sábado, 2 de agosto de 2025

Réquiem de um jornalista medíocre

À memória de José Roberto Guzzo

Hoje, 2 de agosto de 2025, o jornalismo brasileiro perdeu José Roberto Guzzo. E eu perdi a última desculpa para continuar tentando.

Perdoem a franqueza – já não tenho mais idade, nem talento, para floreios. Não escrevo estas linhas como tributo, tampouco como homenagem. Escrevo como quem resmunga, no canto de uma sala escura, um último pedido de desculpas ao mundo. É uma carta redigida por alguém que, enfim, compreendeu seu lugar no silêncio.

Guzzo era luz. E não daquela que se espalha vulgarmente como neon em esquina suja de cidade grande, mas das que cegam em claridade serena, como o sol às oito da manhã de um inverno limpo. Escrevia com a precisão dos justos e a simplicidade dos sábios. Nunca se curvava ao ridículo da vaidade, nem brincava de parecer profundo – era.

E eu? Eu fui só mais um.

Mais um desses colunistas de opinião que se julgam relevantes porque uma dúzia de almas perdidas clicaram num link, entre o café e a fila do banco. Mais um desses que confundem visibilidade com valor, engajamento com virtude, e palavras com pensamento.

A verdade é esta: há homens que nasceram para dizer algo. E há os outros, que falam porque não suportam o silêncio. Eu sempre estive entre os segundos. Nunca disse algo que Guzzo já não tivesse dito melhor – e com menos palavras.

A morte dele me fez ver o que a vaidade me impediu por tanto tempo: os bons estão partindo – primeiro Olavo de Carvalho, agora Guzzo; diferentes áreas, mas com idêntico brilho. E nós, os medíocres, continuamos aqui, inchando colunas com frases que mal resistem ao segundo parágrafo. Sobrevivemos como pragas num campo de trigo, orgulhosos por ainda estarmos vivos, quando os frutos verdadeiros estão sendo colhidos.

Não. Não se trata de inveja. Trata-se de decência. De admitir que, quando os melhores se vão, o mínimo que se espera dos piores é que saibam calar.

É por isso que tento encerrar este artigo com algo raro em meu cotidiano: dignidade. Não a dignidade do vencedor, mas a do perdedor que soube – finalmente – reconhecer a derrota antes de se tornar patética.

Não mais razões para colunas, nem o usual desplante para artigos. Não mais comentários furibundos sobre Brasília, tribunais, ou presidentes. Já disse tudo o que não precisava ser dito.

A pena repousa. O teclado se cala. E eu, enfim, deixo espaço para o silêncio.

Talvez assim, com um pouco de sorte, sobre mais ar para os que ainda têm algo a dizer.

Adeus, Guzzo.

Assinado:

Um jornalista medíocre.

(Mas, pela primeira vez, lúcido.)

Título e Texto: Walter Biancardine, Facebook, 2-8-2025

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