos para manter a população estável e, no médio prazo, garantir o
Estado do bem-estar social, ali construído desde fins da II Guerra Mundial.
Tais imigrantes, muçulmanos na sua maioria, têm vindo em particular da África,
Ásia e Oriente Médio. Convém ter em vista que a Alemanha chegou à atual
população por ter recebido 1 milhão de imigrantes em 2015 e 750 mil em 2016.
E na decisão de Angela Merkel,
de autorizar a entrada de mais de 1,5 milhão de imigrantes, terão pesado não
apenas razões humanitárias. Havia a necessidade de mão-de-obra jovem para
manter viável o Estado de bem-estar social.
Hoje, a Alemanha abriga mais
de seis milhões de muçulmanos, contingente que cresce aproximadamente 77 mil
pessoas por ano. Outro ponto: as populações muçulmanas na Europa têm média de
idade menor que a alemã. E a taxa de natalidade de suas mulheres é maior que a
das teutas. Se as atuais tendências persistirem, mesmo desconsiderando o efeito
da lei das reunificações familiares (um asilado, sob certas condições, pode
trazer parentes), mais de 25% por cento da população alemã será muçulmana em
2060. Situação parecida será vivida por outras nações europeias.
Problemas hoje graves tomarão
dimensão nova com o paulatino enraizamento e aumento de populações maometanas.
Entre eles, tribunais da Sharia (justiça privada e grupal), aumento da
criminalidade, poligamia, mutilação genital feminina, casamento de crianças,
violências — às vezes até assassinato — em nome da honra. Outros ainda:
extremismo islâmico, antissemitismo árabe, lutas nacionais e étnicas. A Europa
pode se tornar sementeira de terroristas, situação em parte já existente, pelo
generalizado recrutamento de homens-bomba e jihadistas por grupos extremistas
no interior de comunidades muçulmanas, protegidas pelas leis nacionais e
tornadas viáveis pelas redes de proteção social.
Como assimilar tal população?
Aqui está a principal questão. Há um fenômeno amplo: os muçulmanos gradualmente
estão se integrando à população. Em que velocidade e até que ponto? Faltam
pesquisas conclusivas, embora se creia que na Europa exista situação parecida
com a dos Estados Unidos, onde 32% dos educados no Islamismo não mais professam
tal religião na idade adulta e 18% do mesmo grupo admitem não ter religião. Na
Alemanha, metade dos 4,2 milhões de pessoas de origem muçulmana não se declaram
muçulmanos quando adultos. É o agnosticismo disseminado, que atinge também
todas as religiões cristãs.
Em sentido contrário,
subsistem e resistem raízes étnicas e costumes. É pequena a porcentagem dos
muçulmanos que se casam fora de sua religião. Na Alemanha, apenas 7,2% dos
homens e 0,5% das mulheres são casados com pessoa de outra religião. Leo
Lucassen e Charlotte Laarman, da Universidade de Leiden, estudaram o assunto.
Considerando Alemanha, Bélgica, Holanda, Grã-Bretanha e França, na segunda
geração, apenas 11% dos muçulmanos se casavam fora de sua religião.
Em resumo, temos assimilação
difícil, tanto mais que na Europa seus antigos moradores tendem a um
multiculturalismo esfarelado. Pouca prática religiosa, agnosticismo
generalizado, confusão mental. Apenas como exemplo, pesquisa recente indicou
que 19% dos suecos disseram ter alguma religião, 23% dos tchecos, 26% dos
holandeses, 30% no Reino Unido e 34% na Alemanha. A ausência de religião tem
reflexos na conduta moral e na orientação das concepções sociopolíticas.
A Europa, que se guiou outrora
pelo ideal de Cristandade, deu as costas a ele. Triunfou no campo secular um
ideário em torno de princípios do Iluminismo, como democracia, direitos
humanos, paz universal, apresentados como os novos fatores de união. Vão
perdendo força, esfarelando, como disse acima. No horizonte, sobe ameaçadora a possibilidade
da islamização, vencida militarmente pela Europa em 1456, 1571 e 1683, mas que
no século XXI volta mais insidiosa sob novos véus.
O que fazer? Falo como
católico. Em primeiro lugar, súplices pedirmos o auxílio da Providência.
Confiança, oração. Foi o primeiro e grande recurso de São João de Capistrano,
São Pio V e do Beato Inocêncio XI. A seguir, examinar o quadro inteiro com
objetividade, não enterrando a cabeça na areia, como muitos erroneamente pensam
ser a atitude idiota do avestruz. E apoiar medidas de oposição à derrocada das
muralhas, que precisam estar rígidas.
A saída vitoriosa, hoje
distante, é reatar com os princípios que inspiraram a Cristandade, forças vivas
em 1456, 1571 e 1683, aplicando-os, adaptados aos nossos dias. Na verdade, mais
que sitiada, a Europa está doente. O que a torna especialmente vulnerável à
ameaça muçulmana. E nós, latino-americanos, filhos espirituais de princípios lá
triunfantes, para desgraça nossa, padecemos em boa medida das mesmas
enfermidades.
Título, Imagens e Texto: Péricles Capanema, ABIM, 16-6-2017
Título, Imagens e Texto: Péricles Capanema, ABIM, 16-6-2017
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