quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dilma procura recuperar votos católico e evangélico

Suzana Salvador, Diário de Notícias
Tema do aborto e declarações polémicas terão afastado os eleitores da candidata do PT.
Foto: Eraldo Peres/AP
"Nem Cristo vai impedir que eu vença na primeira volta." A frase foi atribuída a Dilma Rousseff, mas a candidata do Partido dos Trabalhadores garante nunca a ter proferido. Mas pode ter sido ela, juntamente com a temática do aborto, que custou à ex-ministra de Lula da Silva o voto de muitos católicos e evangélicos - que optaram por votar em Marina Silva. Resultado: Dilma tem de ir à segunda volta com José Serra (Partido da Social Democracia Brasileira).
Numa reunião com governadores e senadores aliados, a candidata terá apontado a questão religiosa como um dos três pontos que lhe custaram votos - além dos escândalos da Casa Civil e da quebra do sigilo fiscal da filha de Serra. De acordo com o jornal O Globo, Dilma disse que a oposição usou "a pior calúnia, aquela que não se identifica, através de uma campanha que ocorreu em surdina, na Internet" para dizer "falsidades, mentiras" em relação a "questões religiosas de valores".


Em causa está a divulgação em vários sites da frase que Dilma nunca terá dito, mas que levantou inúmeras críticas. De acordo com vários líderes católicos e evangélicos, que apoiaram a candidata do PT, o facto de a sua equipa ter demorado muito tempo a reagir poderá ter-lhe custado muitos votos.
"Se tivéssemos apagado o incêndio no primeiro momento, o resultado seria outro", afirmou Manoel Ferreira, presidente da Assembleia de Deus de Madureira, ao Globo. Por seu lado, o senador Marcelo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus, reconheceu que muitos pastores fizeram campanha contra Dilma por causa desta situação e da indecisão em relação ao aborto.
Durante a campanha, os media brasileiros recordaram que, em 2007, Dilma defendeu abertamente a descriminalização do aborto. Contudo, recentemente, disse ser contra a proposta - que faz parte do programa do PT. Diante dos resultados de domingo, o partido está a equacionar retirá-la, para não prejudicar Dilma. Os especialistas acreditam que muitos dos votos que Marina ganhou sejam de evangélicos. Não só porque a própria candidata do Partido Verde é da Assembleia de Deus, mas também porque sempre afirmou ser contra a legalização do aborto.
Mas Dilma parece ter aprendido a lição do poder da Internet, que acusa os opositores de usarem para passar mentiras. Nas redes sociais, o PT já passou ao ataque. O responsável pela comunicação do partido, André Vargas, escreveu no Twitter (micro-blogue): "O Brasil verdadeiramente cristão não votará em quem introduziu a pílula do dia seguinte, que na prática estimula milhões de abortos: Serra." Contudo, a Folha de São Paulo lembra que esta foi aprovada antes de o candidato do PSDB ser ministro da Saúde.
Tanto Dilma como Serra vão procurar captar os votos de Marina na campanha para a segunda volta, no dia 31. O antigo governador de São Paulo não perdeu tempo e já começou a fazer referências às questões do meio ambiente. Segundo o Correio Braziliense, Serra definiu o tema como "uma área prioritária, não um apêndice".
O candidato do PSDB tem contudo, de acordo com O Estado de São Paulo, outra preocupação: arrecadar fundos. Os montantes que o partido conseguiu angariar na primeira volta já tinham ficado aquém do esperado e a ordem é para procurar os pequenos e médios empresários.
Para a segunda volta, Serra deverá apostar também em fazer campanha nos estados em que o PSDB elegeu governadores: São Paulo, Minas Gerais e Paraná. E mudar de slogan: "Brasil pode mais" dá lugar a "Serra é do bem", que já usou em 2004 quando foi eleito para a câmara de São Paulo.
Suzana Salvador, Diário de Notícias, 06-10-2010

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