Cesar Maia
1. Macron emergiu para a presidência da França como uma vertente da
antipolítica, na medida em que seu partido foi criado menos de um ano antes das
eleições presidenciais.
2. O candidato favorito para um segundo turno contra Marine Le Pen,
candidata da extrema direita, era François Fillon, dos Republicanos de
Sarkozy. No início da campanha, eles
apareciam empatados e com o dobro das intenções de voto de Macron, ex-ministro
dissidente liberal do governo socialista de Hollande.
3. Fillon foi surpreendido por furos da imprensa, que mostravam que
sua esposa era funcionária fantasma de seu gabinete. Com isso, Fillon começou a
perder a batalha da ética. E mesmo sendo candidato do partido mais sólido da
França naquele momento -Os Republicanos do ex-primeiro ministro Sarkozy- em
poucas semanas deslizou para o terceiro posto.
4. A diferença a favor de Macron abriu e, com isso, as pesquisas,
já próximas às eleições, apontavam um segundo turno entre Macron e Le Pen, o
que implicava em uma fácil vitória para Macron, como aliás aconteceu.
5. As eleições parlamentares que decidiriam a composição do
parlamento viriam um mês depois, como aconteceu nos dois últimos domingos. As
pesquisas e a imprensa mostraram uma ampla vitória dos candidatos a deputado da
base de Macron.
6. Abertas as urnas no domingo passado, a base de Macron obteve 62%
das cadeiras. Uma ampla vitória como se prognosticava. Mas muito menos ampla do
que o que as pesquisas que falavam: 80% dos deputados.
7. Mesmo assim, esses 62% devem ser melhor avaliados. 55% foram dos
candidatos do En Marche, partido criado um ano atrás por Macron. E 7% do MoDem,
de François Bayrou, um partido de centro, que participou de eleições
anteriores. Bayrou renunciou à sua candidatura que andava pelos mesmos 7% que
seu partido teve. Passou a apoiar Macron.
8. Os 55% obtidos pelos deputados do En Marche serão
progressivamente mais e mais heterogêneos. Uma boa parte deles estreou em
eleições sem experiência partidária e muito menos parlamentar.
9. Reunidos sob a bandeira da renovação e de um liberalismo difuso,
eleitos pelo voto distrital uninominal em 577 circunscrições, a primeira e
grande tarefa da equipe de Macron será construir unidade programática.
10. O arrastão da vitória de Macron e, em seguida, de
"seus" parlamentares, produz, de partida, uma unidade na vitória,
desdobrando as linhas gerais dos discursos de Macron.
11. Mas num quadro de crise econômica na França, de crise na União
Europeia, com a emergência de movimentos nacionalistas anti-imigrantes,
anti-muçulmanos, a unidade na vitória terá que ser reconstruída no cotidiano do
debate político e das polêmicas medidas de corte liberal num quadro de forte
sindicalismo e tradição dos movimentos universitários -estudantes e professores.
12. A costura político-parlamentar de Macron não será simples,
especialmente porque o maestro entra sem experiência nessas coisas da política.
Acompanhemos os desdobramentos. Com muita atenção.
Título e Texto: Cesar Maia, 20-6-2017
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