quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"All about" Cavaco

Chega ao fim a campanha para as presidenciais com o seu conjunto de improváveis candidatos de que Cavaco é a excepção. Digo-o porque Alegre foi-se tornando ele próprio improvável, quer pela força das circunstâncias em que vivemos, excepcionais, supervenientes mas obviamente previsíveis, quer pela sua manifesta dificuldade em geri-las com o BE a servir de mentor. Uma campanha indigente, acessória e marginal, descentrada de tudo o que realmente interessa a Portugal e aos portugueses, na qual as ideias foram substituídas por lixo comum.

Cavaco Silva em Viseu, 19-01-2011. Foto: Divulgação
Se é certo que as eleições presidenciais são habitualmente pouco mobilizadoras num país que sempre se deixou governamentalizar, pensei que nas actuais circunstâncias recuperassem a devida importância: numa crise de grande incerteza e insegurança institucional o poder do Presidente reforça-se naturalmente. A provável entrada do FMI, o número crescente de de-sempregados, o efeito das medidas de austeridade em famílias endividadas e vulneráveis, a agitação social, a problemática recuperação da economia apontam, agora com maior probabilidade, para que o próximo presidente possa ter de recorrer aos mecanismos de intervenção que a Constituição lhe outorga.

Foi uma triste campanha esta, cujos candidatos improváveis - até para eles próprios - tiveram como único objectivo roubar espaço aos dois candidatos prováveis, vulgarizando o nível do debate político ad nausea. Um objectivo que pode ter efeitos na abstenção, cansando e confundindo os cidadãos desgostados com a política.
A democracia é o único regime que permite candidaturas improváveis, votos equivocados e a possibilidade de, com olímpica indiferença, o eleitor não exercer o seu pessoal e intransmissível direito a votar. Este conjunto de atributos constitui parte das suas fraquezas. O português indigna-se nas chamadas redes sociais, fá-lo mesmo com arte, versejando com graça, inventando anedotas. Perora nas ruas, nos cafés, nos transportes públicos. Fá-lo do mesmo modo e pelas mesmas razões porque não vota ou vota mal. A mim, digo, parece-me incompreensível mas num país onde se assiste à morte lenta das ideias a tendência, sabemos, é para comentar e repetir comentários, prescindir de qualquer sentido crítico e, sobretudo, do futuro como se não houvesse amanhã.
A primeira escolha no domingo, dia 23, é entre votar ou ficar em casa. Mas ninguém responsável pode ficar em casa porque a abstenção não é um voto de protesto mas sim um voto perdido, um direito por exercer. A segunda é entre Cavaco Silva e Manuel Alegre. Quem votar Alegre vota numa visão política marcada por uma esquerda antiga cujas bandeiras o próprio socialismo desfez. É uma visão irrealista como ele próprio descobriria se alguma vez fosse eleito. O mundo mudou muito nas últimas décadas e perceber isso é fundamental para quem venha a ter poderes de representação e decisão política ao mais alto nível. Alegre em Belém seria pois, em última análise, uma desastrosa simbiose entre um saudosismo socialista arcaico e a virulência esquerdista e irresponsável do Bloco de Esquerda.
Quem votar Cavaco vota num português honesto, patriota, que se fez a si próprio com trabalho e mérito, experiente e com provas dadas. Um homem que foi primeiro-ministro três vezes, reconduzido com duas maiorias absolutas e que cumpriu já um mandato presidencial. Tem um conhecimento pessoal do que é ser Governo e do que é ser Presidente da República e nunca confundiu ou confundirá as águas. É um homem cujas competências são reconhecidas interna e externamente. A sua expressão eleitoral vai muito para além da direita e do centro. As suas maiorias exprimem a ponte que foi e é capaz de fazer entre os portugueses. É um homem mais de convicções do que de ideologias. Talvez por isso some e não divida. É o que Portugal precisa. Agora.
Maria José Nogueira Pinto, Diário de Notícias, 20-01-2011

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