Maria João Marques
Temos um governo socialista, inimigo da
propriedade privada, pelo que a solução para os incêndios é encontrar uma
manigância para expropriar os terrenos aos proprietários, dando-lhes uso
comunitário.
Faço já a declaração de
interesses: não tenho nada contra festas, nem contra revistas cor-de-rosa, nem
contra ministros divertindo-se, nem contra fotografias de pessoas aperaltadas
em eventos sociais. Eu própria passei uma parte das férias num local com alguma
influência britânica onde ainda se valoriza o vestir bem para jantar, no fio da
navalha entre a formalidade e a informalidade. Percebo, portanto, que a
ministra da administração interna, Constança Urbano de Sousa, tenha decidido ir
a uma festa durante as férias e nela se tenha feito fotografar.
Mas a ministra não é uma
capitalista impenitente como eu. Detenhamo-nos, então, por momentos nesta
propensão que os socialistas têm, mesmo agora extremados à esquerda e adeptos
da luta de classes, de se aliarem a eventos com uma inegável frivolidade social
e a revistas de fofocas. Afinal os socialistas empedernidos nunca resistiram ao
luxo. Veja-se como os Castro celebraram a miséria cubana contratando Christian Louboutin para fornecer as fardas para os Jogos Olímpicos. Ou
Bernie Sanders, que prometia uma revolução socialista americana e acabou a comprar uma casa cara num lago idílico (os
Adirondacks, lá perto, são dos sítios que me estão atravessados na garganta
para visitar).
De resto, o comportamento da
ministra é consistente com o de António Costa, agora ‘chocado’, quase
lacrimejante (levem-lhe chá de verbena), mas que também se fez fotografar numa
praia algarvia, risonho e feliz da vida. Nem sei se este género de ação não
terá magicado pelas cabecinhas do PS que se supõem génios de estratégia
política. A mensagem seria inspirada em Pangloss: estamos no melhor dos mundos,
a governação está encarrilhada, como podem ver corre tudo tão bem que até nos
podemos despreocupadamente dedicar a festas e riso durante as férias. Afinal é
este governo que acredita nos poderes mágicos do otimismo, porventura depois de
terem lido meia dúzia de best sellers de autoajuda: se acreditares que vai
correr bem, então vai correr bem. E, se não correr, a comunicação social amiga
finge que sim e os papalvos dos eleitores pensarão que as suas desgraças
individuais não se replicam pelo resto da população.
Houve o problema do costume em
se tratando de um governo socialista: a realidade. Estava António a rir na
praia e Constança na festa cor de rosa quando já o país ardia como se não
houvesse amanhã. Que não tenham arrepiado a estratégia propagandística
‘ministros, festejemos ostensivamente a boa governação’, mostra uma falta de
senso e de noção e de respeito atroz e perturbante.
Claro que Constança Urbano de
Sousa teve de abandonar as suas festas cor-de-rosa para fazer controlo de
danos. Desde aí tivemos entrevistas da ministra quase todos os dias,
declarações à comunicação social, textos elegíacos sobre a senhora em jornais,
tentativas de culpar a União Europeia. E descobrimos que afinal a reação mais
ajuizada da ministra da administração interna aos fogos que consomem as
florestas é mesmo participar em festas.
Porque a ministra infelizmente
começou a propor coisas. Uma delas: pedir indemnizações aos incendiários. Como o incendiário típico não tem grandes
rendimentos, a ministra quer penhorar os vinte ou trinta euros que o
incendiário mensalmente receberá acima do salário mínimo (nos melhores casos) e
considera que isso é suficiente para pagar os prejuízos tidos com os fogos
postos. Avassalador.
Propôs mais, conquistando-me
de imediato o coração: a reforma agrária. Claro que agora a culpa dos fogos é da propriedade da
floresta – 90% privada. Se a floresta fosse pública passaríamos para tantos
fogos de verão como a Dinamarca. De resto, o estado é conhecido por cuidar com
enlevo da sua propriedade. É ver, por exemplo, como tratou bem (não!) do
edifício marcante da história do país, o Paço de Alcáçovas.
Ora como se pode levar a que
os privados tenham dinheiro para cuidar melhor das suas terras? Revendo os PDM,
que tantas vezes especificam usos para os terrenos decididos ao calhas pelos
burocratas da administração central e das câmaras, que efetivamente condenam os
proprietários a não lhes dar uso nenhum? Aqui é turismo, ao lado agricultura,
mais à frente reserva florestal, e se um proprietário tem algum projeto
diferente para o terreno, que ficaria cuidado e valorizado, é recebido com
hostilidade e obstrução na câmara municipal – que tal impedir isto? Garantir um
equilíbrio entre os interesses dos proprietários – a maioria pequenos e que não
têm meios para estudos de mercado nem acesso aos presidentes de câmara para os
convencerem dos benefícios das suas ideias – e os do ordenamento do território,
de maneira a que os donos tenham dinheiro para manter os terrenos com o mínimo
de combustível? Agilizar processos de partilhas, empancados nos tribunais, que
mantêm terrenos como terras de ninguém, anos a fio? Facilitar registos
prediais, se não mesmo fundi-los com os registos fiscais dos imóveis – em vez
de criar nova burocracia multiplicada com os ‘cadastros de proprietários’ (já
há dois)?
Nada disso. Temos um governo
socialista, inimigo da propriedade privada, pelo que a solução é encontrar uma
manigância para expropriar os terrenos aos proprietários, dando-lhes um uso
comunitário. Até parece que nem temos um estado a pagar empréstimos de
pós-falência, que tem dinheiro para pagar as indemnizações constitucionais a
quem é expropriado, e tesouraria abundante para gastar em mais floresta.
Constança Urbano de Sousa,
volte para as festas se faz favor.
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