A morte de Fidel Castro

PorquE Fidel Castro está mOrto 

Havana – Cuba

Armando Añel

Antes de explicar porque dou por certa a morte de Fidel Castro, quero me alongar na definição do que é uma “morte encefálica”, ou morte cerebral, que foi como a nossa fonte em Havana a definiu como tendo ocorrido na última quarta-feira, 10 de outubro, durante as primeiras horas da manhã. Como não sou médico nem especialista nesse tema, citarei várias vezes para deixar claro o conceito.

Alex Castro ao lado de uma foto do seu pai.

A morte encefálica é definida como a parada total e irreversível das funções e da atividade elétrica do cérebro. “A definição é aceita como um modo de considerar a pessoa como morta do de vista médico, ético e legal”, disse o doutor Gustavo Saposnik. “A lei hoje, na maioria dos países, institui o conceito de morte encefálica como de morte do indivíduo, o que implica na parada definitiva das funções cerebrais em função na morte do córtex e do tronco cerebral” (Scielo, revista de neurocirurgia). Assim, pode-se declarar clinicamente morto um indivíduo no qual inclusive o coração permanece batendo e o pulmão continua funcionando, embora sob algum tipo de suporte médico e do qual se podem remover órgãos com a finalidade de transplantes. A morte cerebral, conforme é hoje mundialmente aceito, “entendida como um método para o diagnóstico precoce da condição de cadáver de uma pessoa que foi submetida à reanimação, é eticamente aceitável sob a condição de que os parâmetros aprovados sejam aplicados com extremo rigor e profissionalismo”.

Por que se afirmou com tanta clareza que Fidel Castro está morto, ou que sofreu morte encefálica, como me perguntam nestes dias? Por acaso nossas fontes são infalíveis?

Suponho que nenhuma o seja, mas no caso em pauta se trata de uma pessoa com conexões nas altas esferas do politiburo cubano e cujas revelações por mais de uma vez temos constatado como sendo precisas. No passado, a Neo Club Press foi favorecida pelas informações dessa mesma fonte.

Esta é uma das razões, a principal, que nos levou a divulgar a notícia na quarta-feira passada, notícia que continuamos sustentando. A outra razão é posterior e dedutiva: Já se passaram cinco dias da anunciada morte de Fidel Castro, que já circulou amplamente pelas redes sociais, e em todo esse tempo o governo cubano não conseguiu provar que o ancião ainda vive. E como, pelo que sabemos, não há nenhum evento de tal repercussão com epicentro em Cuba que esteja interessado em atenuar Raúl Castro passando “a bola” da morte de seu irmão, é facilmente dedutível que não conseguem mostrar Fidel, como de fato ocorreu em outras ocasiões, simplesmente porque não podem.

Quero aqui esclarecer alguns dados a mais que reforçam a veracidade da notícia pura e dura, a maneira de uma abordagem pessoal. Um dos filhos de Fidel Castro, Alex Castro, assegurou na quinta-feira, no dia seguinte, à jornalista Arlin Alberty Loforte, em Guantánamo e durante a exposição fotográfica “El rosto da história”, que “o Comandante está bem, fazendo suas coisas diárias, lendo, e praticando seus exercícios”. Mas quando assistimos este vídeo, da mesma exposição, mas no México e no mês passado, Alex assegura praticamente o mesmo com relação ao seu pai: “Ele está muito bem de saúde, trabalhando, escrevendo livros, dedicando-se a transmitir seus conhecimentos às gerações mais jovens, a aconselhar as pessoas que estão atualmente no governo, e fazendo seus exercícios”. Un robô obrigado a repetir a lição aprendida incansavelmente. “A vida íntima de Fidel Castro é um segredo muito bem guardado durante muitos anos, como se ele vivesse num santuário onde não se pode tocar nem entrar”, disse. Será possível que nem os próprios filhos do ex-governante têm acesso ao seu cadáver?

Ademais, e o detalhe não tem importância, Fidel Castro não pode estar fazendo exercícios porque nem sequer é capaz de se sustentar de pé por si mesmo. Qualquer um pode comprovar isso assistindo este outro vídeo do mês de março último em Havana, durante a visita do papa Bento XVI. Observe-se como o octogenário não pode dar um passo sequer por conta própria, sempre sustentado por alguém ao seu redor. E se Alex Castro mente nesta questão dos exercícios – a não ser que os “exercícios” de seu pai consistam em movimentar os olhos e mexer os dedos –, como demonstram inquestionavelmente as imagens, por que não haveria de mentir em tudo o mais?

Não está morto? Pois então que o mostrem, que o façam falar algo, que o façam mover-se, na frente de todos. Que mexa pelo menos as pálpebras. É verdade que a morte de Fidel Castro já não é politicamente influente, pelo menos não como poderia ter sido há dez anos, mas lembre-se que são Raúl e seus lugares-tenentes os que o temem a ponto de ocultar a sua morte obsessivamente. Agora, depois de cinco dias de revelada na Internet, a pelota continua no campo do governo cubano.

Texto: Armando Añel, domingo, 14-10-2012

Tradução: Francisco Vianna