![]() |
Aminatu Haidar |
A 'Gandhi sarauí', como é conhecida, diz temer uma guerra civil entre sarauís e marroquinos, depois de Rabat ter decidido ontem desmantelar à força o acampamento de protesto nos arredores de El Aiún. Há um ano iniciou uma greve de fome de 32 dias, no aeroporto de Lanzarote, até conseguir que a deixassem voltar a casa, sofrendo até hoje as suas sequelas
Antes de começar esta entrevista esteve a rezar...
Pensei no meu povo. Estou sempre a pensar nele.
Porque é que não participou no acampamento sarauí, que ontem foi desmantelado à força?
Não participei para não dar pretexto a Marrocos para nos acusar de ser separatistas. Mas mesmo não estando eu lá, apesar de ser o meu dever lá estar com os sarauís a reivindicar os seus direitos sociais e económicos, Marrocos optou pela repressão.
Esperava que Marrocos pudesse tomar esta opção?
Era muito provável.
Diz temer uma guerra civil.
Tenho medo disso.
Mas quando fala em milícias marroquinas está a referir-se a quantas pessoas?
Marrocos levou a cabo uma política de mudança do mapa demográfico dos territórios, povoando-os com marroquinos. E as milícias, que juntam milhares, estão em todos os bairros. Nas avenidas em que há lojas de sarauís destruíram tudo. Estas milícias têm o apoio da polícia e não temem nada nem ninguém.
Esta acção surge no dia em que recomeçavam as negociações Marrocos-Frente Polisário. Afirma que isso para si não é uma coincidência.
Não é, de todo.
Mas como sabe que Marrocos não quer negociar?
Não tem nada para negociar. Marrocos mantém-se obstinado em defender uma única opção, que é a da autonomia. Mas não tem condições para a defender. Esta mesma população a quem quer dar a autonomia é aquela que reprime hoje.
Ainda acredita na realização de um referendo sobre a autodeterminação do Sara Ocidental?
Sim. Se houver uma reacção concreta por parte da comunidade internacional.
E quem deve participar nele?
Os sarauís.
Incluindo os que vivem fora?
Sim.
Depois do que aconteceu ontem, que tipo de reacção espera da comunidade internacional?
A França deve assumir a responsabilidade de defender o direito internacional. Este é um povo que sofre a repressão por causa de uma ocupação ilegal. É um povo que inventa formas de resistir e defende os seus direitos. A França deve saber disso e permitir a aplicação de um referendo de autodeterminação. Para que o povo sarauí seja quem diz a última palavra pois é ele que pode decidir o estatuto político definitivo do território.
Lançou um apelo a Portugal. O que espera que faça?
Portugal, como membro da UE, como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU - sei bem que é só a partir de Janeiro mas para mim é praticamente como se já estivesse -, deve desempenhar um papel fundamental. E sobretudo pelo facto de que Portugal teve um papel muito importante a favor de Timor-Leste. O povo português é um povo muito sensível aos direitos humanos.
Há quase um ano, iniciou 32 dias de greve de fome em Lanzarote. Como recuperou disso?
Ainda não recuperei, sofro ainda as sequelas e estou muito fraca. Mas moralmente estou bem.
Estava disposta a morrer?
Era contra a injustiça e a cumplicidade do Governo espanhol com o marroquino. Estava decidida a ir até à morte se não me deixassem regressar à minha pátria e abraçar os meus filhos.
Ao longo desse tempo sentiu o conflito interior entre a mãe e a activista dos direitos humanos?
É verdade e, por isso, é que evitava falar com os meus filhos. Hoje vivem com medo, já acham que tudo é possível, perguntam o que vai acontecer. Estão preocupados com o que se está a passar.
Chamam-lhe a "Gandhi sarauí". Aceita esta designação?
É um orgulho, porque é uma pessoa que deu muito à humanidade com a não violência.
Que diferenças vê entre Mohammed VI e o pai, Hassan II?
Não há diferenças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-