Rodrigo Constantino
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TheSun.co.uk (video)
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Pensadores conservadores se
mostraram céticos ou pessimistas com a modernidade, em parte pela “morte” de
Deus e o que isso poderia significar: um “humanismo” racionalista e
utilitarista desprovido de valores absolutos, ou seja, relativismo moral e
niilismo. Um caso triste esta semana mostra que esses pensadores
tinham um ponto, e que a vida humana foi mesmo banalizada (enquanto a dos
animais só é valorizada).
Charlie Gard é um bebezinho
com uma doença terminal, e seus pais fizeram de tudo para salvá-lo, ou ao menos
mantê-lo vivo o quanto fosse possível. Mas Chris e Connie, os pais, perderam o
último apelo na Corte Europeia de Direitos Humanos. Eles desejavam levar o
bebezinho, de apenas 10 meses, para os Estados Unidos, para uma tentativa de
tratamento da sua condição genética rara.
Os médicos do Great Ormond
Street Hospital for Children, em Londres, onde Charlie recebia tratamento,
disseram que desejavam uma “morte digna” ao bebê. Mas o casal, de Bedfont,
levantou quase £1.4 milhão para levar o filho para a América e tentar
alternativas. As cortes deram ganho de causa aos médicos londrinos. Alegaram
que a decisão visa a evitar sofrimento e dor. O estado decide o destino do
filho deles, sentenciando-o à morte imediata.
Matt Walsh escreveu um duro ataque à decisão, que chamou de “um
horror”. Ele lembra que os pais não estão exigindo que o hospital mantenha o
bebê artificialmente vivo por máquinas. Lutam apenas pelo direito de tirar seu
filho de lá para levá-lo aos Estados Unidos e tentar outros tratamentos
experimentais. Que pais, tendo a condição para tanto (e eles buscaram essa
condição), abririam mão dessa chance? Walsh desabafa:
Aqui é onde as coisas ficam verdadeiramente loucas
e bárbaras. O hospital recusou-se a dar Charlie de volta a seus pais. A questão
acabou nos tribunais e, finalmente, nas últimas horas, a Corte Europeia
dos “Direitos Humanos” decidiu que os pais deveriam ser impedidos de levar seu
filho para os Estados Unidos para tratamento. De acordo com o tribunal de
“direitos humanos”, é o direito humano de Charlie que ele morra em sua
cama de hospital em Londres. Os pais não têm permissão para tentar salvar sua vida.
É “no seu melhor interesse” simplesmente morrer, eles decidiram.
Na Europa, “morte com
dignidade” supera qualquer outro direito. Na Europa, uma mãe pode matar seu
bebê, mas ela não pode mantê-lo vivo. Novamente: bárbaro.
Ouvi dizer que muitas pessoas racionalizam essa
decisão demente dizendo que “os médicos sabem melhor”. Isso pode ser relevante
e verdadeiro em situações em que os membros da família estão tentando forçar os
médicos a administrar tratamentos que eles, os profissionais médicos, sabem que
não funcionarão. Mas não é o que está acontecendo aqui. A única coisa que esses
pais estão tentando “forçar” os médicos a fazer é relaxar seu controle para que
a criança possa ser levada a médicos diferentes em um país diferente. Os
médicos podem ser a autoridade final em que tipos de medidas médicas devem
tomar pessoalmente, mas não são a autoridade final sobre a vida em si. É uma
coisa eles dizerem: “Não vou fazer esse tratamento”. É bem
diferente dizer: “Você não tem permissão para fazer esse tratamento por ninguém.
Você deve morrer”. O primeiro é razoável. O último é a eutanásia. Este bebê
está sofrendo eutanásia. Por bárbaros.
Para Walsh, esse é o resultado
da medicina socializada, de quando os pais têm seus direitos
subordinados ao estado, e de quando a vida humana não é mais sagrada.
Talvez a vida das baleias ou das tartarugas despertem mais comoção hoje do que
a vida de bebezinhos com doenças terminais, pois é proibido “sofrer”. De fetos
no ventre, então, nem se fala! Esses podem ser simplesmente eliminados como se
fossem parasitas, e os “direitos” das mulheres atropelam qualquer direito à
vida do bebê. É como se ela fosse cortar a unha ou o cabelo, e ponto final.
Não dá para ver isso e não
conceder um ponto aos conservadores pessimistas, que enxergaram a decadência de
valores morais após o Iluminismo “racional”. Algo se perdeu, e foi a noção do
sagrado para a vida humana, um valor absoluto.
No filme “A Praia”, com
Leonardo Di Caprio, uma turma meio hippie pretende construir uma utopia
igualitária numa ilha isolada, onde tudo gira em torno da “felicidade”. A
obsessão utilitarista faz com que dois colegas, vítimas de um ataque de
tubarão, fiquem largados na praia para morrer, enquanto a música na festa é
aumentada para que seus gritos de dor não cheguem aos ouvidos dos presentes.
Tudo para manter a “felicidade”, até mesmo fechar os olhos para a realidade e
se tornar desumano.
O “humanismo” moderno merece
mesmo passar por uma boa reflexão, pois se continuar assim, acabará se
transformando em algo um tanto monstruoso…
Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 29-6-2017
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ResponderExcluirQuem tem autoridade sobre os filhos: os pais ou os juízes?
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