Os islamitas destroem a herança reformista e
modernista tunisina, em nome de uma visão da religião que parou no tempo
Hatem Bourial
Onde quer que se encontre, a Irmandade Muçulmana
rege-se pela mesma palavra de ordem que não é, senão, um credo e que se enuncia
da seguinte forma: O Islão é a solução, o Corão é a nossa Constituição”. Dando
a volta a este raciocínio circular, um diplomata ocidental inventou outra
fórmula. Recupero-a como título deste texto: “Menos Islão, mais soluções!”, ou,
se preferirem, menos discursos ideológicos envoltos em vestes religiosas e mais
realizações económicas e sociais.

Islamização imposta de cima
Na realidade, as revoluções árabes de 2011
depressa se desviaram da sua essência económica e social, transformando-se em
processos de islamização impostos do topo para a base e vice-versa.
Em vez de atacarem a área económica e de pegarem
pelos cornos o touro do desemprego e dos desequilíbrios regionais, os islamitas
no poder preferiram chutar para canto e ganhar tempo. Até ao limite máximo. Até
à indecência. Ao ponto de, enquanto estavam entretidos com as suas
politiquices, terem sido ultrapassados pela realidade que se recusavam a
encarar.
No início, a revolução tunisina trazia consigo a
esperança. Dois anos depois, transformou-se num pesadelo para muitos tunisinos,
que ainda não compreenderam nem aceitaram aquilo que os vencedores das eleições
de outubro de 2011 fizeram da revolução.
As tentativas de “sauditização” das mentalidades,
a violência sob todas as formas, as milícias que não dizem o nome e a
infiltração política nas mesquitas são outros tantos indícios da vontade do
poder islamita levar a Tunísia a adotar um modelo que nunca foi o seu.
Querem apagar dois séculos, destruir a nossa
herança reformista e modernista e dissolver a nossa identidade mediterrânica,
com ditames vindos do Golfo e retransmitidos por islamitas cujo patriotismo é
pouco escrupuloso.
Chegou a altura de afirmarmos alto e bom som: a
Tunísia precisa de menos islão que cultive a intolerância e a violência e de
mais soluções pragmáticas para construir finalmente um Estado moderno e social,
sem ditadura e sem pobreza. E não me venham falar do dinheiro de Qatar.
Islão deve ser tolerante e aberto
A Tunísia deve ter outras prioridades, que não
impor o uso do véu às mulheres, generalizar um ensino supostamente religioso,
arregimentar os nossos filhos e mandá-los para as carnificinas da jihad.
O país precisa de menos Islão preconceituoso e
mais soluções generosas. Precisa muito do seu Islão verdadeiro – tolerante,
esclarecido, livre e aberto – que, esse sim, é veículo de soluções de
modernidade. Tudo o resto não passa de populismo, mentira e demagogia.
Título e Texto (Excertos): Hatem Bourial, WEBDO
Tradução: Isabel
Fernandes, Courrier Internacional,
dezembro de 2013
Digitação: JP
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