sábado, 18 de julho de 2020

Um candidato no porão

O vice do fofo do século é uma confusão cognitiva e uma máquina de gafes. Para os democratas, só resta tentar escondê-lo

Ana Paula Henkel

Platitudes, frases feitas e o politicamente correto como guia. Aquela velha e costumeira pitada da ajuda da mídia e de gurus progressistas, que medem muito bem as palavras para encaixar o personagem em questão na narrativa da justiça social do momento, e, voilà, temos um candidato a presidente do Partido Democrata.

Esqueça políticas fiscais, domésticas, muito menos políticas internacionais que precisem ser debatidas. Expor emaranhados geopolíticos? Nem pensar. O antigo cenário da corrida presidencial norte-americana com debates históricos entre democratas e republicanos e suas políticas para os Estados Unidos e o mundo é parte do passado. Enquanto alguns republicanos continuam inertes diante das falácias plantadas contra a atual administração, a retórica de quem atualmente segue os trilhos da reverência de movimentos coletivistas continua sendo tocada como um disco arranhado. Disco que elegeu Barack Obama como presidente dos Estados Unidos por dois mandatos e agora quer eleger seu vice, Joe Biden [foto].


Para aqueles com autonomia na leitura da política americana, não é difícil perceber que o governo de Barack Obama passou muito longe da convincente oratória e do quase hipnotizante carisma do 44º presidente norte-americano. Obama, em sua figura presidenciável, até hoje consegue esconder as falhas e os vazios números de sua pífia administração. O legado de Barack foi uma América mais dividida, mais pobre, mais acorrentada às mãos do Estado, que cresceu como nunca, e de joelhos para alguns países em questões internacionais, inclusive inimigos históricos.

O negócio é surfar na onda do ex-presidente fofo e na aura de bom moço de Barack. E ficar quieto

Mas nada disso importa, Barack é fofo. E é exatamente nessa fofura e carisma que seu vice, Joe Biden, tenta pegar carona para se eleger presidente nas eleições de novembro deste ano. Esqueça as políticas econômicas ou sociais de real crescimento ou recuperação depois de uma pandemia histórica, o importante agora é pagar o santo pedágio ideológico de cada dia, surfar na onda do ex-presidente fofo e na aura de bom moço de Barack. E ficar quieto. Muito quieto. Em época da cultura do “cancelamento”, é melhor permanecer na névoa segura da imagem de um presidente popular e no silêncio dos covardes.

Enquanto o malvadão do século, Donald Trump, segue com foco nas políticas domésticas, principalmente diante do estrago econômico causado pela histórica pandemia, Biden pede a bênção da nova ordem e adota um discurso mais global, ressaltando questões como mudanças climáticas, macroeconomia e conflitos sociais e raciais, trazendo à tona o famoso “nós versus eles” e um caminhão de blá-blá-blás sem fim. Receita perfeita para o momento. Assim o caminho é garantido e nada pode dar errado, certo? Bem, falta combinar com Biden.

O vice do fofo do século é uma máquina de gafes. Biden pode ter se tornado famoso como vice-presidente do primeiro presidente negro da história americana, e, enquanto seu passado pode ajudá-lo, seu presente não está colaborando para o sonho de sair da sombra de Barack e tornar-se presidente. Joe, em sua atual campanha presidencial, vem dando declarações bizarras e fazendo inúmeros comentários inadequados. Disse, por exemplo, a um popular apresentador negro de rádio que, “se você tem algum problema para descobrir se vota em mim ou no Trump, então não é negro”. Claro que você não viu grandes manchetes ou repercussões sobre o episódio. Biden faz parte da turma do Beautiful People com selo de perdão de gafes e botão anticancelamento para comentários racistas, polêmicos, homofóbicos e até totalmente incorretos.

Biden parece viver em um estado mental muito confuso e chega a ser perturbador assisti-lo

Mas não para por aí. Biden, frequentemente, parece não conseguir terminar uma frase. Os nomes são vagos, as datas não batem e os números, muitas vezes, estratosfericamente errados. Biden parece viver em um estado mental muito confuso e chega a ser perturbador assisti-lo. Não é mais surpreendente quando o ex-vice-presidente diz algo indelicado ou comete uma terrível gafe que na boca de Trump seria, certamente, passível de um processo de impeachment. Em um dos debates das primárias democratas neste ano, por exemplo, para atacar Bernie Sanders e criticar as legislações sobre flexibilização no porte e posse de armas, Biden disse que 150 milhões de pessoas haviam morrido no país desde 2007, quando o oponente, como senador, ajudou a passar tais leis. Metade da população norte-americana dizimada desde 2007. Uau. Mas não ria apenas com um exemplo como este. Basta uma rápida visita ao Google para encontrar uma lista quase infinita de gafes e absurdos falados por Joe Biden de fazer inveja até a Dilma Rousseff.

Para Biden, só resta a inserção de respostas memorizadas em perguntas ensaiadas. Mas há problemas em esconder o candidato e deixá-lo apenas repetindo os enlatados para a turba progressista — mesmo quando ele, aparentemente, anda à frente de Trump nas recentes pesquisas eleitorais. Apesar do novo e agitado mundo virtual, em que a sociedade passa boa parte do tempo, os eleitores ainda votam em pessoas e propostas para a vida real. Uma campanha virtual para um candidato presidencial virtual vai atingir seu prazo de validade. Biden subiu nas pesquisas, é verdade, mas muito porque o público não tem a oportunidade de vê-lo ou ouvi-lo. Até Obama, o fofo, em um momento impopular do Partido Democrata em 2016, tentou desaparecer, mas teve de emergir da dura vida nos campos de golfe e se render aos holofotes da mídia. Ele descobriu que, quanto mais se afastava dos olhos do público, mais o público gostava da velha ideia. O modelo “fantasma” também poderia funcionar para Biden. Ele, até aqui, é um candidato virtual que não está na linha de frente das análises incômodas e da guerra cultural que envolve derrubadas de estátuas, protestos, policiais e coronavírus — não pode, portanto, ser responsabilizado por coisa nenhuma.

Um fantoche, se eleito, pode permitir uma passagem para um substituto da esquerda mais radical para a Presidência

Os democratas sabiam que perderiam com Elizabeth Warren, Kamala Harris ou Bernie Sanders se um deles fosse o candidato a encarar Trump. As primárias democratas, pesadas nas retóricas das políticas de extrema esquerda, ensinaram isso muito bem ao partido. A agenda da ala radical democrata, que deixa qualquer membro do Psol orgulhoso, não chegou a lugar algum — e não chegaria —, principalmente depois de a população acompanhar durante semanas a fio os protestos com incêndios criminosos, saques e muita violência em todo o país.

Esta talvez seja uma das eleições mais importantes da história dos Estados Unidos, em que muitos valores e princípios estão em jogo. Não se engane. Um fantoche, se eleito, pode permitir uma passagem para um substituto da esquerda mais radical para a Presidência. Uma versão virtual de Biden, ancorada nas narrativas fofas progressistas de bem-estar social e preocupação com o meio ambiente, oferece o perigoso verniz da “moderação” para políticas radicais que, se implantadas, sem dúvida afetarão importantes pilares de sustentação não apenas dos Estados Unidos, mas do mundo.

É óbvio que, para um candidato à Presidência da maior potência mundial, a pandemia não deveria ter sido impedimento para entrevistas, discursos e aparições na TV. Mas, cada ocasião, por mais roteirizada, ensaiada e enlatada, só oferece mais provas diárias de que Biden é cognitivamente incapaz de ser presidente ou de exercer qualquer cargo. Para os democratas, só resta alimentar o caos, obstruir a recuperação econômica e esconder Biden no porão até o dia das eleições.
Título e Texto: Ana Paula Henkel, revista Oeste, 17-7-2020, 9h30

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