Yara Chiara

Assim como Caetano não indulge em certas coisas, a persiana da Vanda fica permanentemente arreada, edição após edição.
Ou o cantor que estranha a presença de acento agudo em “Gadú” acha normais os erros mais esdrúxulos [o certo é "arriada"]?
Que Caetano acuse de grosseiro quem já debateu seriamente o mérito literário de Chico Buarque enquanto escreve uma diatribe de viés estritamente pessoal, sem manifestar-se uma vez sequer sobre por que Chico seria, afinal, um bom escritor, não denota lá muita coragem. Que traga a política quando, em teoria, condena a politização das críticas a um prêmio literário, trata-se já de certa ausência de autocrítica.
Também o incomoda a existência de pseudônimos. Para Caetano, opinião só vale com “CPF na nota”: o importante é quem opina, e não o que se diz, no mundo em que a fabricação e a projeção da imagem constituem a essência das coisas.
Chico Buarque é mau escritor com ou sem petição, com ou sem prêmio: os leitores e os escritores de respeito discordam do clube que outorgou a Chico a premiação. Eu não coloquei nem nome nem pseudônimo na petição: ela não me interessa. Não acho que Chico deva devolver o Jabuti - a ordem das coisas exige que se critique, antes de tudo, quem conferiu o prêmio, não o ato de recebê-lo, de que Chico é, a essa altura, vítima inescapável.
Jamais encontrei quem goste da obra literária de Chico Buarque, embora conviva com leitores ávidos diariamente. Sempre encontro reservas: “É bom letrista, mas muito fraco como escritor”, dizem. Foi o que disse, basicamente, Wilson Martins, a quem não se pode acusar de ter sido um ignorante literário ou um político da literatura.
Como Caetano Veloso lida com a crítica do saudoso Wilson Martins a Chico Buarque? Qual é o posicionamento de Caetano quanto a “Chico escritor”?
Como Caetano Veloso lida com a crítica do saudoso Wilson Martins a Chico Buarque? Qual é o posicionamento de Caetano quanto a “Chico escritor”?
Versado no mundo da psicanálise, Caetano deveria “saber melhor” (should know better…): não há algo de regressivo nessa história de ficar trazendo a figura do pai para o debate? Sérgio Buarque foi um dos fundadores do PT, mas não um sobrevivente de Auschwitz: seu legado é principalmente, ou mesmo exclusivamente, intelectual. Um legado notável, sem dúvida, de que Chico não é herdeiro - o cantor pode ter adotado atitude política semelhante à do pai, mas certamente não herdou o mesmo brilho para a análise política ou sociológica. Daí que, com entusiasmo juvenil e rigor escolar, ainda esteja ao lado do PT, apesar da história, algo que Sérgio Buarque se negaria a fazer.
Não consigo ver o mestre de “Raízes do Brasil” ao lado de mensaleiros, populistas, demagogos e censores da democracia.
Também José Serra foi perseguido pela ditadura. Aliás, teve de fugir de duas, e creio que, como governador do maior Estado da Federação, não tenha deixado um legado de perseguição política. Foi bem o contrário. José Serra está entre os poucos políticos perseguidos na ditadura e na democracia desvirtuada do PT: falar do ex-governador sem mencionar as palavras “dossiê” e “quebra de sigilo” é condescender com o autoritarismo.
Caetano sente que encarna a História. Eu não tenho essa pretensão. Na verdade, tenho medo de quem a tem: é gente que costuma a passar sobre os “excluídos da história” como escavadeira.
Acho mais bonita a história encarnada por José Serra, em que a preocupação social legítima não se deixou afogar pelo populismo, pela baixaria, pela corrupção, pela intolerância. Só um democrata aceita perder as eleições da forma como José Serra o fez. O PT jamais aceitaria - tanto é assim que, para vencer, utilizou-se de tudo: do dinheiro público à depredação institucional, do discurso rancoroso e monopolista à mentira institucionalizada.
As pessoas crescem e fazem suas escolhas.
Algumas não crescem nem escolhem, mas acabam sendo escolhidas pelas vagas do momento, pelos ventos da estação, e jamais deixam de ser exatamente isso: escravos do preconceito alheio.
Título e Texto: Yara Chiara, 29-11-2010
Que isso?
ResponderExcluirSerá uma "Tia Ryara" chiando?
Tal qual "Tio Rei", o livro de Chico é apenas pretexto, o grande motivo é a posição política dele.
Também gosta de textos longos, para poder atacar o maior números de pessoas possíveis ou muitos ataques ao mesmo....
Os livros de Chico Buarque não são para leitores medianos. Foi que ouvi um professor de faculdade dizer em uma banca de defesa de dissertação em que o objeto de analise eram os livros de chico Buarque, logo se a academia diz isso não importa o q os outros dizem afinal é muito coincidência em um ano de eleição (2010) e com a posição de Chico bem definida, isso é só perseguição politica. Cara Yara, acho q esses seus amigos leitores devem ser profundos conhecedores de livros de autoajuda talvez vc também precise ler já que não chega a ser uma leitora mediana.
ResponderExcluirAinda ontem comentava sobre a "inteligência" de livros, filmes (como os de Glauber Rocha) e do, vamos dizer, corporativismo intelectual e esnobe que elege, justamente, "obras" que ninguém entende e que quase todos têm vergonha de dizer que é uma merda por medo de serem apontados como "medianos" por anônimos que se acham...
ResponderExcluirO livro Budapeste eu não li mas assisti ao filme. Nem eu conseguiria fazer porcaria igual. Só tem banalidades, do começo ao fim. Se o livro tiver a história do filme, meus pêsames ao grande letrista Chico. João.
ResponderExcluirMinha impressão é que o Chico, se julgando genial, não reescreveu seus livros, por isso viraram uma porcaria (sic). Quem escreve sabe que um romance pra ficar bom tem que ser reescrito muitas e muitas vezes, e o Chico não fez isso, na ganância de se mostrar escritor. João
ResponderExcluirFica claro,mesmo disfarçando no texto acima, que a crítica é para a ideologia de Chico, e não para sua obra. Tanto que a certa altura elogia-o como letrista. Se bom letrista, bom escritor! Quem faz versos bem escreve bem! Vide Fernando Pessoa! Talvez a obra não contribua para o enriquecimento da literatura enquanto romancista, porque gostos são contraditórios, mas enquanto poeta vivo, é o melhor do Brasil. Quiça da língua portuguesa! E arriado ou arreado é erro na revisão da editora, porquanto ambas as expressões existem na língua portuguesa. Embora com significados diferentes!
ResponderExcluirRealmente não sei porque o cavalo defeca bolinhos e a vaca tortas enormes.
ResponderExcluirNão entendo por causa do cheiro.
Aliás temos no bairro brasilis vários prêmios NOBEL de literatura.
O acima citado deve ter escrito um "monte" de "best sellers".
Nós perdemos tanto em cultura, que não existe poetas VIVOS contemporâneos de quilate.
Até nossa música perdeu-se nas rimas doentias e chulas.
Eu vou dar um FUI... gigantesco antes que alguém leu o alquimista me diga que PAULO BOSTELHO É UM GRANDE ESCRITOR.
Filosofia
Você quer mesmo saber
como a vida se levar?
Pois é... primeiro viver
e depois, filosofar...
Diz que é rico... Pode ser...
Mas pode ser que não seja...
Ser rico... é apenas poder
fazer o que se deseja. . .
Nessa eterna e dura lida
renasço a cada momento
lavando as dores da vida
no rio do esquecimento...
Onde o sonhar de outra idade?
A fé que tive, e perdi?
Hoje... chego a ter saudade
daquele ... que já morri...
(Poema de JG de Araujo Jorge
do livro – Cantiga do Só – 1964)