Primeiro, recebi do portal “Notícias
ao Minuto”, edição Brasil (tem também a edição portuguesa com as mesmíssimas
características: títulos sensacionalistas, muitas vezes não correspondentes ao
texto!): Jornal francês 'Le Monde' questiona: golpe ou farsa?.
Depois, recebo do UOL, Opinião: Queda de Dilma ou é golpe de Estado ou é farsa.
Curiosamente, os dois jornais escrevem “farsa”.
Humm… não é segredo para ninguém que esse jornal francês é de orientação
ideológica esquerdista. Well, mas
tudo bem, então procurei o original do editorial em busca frenética da
afirmação “Queda de Dilma ou é golpe de Estado ou é farsa.” Achei algo parecido
na última frase do texto, eu disse, na última frase do texto. Já lá vamos.
Faço-a apelando aos meus conhecimentos da língua francesa, de improviso,
digamos. Isso quer dizer que porventura algum vocábulo pode ter,
gramaticalmente, um significado diferente do meu ‘improviso’.
“Primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff vive seus últimos
dias no cume (cúpula) do Estado. O resultado do seu processo de destituição,
aberto na quinta-feira, 25 de agosto, no Senado, não traz nenhuma dúvida. A
menos (que aconteça) um golpe de teatro, a protegida do bem-amado presidente
Lula (2003-2010), suspensa das suas funções em maio, será definitivamente
apeada do poder em 30 ou 31 de agosto.
Dilma Rousseff cometeu erros políticos, econômicos e táticos. Mas a sua
exclusão, motivada por acrobacias contábeis às quais ela se dedicou assim como
outros presidentes, não passará à posteridade como um episódio glorioso da
jovem democracia brasileira.
Para descrever o processo corrente, os seus seguidores evocam “um crime perfeito”. O impeachment, na
Constituição brasileira, tem todos os trunfos da legitimidade. (No original
está ‘atours’). Ninguém, na verdade, veio desalojar Dilma Rousseff, reeleita em
2014, pela força das baionetas. A antiga guerrilheira ela mesma usou de todos
os recursos legais para se defender, em vão. Impopular e inábil, Dilma
Rousseff diz-se vítima de um ‘golpe de Estado’ fomentado por seus
adversários, pela mídia, e em particular pela televisão Globo, às ordens de uma
elite econômica preocupada em preservar os seus interesses pretensamente
ameaçados pela sede de igualitarismo do seu partido, o Partido dos
Trabalhadores.
A ovelha negra de uma parte dos Brasileiros
Esta guerra no topo
desenrolou-se sobre um fundo de revolta social. Depois dos ‘anos felizes’ de
prosperidade econômica, de avanços sociais e do recuo da pobreza sob os dois
mandatos de Lula, chegou, desde 2103, o tempo das reivindicações econômicas. O
acesso ao consumo, a organização da Copa do Mundo, depois os Jogos Olímpicos
não eram mais de natureza a satisfazer o povo. Este queria além do ‘pão e jogos’:
escolas, hospitais, uma polícia confiável.
O escândalo em grande escala
do grupo da petrolífera Petrobras acabou por escandalizar um país maltratado
por uma crise econômica sem precedente. Em pleno desespero, uma parte dos
Brasileiros fez do juiz Sérgio Moro, responsável pela operação ‘Lava Jato’, o
seu herói e da presidente a sua ovelha negra.
A ironia é que se a corrupção
fez descer às ruas milhões de brasileiros nestes últimos meses, não será por
causa disso que cairá Dilma Rousseff. Pior: os artesãos da sua queda não são,
eles próprios, anjinhos. O homem que lançou o processo de destituição, Eduardo
Cunha, antigo presidente da Câmara dos Deputados, é acusado de corrupção e de
lavagem de dinheiro. A presidente do Brasil é julgada por um Senado, cujo um
terço dos eleitos é, segundo o site Congresso em Foco, objeto de investigações
criminais. Ela será substituída pelo seu vice-presidente, Michel Temer, portanto
suposto de estar inelegível durante oito anos por ter ultrapassado o limite
autorizado de despesas de campanha eleitoral.
O braço-direito de M. Temer,
Romero Jucá, antigo ministro do Planejamento do governo interino, foi desconcertado
em maio por uma escuta telefônica do mês de março na qual ele reclamava
explicitamente uma “troca de governo” para barrar o caminho da operação
judicial ‘Lava Jato”. Se não existe golpe de Estado, existe, pelo menos,
fraude. E as verdadeiras vítimas desta tragicomédia são, infelizmente, os
Brasileiros."
(S’il n’y a pas coup d’Etat,
il y a au moins tromperie. Et les vraies victimes de cette tragi-comédie
politique sont, malheureusement, les Brésiliens.)
Le
Monde, 26-8-2016
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