Tenho lido muitas críticas ao
ministro das finanças. Que corta muito, que corta pouco, que não aposta no
crescimento, que devia cortar nas gordura, que só sabe fazer contas, que não
sabe fazer contas, que não acerta nas previsões, que faz muitas previsões … A
maior parte destas críticas não são às opções de ministro das finanças, mas à
realidade. A realidade não nos convém.
Para uma crítica ao ministro
das finanças ser minimamente fundamentada tem que considerar em detalhe as
dificuldades de partida. Não deve haver muitos exemplos de ministros das
finanças que tiveram de lidar com um país que em simultâneo acumula um défice
externo insustentável, uma dívida externa elevada, bancos semi-falidos, estado
falido e sobredimensionado, um grande sector de bens não transaccionáveis
dependente da procura interna. Note-se que o problema não é apenas a falência
do Estado. A economia privada perdeu o seu principal cliente e tem que
desalavancar e reestruturar-se em simultâneo com o Estado.
Contrapor ao caminho seguido
por Gaspar uma alternativa idealizada e mitificada, não testada, é fácil.
Difícil seria implementá-la, contornando as barreiras constitucionais. E
qualquer alternativa teria sempre custos de transição. Como disse, não é fácil
reestruturar o Estado quando a economia privada está ela própria a desalavancar
e não tem capacidade para absorver as pessoas e os recursos transferidos. Para
cortar na despesa despedem-se quantas pessoas? É legal? Paga-se subsídio de
desemprego? Indemnização? Quanto custa? Quanto tempo demorarão essas pessoas a
ser absorvidas por uma economia que está a desalavancar e a reestruturar? Seria
necessário despedir 200 mil pessoas a custo zero para evitar um aumento de IRS
de 6%. Não reconhecer a existência de custos de transição numa reestruturação
do Estado torna muitas das críticas que se fazem a Vitor Gaspar gratuitas e
inconsequentes.
Título e Texto: João Miranda, Blasfémias,
19-03-2013
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