Aparecido Raimundo
de Souza
MEU CORAÇÃO BRIGA
comigo o tempo todo querendo parar de bater dentro do meu peito. Sinaliza, num
silêncio cheio de gritos aterrorizantes, que quebrará o vínculo existente entre
nós sem prévio aviso ou carta de demissão. Senhor de si e fatível, imbuído numa
soberba coonestada e ímpar, o desgraçado não me dará tréguas. Apregoa com todas
as letras que me arranjará um infarto fulminante. Assim do nada. Eu acredito
nessa hipótese, como o óbvio se acasala ao remediar. Estou atado, desde muito,
como se vivesse numa cela das masmorras de Alcatras. Difícil sair vencedor. Meu
coração é um verdugo. Tem pavio longo e uma sede quase sexual de me tirar do
ar. E o fará, com certeza, no acaso de um momento em que achar conveniente. Aos
sessenta e seis, contabilizo como as leituras das crônicas de Luiz Fernando
Veríssimo, uma plêiade de chegados meus que deixou saudades.
Gente que fazia parte direta do meu relacionamento cotidiano. De repente
essas criaturas partiram no clima dessa contusão que a medicina descreve como
uma lesão tecidual isquêmica irreversível. Grosso modo, AVC. Por conta dele,
amigos e companheiros de anos de histórias vividas num mesmo andejar, como por
encanto, sumiram do pedaço. Viajaram assim como Paulo Amorim, Ariano Suassuna,
passagem só de ida. Partiram para algum lugar escondidinho, lá em cima, no
imensurável, como súditos fictícios de um rei que nunca mostra a face.
Assemelhado a um ligeiro piscar de olhos, meus caríssimos submergiram num
tsunami gigantesco e impetuoso de um mar revolto e bravio, como se estivessem
todos encordoados dentro de um barco muito pequeno e adinamicamente frágil e
valetudinário.
O certo, e o que de fato eu sei, ou melhor, o que me restou, não mais
que a percepção de entender aos trancos e barracos, que os meus simpatizantes e
fraternos, abismaram sem tempo para um bilhete de despedida. Sequer um grito,
um oi, um telefonema, uma mensagem no Facebook, ou um adeus, ou até breve de
duas ou três linhas no WhatsApp. Meu Deus! Não quero ser pessimista, ou
excessivamente arreado e vazio. Longe disso! Tampouco almejo fazer com que as
criaturas que me cercam tenham pena de mim, e em razão disso se prostrem ao meu
lado, deprimidas, conturbadas, amedrontadas, como pulgas com tempo de vida
curto em pelo de cachorro prestes a ingressar num pet-shop para banho e tosa.
Estou me preparando, todavia, para o momento fatal. Isso é necessário. O
alinhavo veloz se faz emergencial.
Para a aventura desconhecida com gosto de infelicidade, nada como se
antecipar para não ser pego de surpresa, de calças curtas. Morrer assim sem
aviso, para qualquer ser vivente, é uma enorme e desproporcional falta de
sorte. Uma tragédia que não aflorou devidamente anunciada. Deve ser chato,
maçante e desagradável não poder ir e vir a bel prazer dos próprios passos. Pior,
aterrador, amolante e enfadonho, não enxergar o mundo à volta. Martirizante não
gozar do vento batendo no rosto, desalinhando os cabelos, ou se deleitar com o
calor das ruas e praças apinhadas de sorrisos se abrindo em rostos afogueados
de futuro. Imagino ser insípido e intolerável não ouvir o canto dos pássaros, o
burburinho da vida plena se quadruplicando. Espero que nesse dia em que o meu
coração der na telha de me meter, goela adentro, o tal do infarto fulminante
estômago abaixo, me calar a voz, de vez, o céu esteja lindo.
De preferência, coberto de um azul inesquecível para que eu possa, ao
menos, me lembrar de onde quer que eu esteja, do bonito e gostoso, do
esplendido e mavioso que era tudo por aqui. E por que o azul? Não sei explicar
o motivo. Dizem os entendidos em percepções visuais (percepções essas
provocadas pela ação de um feixe de fótons sobre células especializadas da
retina), pelo exórdio dessa cor estar associada à frieza, a depressão e a
monotonia. No mesmo afinamento, aninhada à paz e consequentemente atrelada a
ordem e a harmonia. Sem tirar, nem destirar, tudo se enquadra esmerado em meus
dias de agora. Quero desde esse instante, e por conta desse incerto, amplexar
com braços enormes e carinhosamente meus filhos e netos. Dizer “eu amo vocês”.
Do mesmo modo, deixar cristalinalizado um “que bom que vocês fizeram
parte da minha vida”, às minhas ex-mulheres e companheiras (foram tantas!...) e
pedir perdão às ex-sogras pelas desgraças que causei às suas filhas. Igualmente
apertar as mãos dos vizinhos, tomar um cafezinho aqui, outro acolá, saudar
desconhecidos e estrangeiros, como se desses gestos simples e corriqueiros
dependesse a fraçãozinha da parcela maior para solidificar a minha extrema
unção de ingresso na sobrevivência do “em algum lugar”, delimite que eu
desconheço completamente o endereço, menos ainda precisar onde é, e em que
lugar se situa o meu ponto final derradeiro na complexidade desse planeta.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do Rio de Janeiro.
19-7-2019
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Nem sempre o critico.
ResponderExcluirÉ insofismável que por mais que não queiramos aceitar, a nossa morte é uma benfeitoria a natureza. Ela se regozija com a morte já que teimamos em destruí-la incansavelmente produzindo mais e mais humanos.
No passado vivíamos melhores, em 1800 tínhamos 1 bilhão e o próximo deu-se 33 anos depois. Após 1833 a cada 12 ou 13 anos fomos aumentando o bilhão.
Apesar do mundo tentar se conscientizar em 2026 teremos 8 bilhões.
Os ecologistas dizem daqui e dali PORRA NENHUMA sobre isso.
Quanto mais humanos menos natureza, menos animais silvestres, água e árvores.
Os espaços serão grande fazendas para produzirem alimentos e não haverá alimentos para todos.Eles não falam mas águas poluídas matam plânctons, menos plânctons, menos oxigênio. Coitadinhas das baleias protegidas que os consumem em toneladas.
O homem é o único predador de si.
7 bilhões de pessoas produzem 20 bilhões de quilos de lixo por dia.
5 bulhões de quilos de urina e merda por dia.
Sem calcular o que os PETs e a pecuária produzem.
Conheci Luiz Fernando Veríssimo, junto com Brizola, lá pelos idos de 1980, no meu DEMONÍACO tempo de IMBECIL SOCIALISTA.
Eu era assinante do jornal ZERO HORA desde que chamava-se última hora.
Adorava PAULO SANTANA até o dia em que se proclamou DEUS em sua crônica.
DEUS também morre, ou como escreveu NIETZSCHE:
- DEUS ESTÁ MORTO.
Infelizmente estamos a destruir nosso verdadeiro deus(a), GAIA.
FUI...
ADICIONANDO...
ExcluirEM 2018:
Apenas no Brasil, existiam 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães abandonados, segundo a Organização Mundial da Saúde.