segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vale a pena? - A história de um Mané Pato (VII)

- Viram como não há nenhuma garantia oficial de que todos os seis milhões de brasileiros que aplicam no sistema de previdência complementar, em diversas corporações bancárias e securitárias, receberão seus pecúlios, exatamente na proporção que foi combinado, daqui a dez ou vinte anos?

- No caso do Aerus, todos vocês aplicaram muito dinheiro no fundo de aposentadoria, por quinze ou vinte anos, certo? E agora? Estão recebendo os valores corretos? Claro que não! Estão recebendo somente, de 10% a 50% do que foi combinado, não é mesmo?
- Bem, Doutor, gostaria que o senhor nos explicasse com mais detalhes, o que aconteceu com o Aerus e, no caso da preevidência complementar aberta, porque o senhor acha que a garantia dos bancos onde aplicamos não é suficiente? - perguntou um pouco surpreso pela novidade, Mané Pato II.
- Certo, vamos por partes:
- O Aerus é uma entidade que foi criada com o objetivo único de administrar os recursos dos participantes, que eram todos funcionários de empresas aéreas, assim como da parte patronal, para garantir a suplementação quando cada um se aposentasse.

- A Varig, como patrocinadora, representava o mesmo papel que representam os bancos e as seguradoras no caso dos planos abertos de aposentadoria complementar. A Varig recebia dos funcionários, através de desconto em folha, as contribuições, e as repassava ao Aerus, acrescidas de sua quota parte, o que garantiu a saúde dos planos, até por volta de 1993.

- Assim como a Varig garantia com seu patrimônio a continuidade do plano. Os grandes bancos e seguradoras, onde o investidor coloca suas contribuições, garante como vimos, sem ajuda do governo, a boa administração dos recursos que se tornarão patrimônio do fundo, que por sua vez garantirá o pagamento dos pecúlios daqui a dez ou vinte anos.

- Parece tudo perfeito, não é mesmo? Os bancos são fortíssimos e têm auferido lucratividade absurdamente grande, com o que têm experimentado crescimento fantástico! Então, o que temer?
- Aparentemente não há o que temer, porém, se lembrarmos, por exemplo, que a Varig, que até o final da década de 80, monopolizava integralmente o transporte aéreo internacional no Brasil, possuindo para tanto , mais de cem aviões, a maioria de grande porte, e voava para os cinco continentes do mundo, foi reduzida a pó, mediante uma simples "canetada" do Presidente Collor, devemos ficar atentos às grandes corporações que evoluem a olhos vistos, sob os olhares protetores do governo.

- Como assim? - quis saber o pai.
- Simples! O ímpeto progressista/modernista do Presidente Collor, que assumiu o governo em 1990, e que chegou a justificar a abertura total do mercado internacional de automóveis em nossa terra, dizendo que os veículos aqui fabricados, se comparados com os europeus, mais pareciam "carroças", também se arvorou pelo setor aéreo, quebrando a hegemonia da Varig, ao autorizar vôos internacionais para outras empresas brasileiras, e ao mesmo tempo, admitir a recíproca de gigantes estrangeiras, como a United e a American Airlines.

-Temos que admitir, naturalmente, que a administração da Varig, demonstrou pouca competência para enfrentar a crise; insistiu em manter o conhecido paternalismo implantado por Ruben Berta, desde o final dos anos quarenta, demorando excessivamente para tomar medidas acauteladoras de economia e austeridade, o que lhe foi fatal!

- A partir do início dos anos 90, a Varig deixou de contribuir para o Aerus! Também deixou de repassar os valores descontados dos participantes, na folha de pagamento, o que caracteriza o cometimento de crime de apropriação indébita. Embora o assunto seja importante, gostaria de voltar a este tópico somente um pouco mais tarde, pois, agora, seria melhor demonstrar os riscos reais de grandes empresas ruírem, até com certa facilidade, como aconteceu com oa Varig, considerada por muitos, como verdadeiro símbolo nacional que jamais sofreria um revés tamanho, a ponto de desfazer-se, pois certamente o governo a socorreria, em nome desse símbolo, que a mesma representava, aqui, e lá fora, mas como se sabe, o socorro não veio!

- Mas os bancos são diferentes, não são ?
- Gostaria de dizer que sim, mas infelizmente não são.
-Mas, falemos ainda da grande Varig:
-Tenhamos em mente, uma importante e verdadeira premissa a respeito da criação e evolução de grandes corporações, no Brasil:
"Um empreendimento, organização, ou segmento corporativo , torna-se grande, se, e somente se, obtiver proteção governamental, direta ou indiretamente, legal, ou ilegalmente".
- Com a Varig não foi diferente. Caindo nas graças dos militares, durante a ditadura, a Varig foi, curiosamente, beneficiada por três fatos que podemos considerar como inusitados.

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