sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O país do baixo astral

José Manuel

Amanhã, sexta-feira, vamos completar mais uma semana de greve dos bancos.
Não dá nem para arriscar um jornalzinho noturno, pois o número de escândalos diários em todas as esferas governamentais é simplesmente de arrepiar.
No início do mês explodiu o escândalo do Ministério do Trabalho, com fraudes estimadas em 400 milhões.
Na semana passada mais um escândalo no sistema de fundos de pensões, que são instituições fiscalizadas pelo governo, fraudados em 300 milhões.

É praticamente um por semana, e começo a pensar se este povo já não está começando a se acostumar com tantos escândalos e não liga mais.
Deve ser isso, porque ninguém reage nem a uma greve de bancos que inferniza a sua vida, o seu cotidiano. É como se tudo isso fosse normal. E bota normal nisso, pois as fraudes são enormes e sempre acima de 100 milhões. Abaixo disso, deve ser para ladrões de galinha.
Se bem que os ladrões de galinha, atuais donos da mídia e que foram "liberados" pelo pessoal das capas negras, roubaram bilhões e também não aconteceu nada com eles. Normal.

Hoje em dia, como já estou calejado e imune a jornais, televisão e assemelhados, não sofro tanto, mas, de vez em quando, essas baixarias me pegam e acabo tendo que tomar um "Valium" para relaxar.
Agora mesmo, acabei de ler na internet, que aviões da Transbrasil, aeronaves de última geração, como os B-767, estão sendo retalhados e vendidos como sucata pela suave quantia de R$ 1,75 o quilo. Isso, num país decente faz qualquer um chorar. Aqui não, é comum.

Sobre os aviões da Varig e que eu voei nem vou escrever, pois somente num país baixaria se faz o que fizeram.

Enquanto isso, os hospitais, as escolas, as universidades públicas, são matéria impublicável, todos os dias.
Em compensação foram gastos até agosto deste ano, nada mais do que 17 bilhões de dólares no turismo externo. Com muito gosto.
Ora, se fizermos o câmbio, vamos chegar fácil a 35 bilhões de reais. Normal. A indústria estraçalhada e o comércio competindo deslealmente com Miami e Nova Iorque, começa a apresentar a síndrome do ninho vazio.
Você encontra lojas fechadas por todo o lado e passamos de uma economia crescente para uma falimentar. Normal, porque o " Black-Friday " tem mais pegada e a muamba é boa e certa.
Afinal, ninguém é de ferro e a grana está aí para ser gasta e os pacotes turísticos são cada vez mais apetitosos. Ano passado, a minha faxineira disse que ia fazer um cruzeiro marítimo, e desapareceu do trabalho.
Nunca mais a vi. Deve estar agora em Buenos Aires prestando homenagem ao túmulo da Evita.
Porque cultura é cultura e isso não há o que pague.

E a baixaria do Aerus, hein? Praticamente dois meses se passaram desde que nos enrolaram com papos de gabinete, nós vamos isso, nós vamos aquilo, e mais uma black-friday too black, sim, porque aqui no país da baixaria as sextas-feiras são pretíssimas, se aproximam e… nada!
E agora, José? Não vamos fazer nada? Igual à greve dos bancos? Nadica de nada?

Só tem uma coisa: nem saliva eu estou dispensando mais, porque tudo o que podia ser cortado eu já cortei.
Agora e em agonia, o meu estômago black-hungry começa também a reclamar, e com essa demora em ter uma solução e eu está ficando cada vez mais e mais black-angry e não sei se vou poder me controlar.

Ontem, também vi uma cena, sem querer, é claro, em um bairro carioca, em que os policiais pulavam por cima do lixo e subiam uma rua num morro atirando, enquanto uma mulher com a filha no colo, descia essa mesma rua calmamente. Normal
A cena me chamou a atenção e não canso de lembrar, pois a mistura de dois seres humanos em meio a um tiroteio de policiais, mais o despreparo deles sem capacete protetor, era algo surreal, digno de Buñuel.
Nada tão representativo de um país baixaria, como o que estamos vivenciando.

Ora, desde o 1º de janeiro de 2003 quando começaram a fabricar as bolsas-tudo para todos, os nossos amanheceres já não são mais como no resto do mundo.
A cada despertar a pergunta que nos fazemos é: qual será a notícia menos ruim do dia e até quando vamos poder suportar tamanha baixaria?
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 67 anos, Niterói, Brasil, 26-9-2013

Eu acho que o país é mais baixaria e vulgaria do que baixo astral...

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