terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Vale a pena? - A história de um Mané Pato (III)


ENVELHECER COM DIGNIDADE!

Esta é a breve história de um cidadão, brasileiro, idoso, de classe média, ex-mecânico de aeronaves, que, lamentavelmente, também é aposentado. Para muitos, a aposentadoria não é um fato a se lamentar: ao contrário, aposentar significa usufruir pelo resto da vida, de tudo que foi conquistado durante décadas de trabalho duro, principalmente, se além da contribuição obrigatória ao INSS, o cidadão contribuiu também, durante longos anos, para um plano de previdência complementar.

Para o nosso personagem, que chamaremos muito apropriadamente de Mané Pato da Silva, no entanto, a aposentadoria, ou aquilo que ela representa, tornou-se uma fonte de insatisfação, além de uma situação de extremo risco para sua vida, já que o estresse a que se submete diariamente por sentir-se incapaz de reverter um quadro de enlouquecedora injustiça e abandono, torna-o potencialmente, um infartado, segundo opinião médica. 

Por uma questão de hábito, Mané Pato mantém sua conta corrente no mesmo estabelecimento bancário, há trinta anos. A agência fica bem próxima ao Aeroporto de Congonhas, que foi seu local de trabalho, também, por três décadas.

Mané Pato deixara a agência bancária há menos de 15 minutos, sentando-se sobre a pequena mureta de concreto que acompanha a Av. Washington Luiz, sentido bairro/centro, por mais ou menos cinquenta metros, desde a base da pequena passarela que serve de ligação entre as duas margens da movimentada avenida. Ele não podia evitar as lágrimas, que espelhavam todo seu abatimento e tristeza, além da profunda melancolia pelo que perdera em um passado recente! A dignidade pessoal ainda estava presente, porém, já dava sinais de esmaecimento, já que não podia vislumbrar em curto prazo, uma solução favorável para o seu drama, e certamente, soluções de médio e longo prazo não lhe trariam qualquer desafogo, aos 67 anos de idade.

Olhando para as modernas instalações do Aeroporto, sentiu-se dominado por uma irresistível onda de melancolia nostálgica! O ano era 1960, e o local, o mesmo; mas certamente 48 anos menos moderno! Mané Pato contava então, dezoito anos de idade, e se inscrevera em um concurso promovido pela Real Aerovias que selecionaria jovens para a formação de novos mecânicos de aeronaves. Os jovens selecionados seriam submetidos a um curso específico, com a duração de três anos, após o que, passariam a integerear o quadro funcional da empresa, como mecânicos de aeronaves.

Mané foi aprovado! Receberia durante o curso, além de alimentação, uma pequena ajuda de custo para as despesas pessoais. Ele era filho único, e morava com os pais, na mesma casa onde hoje vive com a esposa Manezinha, ali bem pertinho, em uma travessa da Rua Tamoios. Por isso, imaginava poder frequentar o curso sem grandes mudanças; o destino decidiu, porém, o contrário. A Real Aerovias foi encampada pela Varig durante seu primeiro ano de curso, e Mané teve que se mudar para Porto Alegre, para dar continuidade ao aprendizado, pois já escolhera a profissão de mecânico de aeronaves como sua ocupação definitiva.

Durante trinta e cinco anos, excetuando a morte dos pais, tudo correu muito bem para Mané Pato, tanto em sua vida profissional quanto pessoal. Após seu casamento com Manezinha, a pedido dos pais, que reclamavam da futura solidão pela sua ausência, continuou a residir em companhia dos "velhos". Com a morte de ambos, ocorridas em 1982, Mané Pato, a esposa, e o casal de filhos, tornaram-se proprietários da modesta, porém confortável, e bem localizada residência.

O drama de nosso herói, certamente não envolvia somente questões financeiras, pois, bem ou mal, Mané Pato e a esposa podiam sobreviver com os vencimentos da aposentadoria oficial (INSS), somada aos 10% da suplementação que ainda recebia, sabendo-se, que esta poderia cessar definitivamente, a qualquer momento. As lágrimas, de ácido sabor, que sentia escorrerem por sobre seus lávios, enquanto conferia o extrato bancário que tinha nas mãos, eram de revolta e indignação, talvez consigo mesmo, por ter acreditado nas falsas promessas de empresários e representantes do governo, que garantiram segurança nas aplicações mensais que fazia em seu plano de aposentadoria suplementar, e que no entanto, não foram confirmadas, após a decretação da liquidação extra judicial dos planos que deveriam complementar de forma vitalícia, seus rendimentos.

Lembrava-se nitidamente do distante ano de 1982, mais exatamente do dia em que o chefe de seu departamento, após participar de uma reunião, convocada pela Diretoria, reuniu todos os seus subordinados - eram mais de cem - fazendo o pedido, que mais pareceu uma ordem, para que todos aderissem ao plano de Previdência Complementar que seria criado dentro de 30 dias, e que viria trazer a todos, os benefícios da complementação das aposentadorias concedidas através do INSS.

- Todos nós sabemos - começava com ar solene, o seu discurso - que existem restrições nos valores da aposentadoria oficial do INSS, que não concede a ninguém, o mesmo valor do salário que recebe enquanto ativo! Por isso, conforme permite a legislação, as empresas aéreas, dentre elas a nossa Varig, decidiram criam um plano de previdência complementar, que será administrado por uma entidade sem fins lucrativos, denominada Instituto Aerus de Seguridade Social! Não podemos perder esta chance única de garantir o nosso futuro, assim como o de nossos filhos!

Precisamos de todos vocês, pois para concretizarmos este sonho, é necessário que haja a adesão de pelo menos 50% do quadro de funcionários. O chefe determinava a distribuição, ao final do discurso, de um livreto de propaganda do Aerus, do qual, Mané guarda ainda, de viva memória, algumas imagens com desenhos coloridos e textos alusivos, como por exemplo:
"O AERUS chegou para garantir um melhor futuro para você e sua família. Você, que está no caminho de sua vida profissional, pode e deve, desde já, conquistar seu lugar no amanhã, garantindo sua presença com segurança".

O AERUS começa oferecendo a vantagem de uma pequena participação, em troca de muita segurança. Você pode começar já, como participante de uma instituição geradora de poupança indispensável ao desenvolvimento do pais "O AERUS é algo útil, que nos garante! Algo que resiste ao tempo, e estabelece as bases de um futuro de paz. No AERUS, todos nós (e nossos dependentes), estaremos mais e melhor protegidos em todos os momentos da vida"

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