Leo Daniele
Alguém pode pensar que
não é relativista pelo simples fato de nunca ter lido filósofos relativistas
como Kant, Hegel, Anaxímenes etc. Ou então julga que estamos falando
de descaso, insensibilidade, ou ainda de relativismo moral, ou seja, de
imoralidade. Nada disso!
A mentalidade de que falamos é
um pouco de tudo o que está acima e algo mais. Se quem a possui julga que
estamos discorrendo sobre certo tipo de apatia, terá acertado,
pois para o relativista nada importa.
“Como assim? Sou relativista,
mas não apático. Gosto de movimento, de ação, de política, de trabalho, dos
meus negócios. Logo, não sou relativista!”
Ledo engano, pois é possível
gostar de movimento, de ação, de labuta, da família, e ser relativista. Uma
espécie de neutralidade, de indiferença, de inconsciência em relação ao mundo
em torno de nós, expresso na fórmula “deixa como está, para ver como
fica”, é a ideia fixa do relativismo. Este é o ponto.
Veja o que reconhecia o autor
de um libelo refutado por Plinio Corrêa de Oliveira:
“Havia algo demasiadamente
forte ao meu redor, que meus sentidos percebiam, mas que minha razão não
conseguia discernir, diante do que minha vontade não tinha como reagir” (Guerreiros
da Virgem, p. 48).
O libelo diz que “minha
razão não conseguia discernir, diante do que minha vontade não tinha como
reagir”. Portanto, o relativismo escapa à razão, e, como afirmava o
libelo, é todo um modo de ser, sem reação. Ora, reagir é preciso!
O que é o relativismo no
sentido em que o empregamos? É a falta de atenção, motivação ou
entusiasmo, exceto no que toca a si próprio. Para nós, o relativismo não é
apenas uma maneira de pensar, mas de ser. Localizado onde? Em cada um
de nós.
No relativismo de que estamos
tratando, há duas esferas: as coisas próprias a cada um, para as quais o
relativista pode ser um leão, e o mundo exterior, a opinião pública, que pouco
lhe importa. Algo só é relevante se disser respeito ao “eu, eu, eu”, mas se
concernir aos interesses da Igreja ou da sociedade temporal externa, a sua micrópolis repete
o “deixe como está, para ver como fica”. O leão se torna um molusco sonolento.
“Não me incomodem…”.
Relativismo é também
sinônimo de abatimento, marasmo, langor, desídia, desânimo. “O que me
preocupa são meus sonhos de uma vida confortável e segura, para mim e os
meus próximos! Fora disso, nada me interessa. Por exemplo, quanto ao triângulo
decisivo dos dias de hoje — Papa Francisco, Trump e Putin —, deixe-me
tranquilo. Eles estão lá fora, longe, e o que importa um defeito na minha
TV, isto sim!”.
“Ver julgar, agir” — eis a
regra de ouro de Santo Tomás de Aquino, que deve pautar a nossa conduta em face
dos acontecimentos, grandes ou pequenos. Atenção, motivação, entusiasmo, sim,
relativismo não! Reação sempre, ainda que só interna; cinismo, consciente
ou subconsciente, nunca! Relativismo, jamais! Ele é um “abismo cheio de
umidade, de trevas e de frio, e não o cume elevadíssimo de uma montanha cheia
de luz, de harmonia e de beleza.” (Plinio Corrêa de Oliveira,
“Legionário”, nº 64). O resto é apatia e, em algum sentido da palavra, cinismo,
ainda que o termo seja forte.
Dizíamos que o relativismo
pode ser seu pior inimigo. “Mas, por que, se não sou tão mau, e quero apenas um
pouco de tranquilidade?”
Um italiano, cujo nome me
escapa, afirma que Deus é o não-relativismo. Aqueles que dizem não querer levar
as coisas ao extremo são o contrário da perfeição e, portanto, de Deus, que é o
próprio ardor, no mais alto grau de perfeição, de todos os extremos.
Título, Imagem e Texto: Leo Daniele, ABIM,
18-6-2017
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