Sérgio Barreto Costa
José Gomes Ferreira |
Meu caro,
Foi com enorme pesar que assisti
à entrevista que fez ao nosso querido líder. Como jornalista e investigadora na
área da comunicação social, fiquei boquiaberta com a falta de isenção e
parcialidade por si demonstradas. Apeteceu-me sugerir-lhe que se inspirasse nos
versos do poeta seu homónimo e se suicidasse por seis meses; ou, de
preferência, por mais algum tempo.
Não sei se esta minha missiva
adiantará alguma coisa; no entanto, quero poder dizer que tentei, como
professora de jornalismo que também sou, ensiná-lo a conduzir uma entrevista
equilibrada e imparcial a um chefe de Governo oriundo do PS, o único partido do
mundo que, adaptando Almada Negreiros, consegue conciliar a presença de todas
as qualidades com a ausência de todos os defeitos.
Deixo-lhe por isso aqui as
perguntas que deveria ter feito na passada quarta-feira:
– Boa noite, Sr.
Primeiro-Ministro. Após um ano e meio de intensa devolução de rendimentos
começam a surgir relatos de pessoas, idosos principalmente, que aparecem mortas
em casa, esmagadas pelo peso das notas e moedas que, entretanto, acumularam.
Não acha que chegou o momento de abrandar o ritmo de enriquecimento dos
portugueses?
– Dr. António Costa, agora que
as previsões de crescimento de 2,4% para 2016 inscritas no Plano Macroeconómico
de Mário Centeno foram largamente ultrapassadas pelo crescimento de 1,4% efetivamente
alcançado, não tem medo que as grandes potências económicas queiram contratar o
seu Ministro das Finanças?
– Ilustríssimo líder, depois
de ter anunciado a aposta no consumo interno e no investimento público,
verifica-se que foram afinal as exportações e o investimento privado a puxar
pela economia. Quando é que se lembrou dessa ideia genial de enganar o
crescimento com uma estratégia falsa para depois o apanhar desprevenido pelo
outro lado?
– Luz da pátria, pastor do
povo, será que o Sr. Dijsselbloem, agora que passaram três meses da ameaça de
demissão que lhe dirigiu, já consegue adormecer sem ansiolíticos?
– Babush, o líder do PSD tem
dito, com uma imensa lata, que o senhor anda a colher os frutos que ele
plantou. Até quando é que os portugueses terão de aturar disparates da boca de
um político que, tendo vencido as últimas eleições apenas por poucochinho, já
tinha mais era que ter abandonado a vida pública?
– Primeiro-Ministro-Sol, não
lhe parece que, dado o estrondoso sucesso da parceria PS/PCP/BE, seria boa
ideia avançar para uma revisão constitucional que ilegalizasse, para bem do
povo, os partidos feios, porcos e maus da direita portuguesa?
– Messias, a Presidente da
CMVM afirmou que as cativações orçamentais estão a colocar em causa o
funcionamento da instituição. Não estará na altura de organizar uma ação de
formação para todos estes ignorantes que continuam a confundir os saudáveis
instrumentos de rigor financeiro do seu executivo com os desumanos cortes
austeritários do último governo?
– António, light of my life,
fire of my loins. My sin, my soul. An-tó-ni-o: os portugueses merecem-no?
Certa de que não deixará de refletir
profundamente na fraca figura que fez diante de todos, dou por terminada esta
epístola.
Atentamente
Estrela Serrano
Título e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias,
14-6-2017
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