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| Cristãos gritam palavras de ordem antigovernamental na Igreja de Todos os Santos, em Alexandria.  Foto: Asmaa Waguh/Reuters/DN  | 
Os cristãos são tão antigos no país que até a palavra copta deriva de  aeguptios, o velho termo grego para egípcio. E é nas suas missas que se ouvem os  sons da língua dos faraós, substituída no dia-a-dia pelo árabe desde a chegada  do islão no século VII. Que os assassinos que na noite de Ano Novo mataram  dezenas de crentes numa igreja de Alexandria desconheçam a história do país não  admira. Cegos pelo ódio, vêem os coptas como um corpo estranho ao Egipto. De  nada servirá explicar-lhes que, tirando as elites vindas com os conquistadores,  de Amr a Saladino e Muhammad Ali, os 80 milhões de egípcios de hoje descendem de  cristãos que ao longo dos séculos se converteram à mensagem de Maomé. O que  qualquer bom muçulmano sabe é que Jesus é uma figura do Alcorão, o Isa árabe, e  que o Profeta pediu tolerância com os crentes nas religiões do livro. Isso nem  sempre lhes garantiu a dignidade, mas permitiu que vivessem cristãos no mundo  islâmico, com o contrário então impensável na Europa.
Suspeitos numa era de fazer o jogo dos Cruzados, noutra de pactuar com os  impérios europeus, os cristãos árabes aproveitaram a emergência dos  nacionalismos no século XX para exibir o apego à sua terra. Não por acaso, o  fundador do panarabismo foi o sírio Michel Aflaq. E os cristãos deram também  figuras de destaque à causa palestiniana, do guerrilheiro Georges Habache até  Hanan Ashrawi, que chefiou a delegação da OLP às negociações de paz. No caso dos  egípcios, o orgulho nacional ultrapassou todas as barreiras quando o copta  Butros Ghali se tornou secretário-geral da ONU. Os tempos são de novo, contudo,  terríveis para os cristãos árabes. Do Eufrates ao Nilo, berços de civilizações,  de nada lhes vale partilhar a língua e a história com os vizinhos muçulmanos.  Grupos inspirados pela Al- -Qaeda matam e empurram para o exílio os fiéis de  Isa. No Líbano, estão protegidos pelo número e pela Constituição (são 40% e o  Presidente é sempre um deles), mas no Iraque multiplicam-se os atentados, como o  que fez 50 mortos em Novembro numa igreja de Bagdad. E no Egipto, onde por serem  oito milhões pareciam seguros, a tragédia de sábado mostrou que nada é  certo.
Os cristãos árabes têm forte tradição de emigração. Entre os seus está gente  como Carlos Slim ou Shakira. Mas por vontade dos extremistas islâmicos, o exílio  definitivo seria o destino de todos os cristãos do Médio Oriente. É essa a  chantagem que fazem. Com as bombas ditam: "Fujam ou morram." Contra esta ameaça  que empobrece o mundo árabe, exige-se aos governantes que defendam todos os  cidadãos como iguais. E desafia-se a esmagadora maioria de muçulmanos pacíficos  para que abandone a passividade e proteja os compatriotas. Se não por Isa, então  em memória de Maomé. 
Leonídio Paulo Ferreira, Jornalista, Diário de Notícias, 03-01-2011

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