domingo, 8 de dezembro de 2013

“Menos islamismo e mais soluções”

Os islamitas destroem a herança reformista e modernista tunisina, em nome de uma visão da religião que parou no tempo
Hatem Bourial

Onde quer que se encontre, a Irmandade Muçulmana rege-se pela mesma palavra de ordem que não é, senão, um credo e que se enuncia da seguinte forma: O Islão é a solução, o Corão é a nossa Constituição”. Dando a volta a este raciocínio circular, um diplomata ocidental inventou outra fórmula. Recupero-a como título deste texto: “Menos Islão, mais soluções!”, ou, se preferirem, menos discursos ideológicos envoltos em vestes religiosas e mais realizações económicas e sociais.

Islamização imposta de cima
Na realidade, as revoluções árabes de 2011 depressa se desviaram da sua essência económica e social, transformando-se em processos de islamização impostos do topo para a base e vice-versa.

Em vez de atacarem a área económica e de pegarem pelos cornos o touro do desemprego e dos desequilíbrios regionais, os islamitas no poder preferiram chutar para canto e ganhar tempo. Até ao limite máximo. Até à indecência. Ao ponto de, enquanto estavam entretidos com as suas politiquices, terem sido ultrapassados pela realidade que se recusavam a encarar.

No início, a revolução tunisina trazia consigo a esperança. Dois anos depois, transformou-se num pesadelo para muitos tunisinos, que ainda não compreenderam nem aceitaram aquilo que os vencedores das eleições de outubro de 2011 fizeram da revolução.

As tentativas de “sauditização” das mentalidades, a violência sob todas as formas, as milícias que não dizem o nome e a infiltração política nas mesquitas são outros tantos indícios da vontade do poder islamita levar a Tunísia a adotar um modelo que nunca foi o seu.

Querem apagar dois séculos, destruir a nossa herança reformista e modernista e dissolver a nossa identidade mediterrânica, com ditames vindos do Golfo e retransmitidos por islamitas cujo patriotismo é pouco escrupuloso.

Chegou a altura de afirmarmos alto e bom som: a Tunísia precisa de menos islão que cultive a intolerância e a violência e de mais soluções pragmáticas para construir finalmente um Estado moderno e social, sem ditadura e sem pobreza. E não me venham falar do dinheiro de Qatar.

Islão deve ser tolerante e aberto
A Tunísia deve ter outras prioridades, que não impor o uso do véu às mulheres, generalizar um ensino supostamente religioso, arregimentar os nossos filhos e mandá-los para as carnificinas da jihad.

O país precisa de menos Islão preconceituoso e mais soluções generosas. Precisa muito do seu Islão verdadeiro – tolerante, esclarecido, livre e aberto – que, esse sim, é veículo de soluções de modernidade. Tudo o resto não passa de populismo, mentira e demagogia.
Título e Texto (Excertos): Hatem Bourial, WEBDO
Tradução: Isabel Fernandes, Courrier Internacional, dezembro de 2013
Digitação: JP

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