Nome de Guerra: Canedo (quando criança: Caveira)
Onde e quando nasceu?
Rio de Janeiro. Clínica São José (Botafogo), 8 de novembro de 1973.
Onde estudou?
Em diversos locais.
Jardim: Lampião
Inicial: ECO - Escola de Educação Comunitária
Anglo Americano
E M Dom Pedro I
CBT - Colégio Barra da Tijuca - Veiga De Almeida
CBT - Colégio Barra Da Tijuca -MV1
LSU - Lousiana State University
Colégio PH
Universidade Cândido Mendes Ipanema - Direito
Universidade Cândido Mendes - Pós em Direito do Consumidor
Universidade Estácio de Sá - Pós em Direito do Trabalho e Previdenciário
Onde passou a infância e juventude?
Vivi até os 6-7 anos no Grajaú.
Em 81-82 mudei para a Barra da Tijuca (Posto 3).
Em 1987 fui obrigado a voltar para o Grajaú, mas dessa vez para casa
de meus avós paternos. Lá permaneci por uns oito longos meses.
Voltando à Barra em 1988 fui morar no Barra Deck. Creio que morei lá
por uns três anos.
Voltando para o mesmo local do Posto 3, morei até janeiro de 1991
quando fui morar em Baton Rouge, Louisiana.
Após um ano, Collor me fez voltar.
Qual (ou quais) acontecimento marcou a sua infância e juventude?
Tiveram diversos momentos marcantes em minha infância e juventude.
Muitos prefiro não remexer, mas quando tinha 14 anos minha mãe cometeu
suicídio e eu apaguei o fogo que ela ateou no corpo. Dois dias depois veio a
falecer.
Por que partiu para Baton Rouge?
Parti para Baton Rouge [foto], na esperança de estudar inglês e
posteriormente cursar International Trade and Finance na LSU.
Qual a culpa de Collor no seu regresso?
Com o bloqueio das poupanças, meu pai achou melhor voltar para o
Brasil do que tentar a vida no exterior.
Quanto tempo ficou em Baton Rouge? Como é a cidade?
Fiquei pouco menos de um ano. Parti de Baton Rouge por pressão de meu
pai para voltar ao Brasil.
Quando começou a trabalhar?
Meu primeiro trabalho foi de instalador de rádio em veículos. Na
época, os carros não vinham com o som de série, e eu confeccionava a tampa de
porta-malas com alto-falantes, passava fiação etc.
Depois, passei um ano assentando manilha de esgoto nas favelas da zona
sul do Rio.
Daí fui pingando de coisa em coisa para ganhar um trocado.
Retornando ao Brasil, já na faculdade, estagiava o dia inteiro,
cursava à noite e estudava pela madrugada e fim de semana.
Fazia de tudo para juntar um troco, evitava pegar ônibus sempre que
podia para juntar a grana do chopp do fim de semana.
Quando concluiu a faculdade de Direito?
Terminei a faculdade de Direito em 1997. Minha meta era prestar
concurso. Fiquei por uma questão para delegado de polícia no Rio e promotor de
justiça no Ceará.
Infelizmente, minha madrasta ficou incomodada com minha presença
estudando e fez pressão para meu pai me expulsar de casa. Tive então que
advogar.
Posteriormente, fiz duas especializações.
Em “Direito do Consumidor” e em “Direito do Trabalho e
Previdenciário”, certo?
Exato. Ambas as especializações.
Suponho que desde 1997 continue advogando... por conta própria ou num
escritório de advocacia?
Continuei advogando até 2007. Quando fui empresário e acabei montando
uma transportadora com minha ex. Daí falo, graças a ela. Longa estória.
Em 2013 voltei a advogar, mas recolocar é muito complicado.
“Graças a ela” o início ou o fechamento da transportadora?
Meu esporte sempre foi tiro desportivo. Ela se aproveitou dessa
situação e inventou quatro acusações da lei Maria da Penha e me afastou da
minha empresa. Passou a administrar com a procuração da mãe com 1% e cessou
todos os pagamentos...
Depois dessa experiência voltou para a advocacia?
Sim, voltei a advogar. Entretanto, não quero criar raízes no Rio. Hoje
administro a vida da minha avó (94 amanhã) e quando ela se for me mando para o
interior do Rio Grande do Sul.
Minha separação me traumatizou muito e me prejudicou sobremaneira.
Minha atual esposa é gaúcha.
O que significa “administro a vida da minha avó”??
Minha avó fez hoje 94 anos. Há 4 anos sofreu AVC. Minha mãe era filha
única e minha irmã tem quatro filhos. Daí sobrou para eu cuidar das necessidades
da vovó.
Cuido de tudo. Faço compras, feira, administro cuidadosas, contas,
médicos, medicamentos, manutenção da casa, lazer, psicóloga, contador,
impostos, e tudo mais o que for necessário. Na verdade, tive de abrir mão de
muita coisa por não ter minha mãe e ter a função de cuidar da vovó.
E por que não “quer criar raízes no Rio”?
Odeio o Rio. Acho absurdo o preço para conviver com o trânsito,
violência e ausência de contrapartida governamental. Desde que me formei quero
sair do Rio, só fiquei por causa da minha avó.
Decidi abrir mão de parte da minha vida para cuidar dela. Não pensava
que ela fosse durar tanto, mas não me arrependo. Sou feliz por cuidar dela,
apesar da falta de reconhecimento de minha irmã. Enfim, quando ela partir, eu
também partirei.
Para aonde pensa partir?
A ideia é ir para a serra gaúcha.
Lá, montar algum negócio e irei prestar concurso público.
Certo. E por que um carioca botafoguense quer ir para o Rio Grande do
Sul?
Rapaz, sou flamenguista, mas minha família fundou o Botafogo. Quero ir
para uma terra mais organizada e longe da minha ex.
Que tipo de negócio você pensa montar?
Tenho um leque de opções de negócios para montar lá. O cunhado da
minha esposa tem um pub em Gramado. E uma opção em Canela.
Tenho plano também de pegar um sítio e produzir alimentos orgânicos e
artesanais.
E sempre a opção de uma franquia como lotérica.
Mas meu foco também será concurso público lá, visando aposentadoria.
Você acha que o Estado do RS é mais bem governado do que o Estado do
RJ?
Quanto ao governo de lá não é que o RS seja exemplo de
administração. Se fosse assim, iria para
o ES, onde tenho família.
Ocorre que amo o clima e a cultura de lá. E acho um lugar mais
agradável para envelhecer. Sem contar a oportunidade de passar de moto para os
países do Sul. Acho que vou curtir mais a vida.
Mas, por enquanto e até a sua transferência para o RS, exerce alguma
atividade além do cuidado com a sua avozinha?
Hoje ainda advogo no RJ, mas como disse não quero criar raízes.
Em decorrência da minha trágica separação sofro execuções contra a
minha empresa que me foi tomada pela ex.
Minha ex é pessoa do mal, ligada ao pessoal da pesada de milícia e
atividades não confiáveis. Somente tive conhecimento deste fato ao longo da
relação. Temo até por minha vida ao fim de todos os processos em andamento.
Assim, luto em diversos processos contra quem não tem o que perder e
tenta a sorte.
Eu, que estava com minha vida "pronta" estou recomeçando.
Quanto a vovó, faço o que está ao meu alcance. Doo minha vida a ela há
quinze anos. Não tenho férias e tive que abrir mão de dedicar atenção de peso à
minha profissão.
Minha avó mora na Barra da Tijuca e tem cuidadora 24 horas,
fisioterapia diária e todo conforto. No
mais, entrego tudo o que ela precisa com todo o cuidado que nos é
possibilitado.
Tudo o que entra é comprado com antecedência, higienizado e
posteriormente entregue por mim.
As cuidadoras usam máscara e luvas para contato etc.
E o Brasil, como está sendo cuidado?
Resposta difícil: quem pode confiar no que é veiculado?
Só sei que o povo terá o que merece.
Se a nata está preocupada com bar e socialização e sexo casual, o que
dizer?
O pobre precisa sair para sua batalha diária. Esse tem o porquê.
O governante bem intencionado não tem como fazer milagre. No RJ temos
um time de basquete no presídio. Tá feia a coisa.
Nossa! E eu pensando que o governo de Jair Bolsonaro estivesse
aproando o Brasil…
Ele bem que tenta, mas a máfia não quer largar o osso. Difícil fazer
algo sozinho, né?
Dá para explicitar quem é essa máfia para os nossos leitores da
Grã-Bretanha?
Chamo de máfia as gerações de políticos que não se renovam em favor do
status quo.
O que você faz para se contrapor à “máfia”?
Não me resta muito o que fazer para me contrapor a esses crápulas
tendo em vista que o poder mais corrupto e privilegiado é o Judiciário. Como combater o bandido se ele te julga?
Jim, hoje não é um bom dia. Acabei de enterrar meu filhinho.
Poxa! Sinceras condolências!
O que se passou?
Câncer. Pensávamos que era só tirar o baço, mas já havia metástase.
Ele foi com o menor sofrimento possível.
Mudando o abajur de foco: quantos anos tinha quando levou a lombada da
Varig? O que fez para se reinventar e se sustentar?
Estou num momento de decisões semelhantes e gostaria da voz da
experiência.
Canedo, me aposentei pelo INSS em 1997.
Nos últimos meses de 2001 fui gentilmente pressionado a
me aposentar. Tinha 51 anos, a proposta financeira era boa: trinta e seis
promissórias com um valor maior do que eu ganhava mensalmente. Mas não foi só o
lado financeiro, foi também e muito o lado emocional. Fui chamado à sala do
Gerente do Comissariado de Voo, que era engenheiro (!). Entrei na sala
firmemente disposto a contra argumentar, ainda tinha muito gás… mas, à medida
que o engenheiro falava, eu ia concluindo que aquela não era mais a minha
empresa, nem o grupo era mais o meu. Respondi “onde é que eu assino?” Recebi
todas as promissórias. A empresa não me deve nada, nem eu a ela.
Aos 53 anos me aposentei pelo Instituto Aerus.
Tudo ia bem até abril de 2006, quando acontece a
intervenção federal no Aerus. Passei a receber 8% do benefício. Isto é, de
cinco mil passei a receber quatrocentos reais.
Morava no Novo Leblon. Ainda resisti durante uns meses.
Entretanto, a reserva ia acabando…
Me mudei para um bairro novo em frente ao autódromo…
troquei o meu Eco Sport, por um Palio usado de locadora…
A família (ascendentes e descendentes) ia se
preocupando…
A aposentadoria do INSS não era suficiente…
Até que em fevereiro de 2010 me mudei para um
apartamento pertencente à família, em Massamá, onde me escondo atualmente, e
cujo condomínio mensal é menos de trinta euros.
Eu lembro dessa porrada. Só não sabia que era tão pouca grana.
Hoje tenho 46 anos e me enchi do Direito. Mudando pro Sul irei tentar
algum concurso para me manter e me aposentar aos 75. Nunca contribuí para o
INSS.
Como ganhei muita grana na empresa pensei estar tranquilo. Até que
levei o golpe da ex. Tenho que me recriar…
O Brasil não tem jeito?
Enquanto não houver uma revolução o Brasil não tem jeito. Só mudará o
status quo com prisões e sangue derramado.
Creio que em breve a Argentina acenda este estopim e, se Deus
permitir, seguiremos no mesmo barco.
Hoje, tenho esposa com uma filha linda de 17 anos. Nada é perfeito,
mas é uma pessoa do bem, cuida muito de mim e cuidava dos meus filhos que
partiram (cães).
Uma pergunta que não foi feita?
Acho que não, amigo.
A derradeira mensagem:
“Se vis pacem,
para bellum"
“Carpe diem, quam
minimum credula póstero”
A vida não é fácil, mas é muito bela. Aproveite o dia de hoje!
Obrigado, Canedo!
Conversas anteriores:
Boa sorte Canedo. Ser solidário é uma grande virtude que levamos na nossa vida. Abraços
ResponderExcluirTambém desejo boa sorte ao Canedo. Gostei da entrevista, da história humana, da perseverança diante dos muitos obstáculos que enfrentou e ainda enfrenta, sem perder a coragem, sem se deixar vencer. Conseguiu refazer a família (esposa e enteada), continua sonhando com uma vida mais tranquila. O Sul do Brasil é um bom lugar, pelo povo e pela cultura, apesar dos governos. E o mais bonito é o cuidado com a avó (muito linda a sua avozinha, Canedo!). Isso não tem preço e já lhe garantiu muita paz e uma velhice tranquila. Você é uma pessoa abençoada!
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