Nicolau Santos é homem para se ambientar
aos que forem, em cada momento, os donos disto tudo.
Eduardo Cintra Torres

Com 35 anos de jornalismo e
muitos de direção, Santos sabe da poda. É cordato, um democrata e exibe gosto
pela cultura. Há anos que reproduz um poema na sua página de opinião no
‘Expresso’. Não gosta, porém, apenas de poesia, aprecia também o aroma do
poder. É homem para se ambientar aos que forem, em cada momento, os Donos Disto
Tudo. É dos jornalistas que mais bem demonstraram nestas décadas a grandeza de
estar próximo dos poderosos. A sua extensa obra jornalística revela esse olhar
a sociedade de cima para baixo. Para a apimentar com preocupações sociais,
Santos era e é um "homem de esquerda", nacional virtude santa que
retoricamente desinfeta da proximidade com os poderosos e embala os leitores.
Aprendido o ofício na agência
ANOP, Nicolau lançou-se no jornalismo económico quando o vento começava a
soprar para o nosso capitalismo descapitalizado pelo PREC. Acalentado por
Cavaco e Soares, arrebitava o capitalismo amante do Estado que o DDT mais que
tudo, esse, o Espírito Santo, benzia.
Os salões do management
abriam-se a Nicolau, mas ele sonhava mais. Na pátria dos DDT, economia e
política confundem-se; também no jornalismo. Nicolau dirigiu o ‘Público’, mas
era este então demasiado independente. Assentou em definitivo, com a
naturalidade das coisas simples, no ‘Expresso’, que é a aorta do Bloco Central,
por onde circulam os namoros, arranjos e arrufos do Sistema. Faltava a
consagração do regime, e ela veio em 1996, quando foi erguido a comendador — e
logo com a comenda do Infante, o visionário descobridor. Em suma, Nicolau tem
pertencido às Instituições. Já merecia descansar das glórias.
Ia sair do ‘Expresso’, depois
de semana a semana incensar Centeno — e eis que o governo de Centeno o nomeia
presidente da única agência de notícias, um monopólio nacional. Nomeado no dia
em que sai do ‘Expresso’: é o coroar de uma carreira gloriosa no jornalismo
sistémico, convictamente de "esquerda", laçarote lançado pelos sábios
DDT à massa ignara que não entende poesia. Aceitou o sacrifício. Fica bem na
LUSA, válvula pulmonar do coração noticioso nacional. Com ele, o Sistema e as
Instituições fluem, sem síncopes e arritmias. Amém.
A ver vamos: Audiências em 2017 - Panegírico dos grandes líderes da RTP
O ano termina com uma ligeira
perda de audiência dos quatro canais generalistas, RTP 1 e 2, SIC e TVI. Os
canais privados estancaram a queda; a diminuição deve-se apenas à RTP 1 e 2. Os
canais do Estado confirmaram a tendência de perda dos últimos anos. A RTP 2
perdeu num ano um quarto dos seus espectadores. Embora seja o segundo mais
antigo canal nacional, sustentado pelos impostos dos cidadãos, estes viram-lhe
a cara e é hoje, incrivelmente, em audiência, o 12º canal no país.
No cabo, estão à sua frente
canais de informação, de filmes e séries e até dois canais infantis, quando a
própria RTP 2 dedica muitas horas a esse público. É este o remate de quatro
anos dos mandatos do Conselho Geral Independente (CGI) e da atual Administração
da empresa, anos que reiteram em glória as promessas estratégicas e os amanhãs
cantados pelos administradores à imprensa e ao parlamento. O meu conselho ao
CGI: renovem-lhes já o mandato, sem abrir concurso.
Título e Texto: Eduardo Cintra Torres, Correio da Manhã, 31-12-2017
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