quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vale a pena? - A história de um Mané Pato (IV)

Vale a pena? - A história de um Mané Pato (III)


Mané, que havia se casado com Manezinha há dezessete anos, e era pai de um casal de adolescentes, estando baseado em São Paulo, onde exercia o cargo de supervisor na área de revisão de motores da Diretoria de Manutenção, aderiu, como todos os demais, ao plano de previdência complementar que seria administrado pelo Aerus, sabendo de antemão, que se quisesse auferir uma complementação real de seu salário quando se aposentasse, teria que contribuir com um valor significativo, que viria certamente, afetar diretamente o orçamento doméstico, porém valeria a pena, pensou.

Mané era muito inteligente e perspicaz, o que o tornava também, um excelente profissional, cujo valor sempre fora reconhecido pelos seus superiores. Em razão dessas qualidades, Mané conseguiu grandes progressos em sua área. Participou de inúmeros cursos de de aperfeiçoamento profissional, no Brasil e no exterior, e acabou encerrando a carreira na Varig, em 1995. Aposentou-se no cargo de Gerente Operacional de Manutenção, e a honra de pertencer também, ao Colégio Deliberante da Empresa, principal órgão decisório, vinculado à Fundação Ruben Berta, detentora de mais de 90% das ações da Varig.

Mané sentiu nos primeiros meses, muita saudade de seu trabalho, principalmente dos amigos fiéis, e colegas de longa data; no entanto, sabia que seu ciclo profissional chegara ao fim. Como consolo, receberia uma bela aposentadoria, já que o valor do pecúlio parantido pelo INSS, seria acrescentada a complementação do plano que pagava há quase quinze anos, garantindo-lhe salário praticamente igual ao que recebia quando em atividade, equivalente a 20 salários mínimos de então, por mês.

Mané sempre fora parcimonioso nos gastos, investindo parte do salário no mercado de ações, pois planejava adquirir no futuro, uma casa em sua cidade natal, no interior de estado de Minas Gerais. Com a aposentadoria, o sonho se realizou! O dinheiro poupado durante longos anos foi suficiente para adquirir o terreno e pagar um terço do valor da construção, cujo custo seria um pouco elevado, já que a casa de seus sonhos deveria possuir acomodações amplas e bem distribuidas, que pudessem abrigar nas férias ou feriados prolongados, toda a sua família, que já não era tão pequena, contanto agora, além dos filhos, com a nora, o genro, e quatro netas. Naturalmente não poderiam ser esquecidos, a piscina e o quintal, onde pretendia plantar algumas árvores frutíferas e hortaliças.

A casa foi construída exatamente conforme planejado, no entanto, Mané teve que assumir uma dívida de pouco mais de R$80 mil, que deveria ser quitada em parcelas mensais de R$ 2 mil. A dívida não assustou, pois afinal, Mané recebia então, somente de complementação da aposentadoria, perto de R$ 4 mil! Foi nesse clima de amena euforia que a casa foi inaugurada com uma pequena festa, em junho de 2005.

O sonho, porém, não durou muito! Em abril de 2006, Mané foi surpreendido com uma notícia dada pelos jornais televisivos; a mesma que receberia dentro de alguns dias, através de correspondência remetida pelo Instituto Aerus. A notícia dava conta de que a Secretaria de Previdência Complementar, órgão oficial do Ministério da Previdência, criado para fiscalizar os planos de Previdência Complementar Fechados, havia decretado a liquidação dos planos Varig, por falta de recursos que deveriam garantir o pagamento vitalício dos aposentados.

Embora um pouco atordoado, Mané não acreditava que deixaria de receber sua aposentadoria integral! O Aerus era uma entidade séria, legalmente registrada como administradora dos planos Varig, portanto, certamente o governo garantiria em última instância, os seus rendimentos, pois afinal, pagara muito, e por muito tempo, para isso! Mané já sabia que a Varig não estava em boa situação financeira, porém, jamais poderia imaginar que isso pudesse afetar sua aposentadoria, já que, segundo prometido, para cada aposentado, existiria uma "caixinha" representando o seu saldo, investido no mercado financeiro e imobiliário.

Mané estava enganado! O governo não garantiu nada, e sua aposentadoria foi minguando rapidamente, até chegar a receber do Aerus, o equivalente a somente 10% do que receberia anteriormente.


Várias vezes o filho, Manezinho, que era advogado atuante na área tributária, havia oferecido ao pai, seus préstimos! Não só para ajudar a pagar as dívidas que se acumulavam, e que ameaçavam a propriedade do interior, que as netas chamavam carinhosamente de "A Casa de Minas", como para investigar as verdadeiras causas da situação criada com a quebra da Varig, e analisar as possibilidades de recuperação de sua aposentadoria integral.



No momento em que teve que vender a "A Casa de Minas" e se condoer enormemente com os soluços de Manezinha, e as reclamações quase histéricas das netas, Mané decidiu aceitar a ajuda do filho; não financeira, porém, para estudar e fornecer-lhe um diagnóstico da real situação de seu plano de previdência complementar, assim como, das chances que teria, de recuperar seus direitos de pensionista.

O filho e advogado Manezinho Pato, estudou e investigou, trocando idéias com colegas mais experientes que atuavam na área previdenciária, e levou a conclusão ao pai, após um almoço de domingo.

- Pai, acho que o senhor não vai gostar das notícias - iniciou com ar lúgubre, Manezinho.
- Tranqüilize-se filho! Certamente nada mais será surpresa para mim, exceto as notícias boas, e estas, já sei que não vou ouvir, não é mesmo?
- Infelizmente, é isso mesmo, meu pai - sentenciou o filho.
- Vamos Manezinho, desembuche logo! Vamos!
- Na verdade, existe sim, uma boa notícia. Não exatamente alvissareira, porém, poderá lhe trazer a satisfação de ajudar mais de seis milhões de brasileiros. Isto não é bom?
- Claro, meu filho! Diga lá do que se trata - respondeu sôfrego e ansioso, Mané Pato.
- Os seis milhões de brasileiros aos quais me referi, são os pequenos investidores em planos de previdência privada complementar abertos ou fechados, que certamente não têm a mínima noção do risco que podem estar correndo, ao aplicar pequenas parcelas de dinheiro todo mês para receberem de volta essas mesmas aplicações em forma de pecúlio, para si mesmo, ou para os filhos, depois de dez ou vinte anos.


- Mas, Manezinho, meu plano de previdência, que é fechado, é diferente dos abertos,
- Um pouco diferente, quanto ao patrocínio, que não existe nos planos abertos, porém, na essência, é exatamente igual, e corre os mesmos riscos. Se o senhor tiver um pouco de tempo para me ouvir, vou explicar tudo direitinho. não é?


- Na verdade meu filho, eu havia já contado a alguns colegas, também aposentados do Aerus, sobre o pedido que lhe fiz. Por isso, se você não se importar, gostaria de reuni-los aqui em casa, ainda esta semana, para que todos possam ouvir o que você tem a dizer, e também, tirarem sua dúvidas. É possível?
- Claro meu pai! Claro.


Próximo:
Vale a pena? - A história de um Mané Pato (V)

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